Ontem, meu aniversário, foi também o dia em que recebi a fatura de cartão de crédito mais alta de minha vida. Viagem internacional, apartamento, casamento, emprego novo e o natural descontrole financeiro geraram essa conta que não tenho como pagar. Eu já fiz um empréstimo no banco, e a fatura assustadora me pegou de calças na mão. Então vocês imaginem a minha alegria ontem à noite.
Então hoje fui almoçar com o pessoal de uma empresa. Notícia nenhuma, a idéia era mesmo mostrar o escritório novo aos jornalistas e bater papo, um negócio que chamam de almoço de relacionamento. Durante o inevitável tour pelo escritório, o diretor nos apresentou o funcionário mais antigo da casa. A empresa está no Brasil há 71 anos e o velho está na empresa há 57. Um corno desse deve ter uma etiqueta de patrimônio com o número 00001 colada na bunda. 57 anos na mesma empresa, e essa foi a primeira mudança de escritório! Eu fiquei menos de três anos no último emprego e quase endoidei, fico imaginando como vive um feladaputa desse.
Mas aí vocês sabem como é: velho com platéia toca a contar história. Falou que tem mais tempo de empresa do que de casado, falou das mudanças do mercado, do orgulho de trabalhar lá, essas coisas. Disse que antes dava muito valor à carreira, ao dinheiro, mas que hoje dá muito mais valor ao tempo. Segundo ele, os jovens não dão valor ao tempo, acham que vai durar para sempre, quando na verdade é uma conta no banco da qual você só saca e nunca deposita.
— Aí um dia você puxa o extrato e se assusta: “Puxa, só tenho isso?”
O pessoal que estava comigo queria mais era que o velho calasse a boca, mas sua filosofia rasteira me fez pensar. Eu estava todo preocupado com dinheiro e nem pensei no saque que fiz ontem, ao completar 33 anos de vida. Mais um débito no meu extrato, e eu não tenho como saber o saldo. Em vez de me preocupar tanto com a fatura do cartão de crédito, eu devia mais era me esforçar para prolongar a vida.
Sábio velho.
Mas que ele já entrou no cheque especial faz tempo, ah, entrou…