Piscinas

Fiquei sócio do clube aqui perto de casa. Assim, bem perto. Vou a pé. É na minha porta. É ali na cozinha.
Mentira.
É aqui na sala.
Mentira. É a Associação Atlética São Paulo. Tem quadras de tênis, aparelhos de ginástica, campos de futebol society. Eu não pretendo usar nada disso. Tem uma piscina olímpica também, e essa eu uso. Uso pra dar um tchibum e depois boiar um pouco. O ruim disso: eu, uma grande massa marrom, pulo na água e fico lá boiandão. Quando você for ao banheiro, pode anunciar: “Licença, galera, vou levar o Marco Aurélio no clube”.
Esqueça isso, por favor.
O negócio é que eu aprendi a nadar numa piscina de 2,5 por 4 metros. Dois metros e meio de circunferência, quatro de profundidade. Mentira,  ok? 2,5 x 4,0 x 1,2. Essa foi a piscina GRANDE que meu pai fez quando éramos crianças. Antes dela, meu pai e Seu Édson, o pedreiro faz-tudo da família, bolaram uma coisa bem menor. Era um buraco retangular cimentado tão pequeno que meu pai não chamava de piscina, mas de POÇO RECREATIVO. E eu acho que ele e Seu Édson se esqueceram de alguns detalhes, como colocar um ralo, por exemplo. A gente enchia aquela piscina com a mangueira (e nem enchia muito, meu irmão era muito pequeno, podia se afogar e blablablá), brincava ali um dia ou dois. Depois disso a água começava a ficar turva, depois suja, depois podre. Aí era hora das crianças entraram na água com baldes na mão para esvaziar a piscina. Às vezes chamávamos os vizinhos para brincar só pra depois ter mais braços no trabalho de esvaziamento. A gente ficava naquilo a manhã inteira, como náufragos num bote salva-vidas furado. Quando faltava bem pouquinha água, já não dava pra apanhar com o balde, aí vinha a pior parte: a gente ia pegando água com uma pazinha de lixo e jogando num balde. Enche a pá, enche o balde, joga água pela borda da piscina. Enche a pá, enche o balde, joga água pela borda da piscina. Enche a pá, enche o balde, enche o saco, morre. Acho que o POÇO RECREATIVO não era para a gente se divertir nadando: era para nossos pais se divertirem vendo a gente esvaziando aquela desgraça. Acho até que minha mãe fazia pipoca nessas ocasiões, mas pode ser uma memória falsa.
Mas eu dizia que meu pai me ensinou a nadar. Seu Lindauro era do sertão da Bahia, de uma região mais seca que a Dilma Rousseff. Água era coisa muito rara por lá, mas existiam açudes sazonais. Quando o açude estava cheio, meu avô aproveitava para ensinar os filhos a nadar. Na vez do meu pai, foi assim: Seu Júlio, meu avô, colocou meu pai na cacunda e atravessou o açude nadando. Aí voltou, tornou a atravessar. Na quarta travessia, chegou no meio, jogou meu pai lá longe e gritou: “agora sai nadando!”. Meu pai aprendeu que foi uma beleza. Nadava em qualquer lugar, sem medo. Íamos à praia, ele já corria pro mar, ia nadando, nadando, até a gente ver só aquela cabecinha lá longe — longe a ponto de eu poder me referir à cabeça de alguém da família no diminutivo.
Quando meu pai me ensinou a nadar, não foi nada tão dramático. Ficávamos lá na piscina (a piscina GRANDE), ele estendia o braço. Aí era só apoiar o abdome na mão dele e bater as mãos e os pés. Pronto, já sabe nadar. Próximo!
Então é assim: eu entro na água, consigo me deslocar, mas não sei nadar. Eu atravessei a piscina olímpica no sábado e saí direto pro INSS pra pedir aposentadoria por invalidez. Estou pensando em contratar um instrutor de natação particular, porque o clube não tem essas coisas. Gosto de ficar na água, me sinto bem. E um dia quero ensinar meus filhos a nadar do jeito certo, porque o jeito da minha família é zoado.

3 comments

  1. Hehehe!
    Eu, na água, sou igual um peixe. Só saio se alguém tirar. Já minha amada esposa diz que eu nado melhor que um machado sem cabo. As vezes acho que ela tá me trollando, sei lá.

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