2009 foi o ano em que cheguei mais perto do meu objetivo.
Sim, eu tenho um objetivo. Não parece, eu sei, mas tenho. Há muitos anos. Quando comecei a trabalhar, há quase 18 anos, já tinha esse objetivo em mente. Fui estagiário de estatais, “menino da informática” em colégio de padres e loja de móveis, suporte técnico em empresas obscuras, programador Clipper em uma financeira. Fiz suporte técnico em uma multinacional de software (foi nessa época que criei este blog, também pensando no futuro) e especialista em segurança da informação numa grande consultoria. Larguei tudo, virei jornalista de tecnologia. Mas ainda não era meu objetivo: era apenas um passo na direção certa. Meu objetivo exigia presença na mídia, contatos, e a vida de jornalista me deu isso. Fiquei no jornalismo de tecnologia por quatro anos, trabalhei para três editoras.
Então, quando eu já me preparava para dar o próximo passo rumo ao meu objetivo, a sorte me apareceu na forma de um convite de Mestre Palito (não perguntem) para ser roteirista do CQC. Aceitei, é lógico. Agora estou em posição privilegiada, e certo de que 2010 será um ano de outras conquistas no rumo certo. Nunca estive tão próximo do meu objetivo, do sonho de uma vida, da meta traçada com tanto cuidado por tantos anos. Há quem diga ser impossível, há quem ria, mas eu sei que vou conseguir. Com muito trabalho, dedicação e treino, atingirei meu objetivo: ser bailarina do Faustão.

Que 2010 seja um ano de conquistas para todos vocês também.

Recadim pra vocês: quinta-feira que vem, dia 8, estréia aqui em São Paulo a peça O Cortiço, adaptação daquele livro do Aluísio de Azevedo. Ó:

É uma boca na vertical

É uma boca na vertical


“E daí?”, vocês perguntam. E daí que é muito legal. Além do ambiente do cortiço do século XIX, vai ter umas projeções de vídeos com depoimentos sobre a obra e os personagens, imagens relacionadas à peça, enfim, todo um lance modernoso. Mas o mais importante de TUDO é que eu estou fazendo a assessoria de imprensa da peça (daí minha ausência do blog, também). Então façam o favor de ajudar na divulgação.
Volto já.
O_

Ô, meu povo. Tem gente reclamando do abandono do blog. Bom, está abandonado mesmo. E vai continuar. Como eu disse, estou de emprego novo e profissão nova. Ainda estou me adaptando, trabalhando pra caralho e cagando de medo. A recomendação é a mesma de sempre: leiam os arquivos, ou vão ler outras coisas, que as coisas aqui no blog vão ficar paradas por um tempo.

Não posso reclamar de 2008. Tive três empregos, dois endereços, dois estados civis. Foi um ano agitado. Eu e Cartola nos casamos — decidimos de repente, muita gente pensou que ela estivesse grávida. Não estava. Eu ganhava X num emprego que não suportava mais. Pedi demissão, arrumei um emprego para ganhar 1,25X. Esse 0,25X dava para o aluguel, então pedi minha namorada em casamento. “E aí? Vamos casar?” Foi na casa do irmão dela. Ele e a esposa devem ter pensado que eu estava brincando. Não estava. Fomos à casa dos pais dela dar a notícia. Os dois ficaram de boca aberta. “Não estou grávida”, disse minha então namorada. Eles se tranqüilizaram e ficaram muito felizes.
Então veio a parte de procurar apartamento. Ouvíamos falar em gente que ficava um ou dois meses procurando casa. Nós levamos quatro horas. Chegamos aqui sem esperar nada, acabamos nos apaixonando pelo apartamento, pelo prédio, pela rua. Íamos morar na rua das bichas. Tanto melhor: ninguém ia mexer com minha mulher.
Ela quase morreu de ansiedade quando esperava a papelada do aluguel (aluguel é um bom negócio, acreditem). Mas deu tudo certo, e eu me mudei em maio — ela é moça de família, e só viria para cá depois de casada. Na minha primeira noite, dormi em um colchão inflável, emprestado pelo irmão dela. Depois, ele me emprestou uma cama inflável muito chique, que até hoje não devolvi. Aprendi a fazer arroz e macarrão, comecei a lavar roupa e comprar pão. Uma receita de lombo na cerveja, ensinada por uma amiga e nunca usada, virou minha especialidade para ocasiões especiais.
No meio disso tudo, ainda surgiu uma viagem a Orlando — a trabalho, é claro. Dei vexame no aeroporto e vi pela primeira vez os americanos em seu habitat.
Compramos nossa pia lindíssima no Mercado Livre. Compramos por uma merreca uma mesa, quatro cadeiras e um baú de uma peruana que estava voltando para o Peru. Minha mãe nos deu o balcão que usava na floricultura — com uma pequena adaptação, ele virou armário de cozinha com uma prateleira e ganchos para pendurar nossas canequinhas de ágata. A mãe de Daniela nos deu esta mesa que estou usando agora, e vendeu por um preço simbólico o canto alemão. Nossos irmãos e pais nos deram o fogão, a geladeira, o forno de microondas (que será “micro-ondas” a partir de amanhã, vejam que ridículo), o box do banheiro, a máquina de lavar, prateleiras, pratos, copos, talheres, um monte de coisa. Um mês depois da minha mudança, nos casamos.
O casamento não teve nada de mais, e foi muito legal por isso mesmo. Nos casamos num cartório aqui perto, depois a família e os amigos mais próximos vieram almoçar crepes no salão de festas. O salão fica na cobertura do prédio, e a vista vai ficando mais bonita conforme anoitece. Minha marida comprou noivinhos bem adequados para o bolo: o noivo puxa a noiva de dentro da tela do computador. Foi assim que eu a conheci. Bom, mais ou menos.
Não tivemos lua-de-mel: eu estava de volta ao trabalho na terça-feira seguinte. O emprego novo pagava mais, mas era um porre. Eu não conseguia disfarçar meu descontentamento; nunca consigo. Fiz entrevistas em algumas empresas. Em uma delas, disse que aceitaria ganhar menos. O chefe de redação não me contratou porque me achou qualificado demais. Fiquei mais contrariado ainda. O clima da redação, com todo mundo reclamando de tudo o tempo todo, só piorava meu estado. Eu discutia com a chefe em todas as reuniões. Discordava dela em tudo. Menos de um mês depois do casamento, perdi o emprego.
O mês de julho foi o mais difícil. Passei o mês todo fazendo uns bicos. Graças a um colega jornalista de bom coração, consegui um trabalho para ganhar mil reais em três dias. Depois consegui outros dois, cada um pagando 350 reais. Em dez dias, eu tinha 1.700 reais. Achei que daria para viver assim, até descobrir que: a) os prazos para pagamento são muito elásticos e b) não é todo dia que aparecem trabalhos assim.
Então, logo no começo de agosto, recebi duas propostas de emprego. Primeiro, me chamaram para cobrir férias em uma assessoria de imprensa. Um dia antes de começar, me ligaram de uma editora onde eu havia feito uma entrevista quase um mês antes. Eu nem pensava mais naquela vaga. Quando me chamaram para a entrevista, fiquei empolgado. Era uma editora muito diferente das duas anteriores. A redação era independente. O chefe valorizava o texto acima de tudo, e tinha lá suas técnicas de redação. Eu não acreditava muito em técnicas, mas estava curioso. Depois de um mês, no entanto, eu nem lembrava mais. Mas me ligaram, marcaram uma entrevista com o dono da editora. Acertei os detalhes com ele, comecei uns dias depois.
O começo foi bem difícil. A empresa anterior me deixara desconfiado, então eu não conseguia me empolgar com o emprego novo. Além disso, havia as tais técnicas de redação. Eu não acreditava que aquilo fosse funcionar. Eu escrevia, escrevia, e achava um texto pior do que o outro. Entrei em crise. Minhas primeiras matérias grandes ficaram ruins, o chefe queria me bater. E tinha outro problema: eu voltara a ganhar X; não contava mais com o 0,25X extra que me garantiam o aluguel. Um mês de desemprego desequilibrou minhas contas. Fiquei dois meses sem pagar a faculdade nem o cartão de crédito, e sempre estourando o limite do cheque especial. Achava que resolveria isso no fim do ano: terminaria de pagar o carro em novembro, venderia o carro, usaria o dinheiro para pagar as dívidas e comprar um carro velho. Veio novembro, veio a crise, ninguém queria comprar meu carro. Quem queria, oferecia preços ofensivos.
Hoje, último dia do ano, eu penso em tudo isso e acho que tudo acabou dando certo. Eu sempre penso no que faria se ganhasse na Mega Sena; acho que todo mundo pensa nisso. Antes, eu pensava em comprar uma casa, uma chácara, carros, comprar casas e carros para a família, aplicar o dinheiro, viajar, largar o emprego. Continuo com as mesmas fantasias, mas com uma exceção: se eu ganhasse na Mega Sena hoje, acho que continuaria no emprego. Trabalho com pessoas legais, aprendo muito e, pela primeira vez na vida, vejo sentido no meu trabalho. Continuo ganhando X, mas é só questão de tempo. Mesmo em crise, conseguimos comprar o sofá mais legal do mundo. Não consegui vender o carro (ainda, OPORTUNIDADE ÚNICA), mas consegui um empréstimo a juros baixos — cunhados estão aí para isso.
2008 foi o ano em que aprendi a ajudar quando posso e, o mais difícil, a aceitar ajuda quando preciso. Foi o ano em que aprendi a aprender.
E foi o ano em que me tornei devoto de São CPAP.
Hoje vamos à casa de Daniela e Daerson para ver o ano novo começar. Foi um ano agitado para eles também, mas nada que se compare a 2007. Outros amigos vão também, outros casais que passaram por grandes mudanças em 2008. Vou fazer o já famoso lombo na cerveja. Em 2009 eu dou a receita. Por enquanto, feliz ano novo a todos vocês, e obrigado pela paciência.

Nesses três anos de profissão, nada me assusta mais do que cobrir eventos. Enquanto estou na redação, estou bem. A redação é um ambiente amigável, com gente que eu conheço e onde eu faço o que gosto de verdade: escrever. Só que ser repórter não é só escrever: é apurar, entrevistar, investigar, sondar, blablablá. Quando saio para cobrir eventos — ainda mais eventos importantes, que duram vários dias e tal — me sinto o último dos manés. Olho para os colegas e todos eles têm suas fontes, informações exclusivas, histórias para contar. Quanto a mim, ando pelo evento, assisto a painéis e palestras, visito a exposição, e não consigo ver nada de interessante. Os mesmos palestrantes repetem os mesmos assuntos para as mesmas pessoas. Nos painéis de debates, cada participante concorda alegremente com o que os outros falam. Nos estandes, duas, três, oito empresas demonstram produtos idênticos, apresentando-os como exclusividades magníficas. Eu não entendo.
E aí está o grande problema: não tenho o desembaraço necessário para abordar pessoas, apresentar-me, puxar assunto. Sou reservado com gente que não conheço, o que não é aconselhável para quem se propõe a ser um repórter. Então observo, escuto conversas, presto a maior atenção e, se achar que vale a pena, me obrigo a chegar perto e dizer, “Oi, sou repórter, queria conversar com você sobre esse negócio aí.” Só que eu raramente acho que vale a pena.
Minha impressão é que não tem nada de novo acontecendo, que “inovação” é só uma palavra que já está saindo de moda, que certo mesmo estava o autor do Eclesiastes. Mas não é possível. Estou numa sala de imprensa cheia de jornalistas, ao lado há outra sala cheia de assessores de imprensa. Essa gente toda não ia convergir para um mesmo lugar se não houvesse nada de novo acontecendo.
Ia?

A parte mais legal (até agora) de aprender técnicas de escrita é identificar cada truque, cada ferramenta usada pelo autor em todo livro que leio. Desconcentra um pouco, mas me dá segurança: começo a entender o que vai embaixo do capô.

E, bom, estou nessa fase de ler muito, o que significa escrever pouco. Sosseguem o rabo.