Jornalista é uma raça do inferno. Nos bastidores, muitos coleguinhas queridos torcem o nariz diante do fato de eu ser editor de dois sites (em breve reformulados) sem ter diploma de jornalismo nem de qualquer outra coisa. Tempos atrás, um sujeito até comentou no Pérolas que eu ficava “pagando de jornalista gatinho” nas coletivas de imprensa. Confesso que cheguei a me incomodar com isso, tanto que até me esforcei ao máximo para passar no processo seletivo da Uninove (com o Bernardinho fungando no meu cangote).
E eis que hoje, por acaso, descubro que Ricardo Feltrin, editor-chefe da Folha Online, não é formado em jornalismo nem em nada. Assim como eu, começou várias faculdades e não concluiu nenhuma.
Então eu digo: se ele pode, eu posso. Foda-se o corporativismo besta dos jornalistas que se acham sacerdotes. Vou lá fazer a tal faculdade só porque eu sei que os idiotas sempre vencem, e que mais cedo ou mais tarde algum deles vai pular na minha frente exigindo o documento. Que será apresentado depois que eu limpar a bunda com ele (o diploma, não o idiota).

Fui no início da semana ao evento de lançamento do Windows Vista, do Office 2007 e da nova versão do Exchange. Aquele oba-oba todo da Microsoft, shows de luzes no palco, apresentações que pareciam aqueles comerciais de aparelhos para perder a barriga, presença de Gabriel O Pensador e promessa de um show do Skank à noite (não fiquei para ver). Na hora da coletiva, uma mochila para cada jornalista.
Abri minha mochila para apanhar os press releases e notei lá dentro um embrulhinho. Como bom jornalista blasé, ignorei. É parte da etiqueta da coletiva: ninguém abre o pacote do jabá ali na hora, como se nem estivesse ligando. Assim que o jornalista entra no táxi, sai rasgando tudo que é embrulho pra ver o que ganhou. Pois bem: eu passei a coletiva toda na expectativa desse momento. Lançamento, Microsoft, infra-estrutura gigantesta, e “Windows Vista de graça” era tudo em que eu pensava.
A coletiva correu bem, no táxi eu nem lembrei do embrulho, e só de volta à redação lembrei de abrir o pacote. Vejam só de que se tratava:

Eu piso na Microsoft

Tem jornalista por aí que ia reclamar, dizer que é um absurdo, que a Microsoft dar a cada um uma licença de seu novo sistema operacional seria apenas “trivial” (depois eu conto essa história). Eu não: fiquei feliz pra caralho e passei a terça-feira trabalhando calçado de havaianas do Bill Gates.

E acabo de descobrir que até a Microsoft anuncia no Adsense. Shhhhhhhh…

Uma empresa só tem espaço para UM blogueiro estrelinha. Eu ocupava esse posto por aqui. Ocupava. Ao que tudo indica, o Edu agora quer disputar os holofotes comigo. Todo dia vem nego me dizer que ama o Pérolas, que é muito legal, que não sei o quê. Cambada de jornalista baba-ovo, vai tudo pro inferno.

Puta que pariu, vai tomar no cu.
Esse negócio de trabalhar pros outros é coisa de corno. Alguém aí tem uma idéia maluca pra ganhar dinheiro e largar a vida de peão? Tô acreditando em qualquer merda.

Após esse escatológico desabafo, um vaso sangüíneo se rompeu no cérebro do autor, que agora apenas baba e sorri.
BlogBlogs.Com.Br

“Estamos no mesmo fuso horário que os americanos”. Esse, vejam que coisa triste, é o principal argumento dos executivos brasileiros para a crença na transformação do país num grande centro global de offshore, especialmente para desenvolvimento de software. Explico: empresas de países desenvolvidos perceberam que o processo de criação de programas de computador poderia ser desmembrado, e a parte mais chata do trabalho feita por profissionais cuja hora de trabalho custa muito menos do que na sede dessas empresas. Índia e China despontaram como potências do offshoring. Como esses dois países ficam do outro lado do mundo, os brasileiros se saíram com essa: estamos aqui do lado, mesmo fuso, é só ligar e nós atendemos. Pergunte a um desses executivos por que, então, o país não abocanha sua fatia desse mercado. Xi, é uma choradeira danada: é o governo que não apóia, é a carga tributária, são os encargos trabalhistas, são os gringos que não confiam na gente, é Deus que se esqueceu de suas origens e virou americano.
Nunca entendi esse negócio do fuso horário. Porque, vejam, o processo de desenvolvimento de software envolve várias etapas. Na parte de desenvolvimento propriamente dito, podemos citar programação, testes e homologação. Ora, suponha que um certo módulo de um novo software requeira 8 horas de programação, 4 de testes e 4 de homologação. Terceirizando a programação para a Índia ou China, o serviço será feito enquanto é dia por lá, enquanto os americanos dormem. Quando eles acordam e vão trabalhar, já têm código pronto esperando por eles e pelos testes e homologação. O fuso horário oposto é, portanto, uma vantagem: terceirizando esse serviço para o Brasil, por exemplo, testes e homologação seriam feitos em dias alternados, já que seria necessário esperar o trabalho dos brasileiros.
É tão óbvio que desconfio da sinceridade de quem cita o fuso horário como grande vantagem competitiva. Será que esses caras estão querendo é corte de impostos e informalização das relações de trabalho? Se for isso, estou com eles. Desconfio, porém, que há mais que isso. Acho que nego está querendo é um dinheirim do governo. Os cineastas podem, por que não os empresários de TI, não é mesmo?

Meu parente Ancelmo Gois escreveu ontem em sua coluna no Globo:

O amor é lindo
João Gilberto, 75 anos, gênio da MPB, acaba de saber que é pai de uma menina de dois anos e meio, fruto de uma relação com uma fã carioca.
O mestre já tem uma filha famosa, a cantora Bebel Gilberto, com Miúcha

Relevo esse lance de chamar de “gênio da MPB” um cara cuja carreira já estava mais do que consolidada quando a sigla surgiu. De resto, a nota do Ancelmo está certinha. Notem que ele diz que João tem uma filha famosa. Então a Folha, triste e furada, dá sua versão hoje:

Bebel Gilberto, 40, não é a única filha de João Gilberto, 75. É o que informa hoje o colunista Ancelmo Gois no jornal “O Globo”. O músico teria descoberto há pouco tempo que é pai de uma menina de dois anos.

Eu sempre soube que Bebel não era a única filha de João. Ou será que João Marcelo morreu e eu não fiquei sabendo? Ou pior: será que só conta filho famoso? Eita preula. Eita preguiça de conferir uma informaçãozinha que seja. Eita raça.

Update: Cliquei no “comunicar erros” da nota da Folha e enviei minha mensagem. Agora há pouco uma Mary Persia me respondeu que havia adicionado o nome de João Marcelo. Bela correção: a nota começa da mesma forma, e só lá no último parágrafo é informado que João tem outro filho. Reitero: eita raça.