Após uma tarde intensa de debates


Os bichos aqui de casa são religiosos. Deístas, no mínimo. Acreditam em Deu, é isso que me dizem.
(depois descobri que “Deu” é “Deus” em catalão, então fica aí a possibilidade de que eu tenha adotado um cachorro e um gato catalães, vejam que chique)
Rondeli, o cão, diz que Deu criou os cachorros os cachorros criaram as pessoas. Açaí, o gato, diz que Deu criou os gatos, que criaram os cachorros, que criaram as pessoas. Um acusa o outro de heresia. Rondeli diz que Açaí é protestante, reformista, não-sei-quê. Nem entro muito na discussão, não entendo direito.
O cachorro é muito disso aí, da doutrina, da letra. O gato é mais místico. Pensa mais em Deu do que na religião organizada. Deu, ele me explicou, é o que eles (os gatos) chama de “Um Gatão Bem Grandão”. Perguntei o que Deu faz. “Cuida dos gatos, ué.” E dos cachorros? “Também, porque são criaturas nossas.” E das pessoas? “Às vezes. Nos dias em que Deu está bem, a caixinha de areia dele está limpa e ele não vomitou nenhuma bola de pêlo.”
Rondeli só resmunga em desdém e vira para o outro lado.
É fascinante.