Como eu disse, eu tinha uma camisa de Sidney Magal quando criança. Ei-la:

A melhor irmã do mundo e eu

Essa foto é de 1979 ou 80, não lembro bem. Lembro que eu queria usar essa camisa todo dia, se pudesse. Porque era “do Sidney Magal”, claro. Mas acho que a gola das camisetas não passava pela minha moringa, também.

(II Reis 15)
— … é que nóis é fiote!
[risos na platéia]
— Boa piada, muito boa… Bom, mas vamos ao nosso primeiro convidado de hoje. Ele é Criador do Universo, Deus Triúno e diz que foi um bom Ponta-Direita quando jovem. Boa noite, Javé.
— Olá, boa noite.
— Obrigado por aceitar nosso convite. Eu queria começar falando de Israel…
— Putz.
— Pois é, rapaz… Que que tá acontecendo lá, hein?
— Sabe que nem eu sei direito? Aquele lugar é o diabo. Tô pensando em acabar com aquilo tudo. Pra começar, Israel nunca teve um rei que prestasse. Bom, teve o Jeú.
— O Jeú? Não foi ele que mandou matar quarenta crianças e depois empilhou as cabeças na porta de uma cidade lá?
— Foi, foi. Mas eram crianças pagãs. Gostei daquele negócio, sacumé. Então cheguei e falei pra ele assim: “Jeú, mano velho. Quando você morrer, seu filho vai ser rei no seu lugar. E seu neto depois dele. E vai assim, até a quarta geração”.
— A quarta geração é o tataraneto dele, certo? O… Zacarias?
— Ele mesmo, aquele bosta. Esse Zacarias seguiu a mesma linha dos outros reis de Israel. Me traíram, os arrombados, todos eles. Eu tinha prometido ao tataravô dele esse negócio da quarta geração, então deixei esse corno ser rei. Mas só por um tempinho, também. Ele era rei fazia uns seis meses quando aquele tal de Salum fez a conspiração pra matar ele.
— O Salum não durou muito também, né?
— Um mês! Hahahaha. Veio aquele Menaém lá de Tirza, matou o cara e assumiu o trono. Cara legal, o Menaém.
— Peraí. O Menaém não foi aquele que matou todo mundo em uma cidade que não reconheceu ele como rei? E depois cortou a barriga de todas as grávidas?
— Ah, ele se empolgou um pouco. A juventude, sei lá. E fez pelos motivos errados; se fizesse em meu nome, o reinado dele era capaz de durar mais.
— Mas até que durou bastante, dez anos. E ele foi esperto quando os assírios tentaram invadir.
— Foi sim, muito esperto. Entregou lá umas toneladas de prata pro rei da Assíria, como era o nome dele?
— Tiglate-Pileser.
— Ele. Tina um apelido engraçado. Pul, Pus, sei lá. O Menaém entregou aquela caralhada de prata pro Pul, e ele voltou pra casa contente.
— Mas aí o Menaém morreu e o filho dele, Pecaías, se tornou rei.
— Pecaías. Se todo mundo já pecava pra dedéu, imagina um cara chamado Pecaías. HAHAHAHAHA. Pescou? PECAÍAS! RÁ!
— …
— Aí depois de dois anos veio um oficial do exército, matou o Pecaías e assumiu o trono. E cê lembra o nome do cara?
— Peca. Certo?
— PECA! O nome do cara era PECA! Vai pecar assim no inferno! HAHAHAHA!
— Bom. Mas eu ainda não entendi o porquê desse monte de conspiraçãoes…
— É que eu nunca fui com a cara de Israel, entendeu? Judá era legal, toda hora aparecia um rei pra me puxar o saco. Em Israel, era um pior que o outro, tudo feladaputa.
— Sim, eu sei. Mas por que você não acabou logo com a raça de todo mundo?
— Ah, é que eu resolvi adotar outra política. Os negos não tavam ligando mais pra doença, praga, fogo do céu, nada. Então eu olhava pro caboclo que dava mancada, mandava um “tua batata tá assando” e ia levando. Foi o que eu fiz com o Peca. Deixei ele lá… pfff… pecando. E aí mandei uma idéia errada pra cabeça do Pul e a Assíria invadiu aquela região grandona lá e levou todo mundo como prisioneiro.
— Pra quem não se lembra, o imperador Tiglate-Pileser…
— Pul, porra.
— … o imperador Pul anexou as cidades de Ijom, Abel-Bete-Maaca, Janoa, Quedes, Azor, e as regiões de Gileade, Galiléia e Naftáli.
— Só faltou Dudinka na lista do cara, diz aí. Mas então. Aí veio outra revolta, e foi assim que o atual rei chegou aonde chegou.
— O rei Oséias.
— Ele mesmo. Bom. Rei por enquanto, né?
— Por quê?
— A batata dele tá assando. Depois te falo.
— Tudo bem. E enquanto isso tudo acontecia em Israel, continuava tudo bem em Judá. Por quê?
— Ah, Judá é uma belezinha. Você veja que todos os reis até hoje são descendentes de Davi. E por que isso? Porque Davi era meu brother, cara. Eu mandava matar, ele ia lá e matava. Não tinha tempo ruim. Você veja o velho Uzias, por exemplo. Quando ele chegou ao trono, Zacarias nem sonhava em ser rei de Israel ainda. Pois o Uzias foi rei durante 52 anos! Ele ficou firme lá, enquanto em Israel vieram… me ajuda aí: Jeroboão II, o corno do Zacarias, Salum, Menaém, Pecaías, Peca e Oséias. Um time de society, cara!
— Muita gente.
— Pois é o que eu tô te falando! Em Judá os cara são ponta firme, então o cara chega no trono e vinga. O Uzias era um cara bom pra caralho!
— Mas teve lepra, coitado.
— É. Pô… É que eu gosto de lepra, sabe? Me divirto. Fico vendo o cara lá paradinho, com medo de se mexer muito e perder uma orelha. Pô, é divertido pra caralho!
— Cada um se diverte como pode, né… O rei Uzias passou boa parte da vida numa casinha separada, e o filho dele, Jotão, é que reinava de verdade.
— E o Uzias não se intrometia! Se ele inventava de meter o nariz nos assuntos do reino, o filho ficava bravo, reclamava e devolvia o nariz pra ele.
— …
— RÁ! Aí ele ficava lá no barraco dele, coçando a orelha com o dedão do pé.
— Puxa, como ele fazia iss… Humpf!
— RÁ!
— Bom, mas o rei Uzias também morreu e agora o rei lá é justamente o filho dele.
— O Jotão, sim. Gosto dele. Gente boa. Não sei se você viu a porta nova que ele mandou fazer no templo de Jerusalém. Coisa linda. Eu entro lá no Santo dos Santos, sento na Arca, acendo meu baseado e fico olhando aquela beleza. Coisa fina.
— Então o Jotão, pelo menos, pode ficar tranqüilo.
— Mais ou menos, né? Israel e a Síria já tão se armando pra atacar Judá.
— Mas o que o Jotão fez?
— Nada, nada! Mas aquele filho dele, Acaz… Sei não. Não vou com a cara do moleque. Vou botar a batata dele no forno desde já, que é pra não perder tempo.
— Bom, depois do intervalo o Javé aqui vai contar direito essa história do Acaz e aquela outra, do Oséias. E vai explicar também como é esse negócio de ser um só, mas ao mesmo tempo ser três…
— Não me pede pra explicar isso, cara!
— Javé, senhoras e senhores! A gente volta já.

Dizem que as lembranças mais antigas que a gente tem não são de verdade: são memórias falsas, criadas a partir de histórias que os pais contam sobre nossa infância e que a gente acaba incorporando. Acho que é isso mesmo; até porque tenho uma tendência besta a incorporar histórias alheias. Alguém me conta um negócio que lhe aconteceu; tempos depois eu lembro com detalhes da história acontecendo comigo. Doença. Mas eu acredito que uma das minhas lembranças mais antigas seja de verdade. E por um motivo simples: não tinha ninguém da família presente para me contar o que aconteceu.
Foi há 32 anos. Vocês nem eram nascidos, provavelmente. Eu tinha três anos de idade e fui internado por causa de uma crise de gastrite e…
Merda. Escrevi um puta texto enorme aqui, só pra descobrir que já tinha contado essa história:

Não perguntem, não sei como eu fui ter gastrite aos três anos. Mas me lembro perfeitamente dos quatro dias que passei no hospital. Lembro de um médico que me impressionou por ser preto e por ter um cabelão black power (era 1978, a lama do Dilúvio ainda não havia secado). Lembro de ficar importunando as enfermeiras para me levarem pra casa, de argumentar com uma enfermeira que veio botar fraldas em mim na primeira noite (“Fralda? Eu não uso fralda. Quem usa fralda é criança”), e do constrangimento que foi me ver de fraldas minutos depois.
E lembro da hora do banho.
Ah, o banho! Eu ficava em pé na banheira e começava a dançar e cantar músicas do Sidney Magal, meu ídolo máximo então. Engrossava a voz e mandava:
Tenho
um mundo que é cor-de-rosa
de coisas maravilhosas
que tanto sonhavas ter.

As enfermeiras se acotovelavam na porta do banheiro, todas com cara de óun! Eu tinha meu charme.

Bom.
Anos depois, aporrinhei minha mãe para fazer uma camisa igual às do Sidney Magal. Era impossível, claro: a bicha usava umas mangas bufantes na época, umas coisas meio de cetim, abertas no peito. Minha mãe fez uma camisa social de seda e me falou que era igual a uma camisa do Magal. Eu acreditei, fiquei feliz da vida.
Hoje fui ver o Sidney Magal na Virada Cultural como presente de aniversário parar mim mesmo. Nada de mais: foi só sair do prédio; o show foi no fim da rua. Eu não costumo dançar nem nada em shows, fico quieto, parado. Mas arrisquei uns passos no show do Magal. Ele estava com um paletó todo brilhoso, coisa de Cauby Peixoto. Vou pedir pra minha mãe fazer um igual.

Depois de 35 anos de vida (que completo hoje [os 35 anos, não a vida]), resolvi tratar de um dilema antigo. Eu preciso de um nome menor. Esse Marco Aurélio Gois dos Santos aí ocupa um espaço danado, parece um trem (isso sem falar nesse Gois errado, sem acento). Nas revistas em que trabalhei, só eu ocupava duas linhas do expediente. E agora meu nome leva horas para passar nos créditos finais do CQC: é como se fosse eu mesmo passando, largo e pesadão. Tem vinhetas no meio do programa que são mais rápidas do que a passagem do meu nomão. Marco Aurélio Gois dos Santos. Dava pra tatuar esse nome em volta da minha cabeça, de tão grande que é.
O nome comprido sempre foi um problema. Quando eu trabalhava com coisas de informática, o pessoal que mandava fazer os cartões de visita não tinha dó: sapecava lá um Marco Santos ou Marco Aurélio Gois, e pronto. Adotei o Marco Aurélio dos Santos por muito tempo. Aqui dentro da minha cabeça, era uma questão de justiça. Meus dois irmãos sempre usaram só o Gois. Eu achava isso uma injustiça, então adotei o sobrenome paterno . E estava muito feliz com isso, até inventar de ir a Estância, terra de minha avó materna, e conhecer todos os Gois e Góes de lá (a família não decidiu até hoje a grafia do nome). Por questão de identidade com aquele povo todo, reincorporei o sobrenome materno.
Foi difícil convencer os chefes a botar meu nome completo no expediente e nas matérias que eu escrevia. Então inventei uma desculpa metida a engraçadinha: dizia aos chefes de redação que eu queria ser o maior nome do jornalismo de TI do Brasil. Eles achavam graça e deixavam. Tentei aplicar essa piadinha manjada na produtora quando entrei lá — “É que eu quero ser o maior nome da televisão brasileira” — e fui brindado com olhares de gelado desprezo. Devem ter pensado que era sério, sei lá.
Então, como já disse, eu precisava de um nome menor. Mas como? Essa “questão de justiça” com os dois sobrenomes pode ser só sintoma de TOC (quem convive comigo diz que eu tenho isso aí), mas e daí? Eu continuo precisando dos nomes todos. Às vezes eu penso em espremer tudo em um pseudônimo metido a besta, e invento monstruosidades como Maurélio Gossan, que soa meio armênio, ou Aurélio Goissanti, que tem um jeitão de italiano meio bicha.
E eu sei lá por que estou escrevendo isto. Fiquem aí com minha foto do braço quebrado:

Tamãe da moringa...


Tchau.

Há quem pense que eu não ligo pra cultura. Nada mais longe da verdade. Como prova disso, fui ao Masp hoje. O prédio do Museu de Arte Moderna de São Paulo foi inaugurado em 1947 na Avenida Paulista. É famoso por seu vão livre de 74 metros. Nos fins-de-semana, dezenas de pessoas saem de todos os cantos da cidade para se reunir nesse vão livre e praticar uma atividade cultural da maior importância: a troca de figurinhas da Copa do Mundo. Dizem que dentro daquele bloco de concreto que fica em cima do vão tem uns negócio de arte também, mas não sei. Eu fui lá pra trocar figurinha mesmo.
Saí de casa com a missão de encontrar as 76 figurinhas que me faltavam e reduzir o bolo de 130 repetidas. Marquei com uma amiga japonesa (amigas japonesas são indispensáveis nessas ocasiões) e fui para lá meio avexado: não queria parecer muito nerd. Cheguei ao vão do Masp, encontrei a japa e uma multidão. Sentada no chão, a japa já trocava suas figurinhas com uma dupla de rapazes. Logo uma moça juntou-se ao grupo. Depois de cinco minutos sentado no chão, parei de sentir o pé direito. Mas pelo menos não estava mais constrangido, e mais ainda ao ver um outro grupo que tinha ido lá para brincar com espadas de isopor e papelão. Eram adolescentes e levavam muito a sério seus duelos. Olhando para eles, vi que eu não era nada nerd.
(Só depois pensei que eles devem ter olhado para mim, um gordo careca de 35 anos trocando figurinhas numa tarde de sábado, e pensado a mesma coisa.)
A japonesa precisou ir embora logo, então fiquei entregue à minha própria sorte. Me levantei e fui até a mureta para sentar direito e marcar as figurinhas que já tinha trocado. Depois disso, percebi que nem precisava procurar muito. Era só segurar o bolinho de figurinhas na mão, olhar em volta e esperar. Logo alguém vinha, “Tem figurinha pra trocar?”, e começava mais uma negociação. Vi todo tipo de gente. Um garoto de seus 4 ou 5 anos pegou com o pai a pilha com umas 300 figurinhas repetidas e começou a me mostrar uma por uma.
— Cê tem essa? — e me mostrava a foto do jogador.
— Sei lá! Deixa eu ver o número… Hum… Já tenho.
— E essa?
— Xeu ver… Já tenho
E ficamos nisso por um bom tempo, até ele me mostrar uma que eu não tinha. O pai, muito jovem, se desesperava ao ver o moleque tirar as figurinhas da ordem numérica. No final, pai e filho ficaram com quatro figurinhas minhas e eu peguei quatro deles. Antes de terminar, outros já esperavam do lado para negociar também. Um senhor de uns 65 a 70 anos de idade veio com a esposa e dois bolinhos de figurinhas. Um era do neto, eu acho. O outro era do casal. “Essa aí é do nosso ou do fulano?” Vi um rapaz magrinho sentado num canto e fui ver o que ele tinha. Era muito arredio, não me deixou tocar nas figurinhas dele: em vez disso, me pediu para ler os números que ainda não tinha. Ele tinha quatro figurinhas de que eu precisava. Agradeci e estendi a mão para cumprimentá-lo. Ele estranhou, eu acho.
Conforme fui trocando as figurinhas, foi ficando mais difícil achar as que faltavam. Começou a chover, e um pessoal chegou para montar as barracas da feirinha do Masp. Saí, fui jantar, depois vim pra casa. Agora só me faltam seis figurinhas. Aliás, se alguém as tiver e quiser trocar com alguma das minhas repetidas, dê uma olhada e me avise. As que me faltam:

85 – 144 – 201 – 315 – 403 – 583

Vou ver se no próximo sábado eu vou a outro encontro de troca de figurinhas. Talvez não no Masp. Estou muito velho para ficar horas sentado no chão, em muretas e outros lugares desconfortáveis. Há quem diga que eu estou muito velho pra colecionar figurinha também, mas eu quero é que se foda.

*   *   *

No meio dessa zona toda, encontrei um leitor do blog, Emanuel. Disse que lia o JMC desde o tempo em que ele era preto e vermelho amarelo (o blog, não o Emanuel). Os leitores deste blog freqüentam os piores lugares, credo.

Em fevereiro deste ano, o Google resolveu inventar moda de novo. A Gringolândia tem lá seu plano nacional de banda larga. O Google resolveu palpitar nesse plano de um jeito bem legal: vai construir e testar uma rede de fibra óptica em algumas cidades que se inscreveram no projeto. O negócio é levar a fibra até a casa do usuário com banda de 1Gbps, e os provedores de serviço que se virem para decidir o que vão vender. Com tanta banda, dá pra colocar internet muito rápida, televisão, telefonia e o que mais o cara imaginar.
Fibra óptica é das coisas mais legais que já inventaram. Não tem nada de mais: é um tubo de vidro esticado até ficar bem fininho. Com vários tubinhos desses juntos e encapados, faz-se um cabo de fibra óptica. Esse cabo transmite dados na forma de pulsos de luz. É um negócio resistente, relativamente barato, eficiente. E serve para levar dados de um lado para outro.
Aqui no Brasil a gente demorou para conhecer as maravilhas da fibra óptica. Até o meio da década de 90, as telecomunicações estavam nas mãos gordurentas do Estado. Eu era estagiário da Telesp em 1993 e entrei numa central telefônica uma vez. Ficava no subsolo e você tinha de usar um protetor de orelha para entrar lá. A central chaveava todas as ligações dos bairros do Ipiranga, Liberdade, Cambuci e outros que não lembro mais. Cada ligação feita nesses bairros chegava à central por fios de cobre e fazia aquele tec-tec-tec de telefone de disco. Coisa da Idade das Trevas do estatismo, do Sistema Telebrás que vocês, jovens, tiveram a sorte de não conhecer.
Veio a privatização, hoje tem fibra óptica por todo canto. Só que as empresas são malandras: vendem pra gente pacotes de internet + TV por assinatura + telefone como se fossem necessariamente três coisas diferentes. Pois não são, ué. Tudo isso é informação. Com largura de banda suficiente, dá pra trafegar esses bits todos na mesma fibra óptica e vender como uma coisa só.
Daí vai que o governo brasileiro anunciou agora o Plano Nacional de Banda Larga. E quem foi que apareceu aí no meio? A Telebrás, que era a guardiã da Idade das Trevas, e que todo mundo achava que já tinha morrido. Eu achava também. Até o final de 2008, quando o povo da redação da revista onde eu trabalhava  descobriu uma alta absurda nas ações da Telebrás. Não conseguimos levantar nada na época. Parece que essas ações já subiram 22.000% desde que o Lula assumiu; quem tinha mil reais em ações da Telebrás na época pode vender tudo por 220 mil hoje e comprar uma casa. E agora ficou claro o porquê: segundo o tal plano, é a Telebrás que vai coordenar o negócio todo.
O governo diz que quer levar banda larga pra todo mundo, quadruplicar o acesso até 2014. Acontece que fibra óptica é que nem partido político: aceita qualquer coisa. Uma rede estatal de telecomunicações espalhada pelo Brasil com preço subsidiado. Sei não, sei não… Nada impede serviços de voz e TV por assinatura de trafegar por essa rede. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, está todo empolgadinho com o projeto. Vi ele falando hoje na televisão; só faltou revirar os olhinhos. E falou um troço interessante hoje: “se a iniciativa privada tiver condição de fazer a última milha e fizer isso bem conectado com o nosso plano, com os incentivos do governo, ótimo. Se não fizer, nós vamos dar um jeito de fazer”. Olha aí o pensamento da Idade das Trevas.
Dia desses o Lula falou a mesma coisa da hidrelétrica de Belo Monte: “se as empreiteiras não fizerem, eu faço”, ou algo assim. A cada dia que passa, sinto mais forte um cheiro de repartição pública no ar, um futum de naftalina. É o Estado botando as manguinhas de fora, e não tem um Google que venha nos salvar.