Agora vocês me dêem licença, que eu vou ali ver o show do Roberto Carlos. Se der sorte, pego uma rosa. Mas acho difícil: vou sentar tão longe do palco que só pego uma flor lançada pelo Rei se, além da perna, ele também tiver um braço mecânico.

Estou pensando em testar um negócio chamado HotWords. Pelo que eu entendi, funciona assim: o sistema dos caras varre o conteúdo do site em busca de palavras-chave. As palavras que forem de propriedade de um determinado anunciante aparecem em verde, com duplo sublinhado, e mostram um anúncio que leva à página do anunciante. Ou qualquer coisa assim.
Acontece que eu já tenho Submarino e AdSense aqui, sem contar a malandragem preparada para quem chega ao JMC pelo Google. Então pergunto: mais um sistema de anúncios seria o ápice da ganância? Vocês deixariam de ler o blog?

— Maicon! Maicon!
Acordei aos poucos, me espreguicei. “Maicon” sou eu, de acordo com Ana Júlia, minha sobrinha de três-quase-quatro anos. Ela descia a escada gritando meu nome, claramente tinha algo muito urgente para me dizer, algo que não podia esperar pelo meu despertar natural num fim-de-semana (depois da uma da tarde). Do meio da escada, ela adiantou o assunto:
— Ninguém cuida da natureza!
Terminei de acordar e me sentei na cama. O assunto prometia. Esperei ela entrar no quarto para ver se tinha entendido direito.
— Como é?
— Ninguém cuida da natureza!
— É mesmo?
— É! Os homens jogam lixo no rio e agora não tem mais peixe, só tem mosquito — aqui ela fez uma careta — e barata.
— Hein?
— É! Ninguém cuida, ninguém! Aí aquela água suja entra nas casas e nos carros e estraga tudo.
— Que água, Ana Júlia?
— Do Tietê! Do Tiquatira!
— Ah… E o que a gente faz?
— A GENTE CUIDA DA NATUREZA! — ela já estava perdendo a paciência — Você cuida?
— Claro que cuido. Eu não jogo lixo no chão, nem no rio.
— Eu também. Todo mundo tem que cuidar. Fala pra Carlota que tem que cuidar da natureza!
— Eu falo, pode deixar.
— E que a gente pega os homens feios que fazem isso e joga no rio.
— No rio?
— É. Aí o tubarão pega eles. E os gorfinho.
Mais tarde fui perguntar à minha irmã de onde surgira essa repentina consciência ambiental. Ela me contou que a família estava passando pela Marginal Tietê quando Ana Júlia perguntou se tinha tubarão no rio. Minha irmã explicou que não tinha tubarão, nem peixe, nem nada. Só mosquitos, baratas, ratos. Após uma série de “por quês?”, minha sobrinha formou em sua mente a imagem de um mundo no limiar do desastre e de pessoas que, mesmo assim, não cuidavam da natureza.

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Dias depois, outra preocupação: debatendo o assunto com os amiguinhos na escola (imaginem a cena), Ana Júlia ficou sabendo do perigo que representam os vulcões e furacões.
— Vem o fogo do vulcão, arranca a pele das pessoas e elas viram estátua!
Muito bem, já não era mais uma preocupação tão real. Minha irmã deu risada da história das estátuas e eu briguei com ela:
— O menino que contou isso para ela deve ter visto alguma coisa sobre a destruição de Pompéia. Isso aconteceu de verdade, sua burra.
Ana Júlia me fulminou com os olhos. Eu acabara de ofender a mãe dela. Péssima idéia. Tentei mudar de assunto:
— Mas e a natureza?
— Ninguém cuida, todo mundo suja. Mas todo mundo vai morrer e a gente vai limpar.
— Quem vai morrer? Os adultos?
— É.
— E só vai ficar as crianças?
— Só vão ficar as crianças, Maicon…
O “seu burro” ficou subentendido.