Evilázio

Evilázio era o nome do meu tio. É o tipo do nome que ninguém mais dá aos filhos. Eu o chamava de Vilau quando era pequeno. Meus irmãos e os primos chamavam de Lalau. Depois de grande, passamos a chamá-lo como todo mundo: Vilazo.
O Vilazo usava sabonete Phebo, tomava água de moringa em caneca de alumínio, teve um jipe Willys, gostava de pescar — tudo coisa que eu imitei (o jipe eu ainda vou ter). Vendeu galinha a vida toda, dirigiu muito caminhão de galinha Brasil afora. Lembro de umas duas ocasiões em que ele trouxe tatu de uma viagem. A gente passava o sábado brincando com o tatu, se afeiçoava ao bicho, e no domingo ele ia pra panela. A gente comia, que jeito? O Vilazo andava pelo mato, via um riacho, via o mar e dizia: “Dá pena a gente morrer e deixar tanta coisa bonita pra trás”.
Talvez tenham sido as galinhas o vetor do fungo que matou meu tio. Meningite fúngica é coisa muito rara, e quando acontece é com pacientes de HIV. Ele não tinha HIV, nem câncer, nem nada. Mas teve a meningite, ficou quase três meses no hospital. Melhorou, piorou, fez uma cirurgia de altíssimo risco, sobreviveu a ela, vinha melhorando. Morreu ontem de madrugada, nove dias depois do meu pai.
Dói. Eu não entendo.

13 comments

  1. Nem eu…não entendo, acho que nunca vou entender e nunca vou saber lidar direito com as partidas das pessoas queridas. Eu lembro do tatu,tb lembro do gambá.

  2. Esses são os momentos que nos gostariamos de acreditar que existe algo mais, que não acabou, e que um dia você poderá voltar a ve-los…..Eu tambem espero que isto seja verdade.

  3. É, a morte é foda. É a única coisa certa da vida, mas como é difícil encará-la quando ela chega. Mas a vida continua. O sol nasce e morre todo dia e o dia passa — por mais triste que a gente esteja e queira que a vida pare, sente e chore ao nosso lado. Demora para essa tristeza passar. Demora uns anos para o buraco fechar por completo, na verdade. Um dia vai doer mais, outro menos. E, no final, a gente pensa assim: que se foda se existe ou não céu ou Deus, apenas é bom acreditar que nossos entes amados estão num lugar bom, lindo, se divertindo pra caramba. E, qdo nós morrermos, eles estarão lá nos esperando, numa grande festa. Se isso existe ou não, a gente só vai descobrir quando morrer. Mas até lá, não faz mal nenhum acreditar e imaginar.
    Fique bem.
    Beijos!

  4. Marco, sinto muito por sua dor. Acredito que você só encontrará consolo em Deus que sara de dentro pra fora, mas mesmo assim a saudade vai incomodar muito e por muito, muito tempo.
    Os porquês, não consolam, só confundem e aumentam a dor. Saber que eles viveram e “curtiram”, pode ajudar a seguir adiante, acreditar que eles estão com o Senhor, dá força para seguir e aplaca a dor sensívelmente.
    Sei que é muito difícil deixar de pensar na gente neste momento, tudo se trata da nossa dor, da falta que nos vai fazer quem amamos. Mas infelizmente faz parte da vida e como fomos feitos para sermos eternos nunca aceitamos bem essa história de morte.
    Sinta-se abraçado e beijado por mim, que já passei por essa dor também.

  5. 2010 definitivamente não está sendo seu ano.
    Sinto muito mesmo. Torço, do fundo do coração, para que nada mais aconteça com você e os seus.

  6. Marco, isso é a morte fazendo barulho que está mais perto.
    Quanto mais velho ficamos, mais a morte nos afeta por que realizamos que ela está mais perto do que imaginávamos.
    Perdi meu pai na adolescência, senti muito a sua ausência, mas a morte da minha avó mexeu muito mais comigo, ela tinha 90 anos, morreu de velhice de forma gradual e tranqüila, mas mesmo assim como você, Dói.
    Força cara.

  7. Marco, sinceras condolências a você e à família. Lembro de sua definição de agnosticismo da qual gostei tanto, pois com ela concordei. Aos 19 anos, minha mãe sofreu muito com o falecimento do pai dela, que tinha pouco mais de 50 anos. Meu pai já namorava sério com ela e conheceu bem o sogro. Quando você descreveu a glória de sua geração estar encaminhada, lembrei desse fato pois Heládio, o avô que não conheci, se despediu da única filha justamente após conhecer bem o futuro marido dela.
    Acredito que o chavão “a vida é uma escola” faz sentido quando encaramos o falecimento como uma formatura. Há pouco tempo faleceu um amigo meu e nesse caso entendi bem aquele princípio de conservação da massa ou lei de Lavoisier. Não há peso maior que a experiência de vida e a consciência de cada um. Não faz sentido que todo acúmulo de energia feito por cada indivíduo, com tanta informação angariada, ‘vire nada’ num respiro.
    Acho muito interessante que Ana Júlia tenha conversado contigo sobre isso. Tenho um irmão mais novo, e quando comecei a tentar entender esses assuntos, perguntava pra ele ‘o que é a vida?’. Ele já não era tão novo, mas criança é uma das pontas da ferradura; está ‘próxima’ desse outro mundo pois acabou de passar por ele. Com o passar dos anos, ficamos mais firmes no terreno e perdemos esse fio mas você percebeu que sua sobrinha apresenta um ponto de vista valioso.
    Também não entendo, mas quero entender. Digo o mesmo do comentário acima; força cara.

  8. É, dói demais e é muito difícil de entender… Esse ano perdi meu namorado que eu amava muito e minha sogra que era como uma segunda mãe pra mim. Sinto muito pela sua dor e só posso desejar que você tenha força pra suportar esse momento tão doloroso.

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