Pitbulls

Uma vez minha cunhada achou um pitbull andando aqui na nossa rua. Eu fiquei só olhando pela janela. Nunca tinha chegado perto de um pitbull, só conhecia a reputação da raça. Eu tinha medo.
Minha cunhada é veterinária. Ela me disse que precisava sedar o cachorro para cuidar dele. Ele tinha sangue coagulado no pescoço e no peito. O pescoço tinha furos a intervalos regulares. “Arame farpado”, ela disse. Eu não entendi, então ela me explicou: os furos eram porque a pessoa excelente, imagem e semelhança de Deus que havia abandonado o cachorro, tinha esse costume de amarrar o bicho com arame farpado.
Ela deu sedativos enrolados em carne para o cachorro. Aumentava a dose e nada do bicho dormir. Então veio o que eu mais tinha medo: ela ia ter que dar uma injeção num pitbull, e precisava da minha ajuda.
Na primeira picada, ele arrebentou a focinheira. Em nenhum momento ele fez menção de nos morder, só tentou fugir pra dentro de casa.
Algumas tentativas depois, ela conseguiu botar o cachorro pra dormir. Eu ajudei a cuidar dele. Estava cheio de carrapatos, de berne e tinha uma bicheira em cada furo do pescoço (bicheira é um amontoado de larvas de mosca incrustado na carne, a única coisa que eu conheço que é mais nojenta do que berne).
Quando acordou, o cachorro já tinha um nome, dado pela minha outra cunhada: Brucutu. Ele passou um tempo lá. Um mês ou dois, sei lá. Eu passava por lá, dava um bifinho ou um coco (coco é o único brinquedo de morder capaz de resistir mais de cinco minutos com um pitbull).
Brucutu foi adotado por um rapaz simpático. Ele dorme na cama do dono e deita a cabeçorra no colo da mãe dele quando ela senta pra fazer tricô.
Eu nunca tinha ligado pra cachorro na minha vida. Nessa época, cheguei a pensar em adotar o Brucutu. Não deu, mas quando o Rondeli apareceu abandonado aqui na vizinhança, eu não deixei escapar. Foi a melhor decisão que tomei na vida.
Aprendi que cachorros precisam de companhia humana. Nós inventamos o cachorro pra isso. Depois de quatro anos com o Rondeli, aprendi também que a gente precisa de companhia canina.
Lendo esse artigo aqui, lembrei do Brucutu. Ele sofreu tanto nas mãos das pessoas, mas nunca pegou raiva da nossa espécie. Pitbulls não são monstros: são cachorros e precisam de companhia.
(e se você quer um cachorro, adote)

2 comments

  1. Eh Marcurelio,
    A vida da minha familia mudou tbm depois de um Pitbull, o Nero. Felizmente ele nao passou os maus bocados que o Brucutu. Foi um presente pro meu irmao recem nascido, com o objetivo de ser o seguranca da oficina do meu padrastro. Ele era pra ficar uns 6 meses em casa pra crescer, e estes 6 meses viraram alguns anos ja. Minha mae antecipou um projeto de comprar uma casa em funcao do Nero.
    Todo o preconceito que tinhamos com a raca foi desconstruido. O Nero eh extremamente docil, engracado, e amigavel ate com os estranhos. Depois de 5 minutos dentro de casa, ele ja se considera seu melhor amigo de infancia (Obvio q nao recomendo ninguem pular o muro sem ser devidamente apresentado).
    Definitivamente, este preconceito contra Pitbulls eh totalmente infundado.

  2. Eu tenho um pitbull que foi abandonado na minha rua e, como não tínhamos cachorro em casa, ele dormiu uma noite na minha varanda sem ser visto. Está aqui até hoje e isso foi há 8 anos atrás. Ele é ótimo com pessoas, só não gosta de outros cachorros (briga) ou animais silvestres (destrói). Nem assim os ouriços deixam de ir provocá-lo subindo as grades do canil e se exibindo. Mas é um idiota completo.

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