Acabo de ver Erasmo Carlos na TV. “Como está velho!”, dizem as pessoas. Não é que ele esteja velho. Gasto parece ser o termo mais exato, e não falo isso com intenção pejorativa. Vendo suas olheiras, seus ralos cabelos de algodão, suas rugas, a impressão que tenho é que Erasmo viveu demais. Todo mundo fala em viver intensamente, mas ninguém quer ficar com aquela cara. O arauto das palavras simples e certeiras é um ancião precoce.
Olhem para Roberto Carlos. O Rei está velho, sim. Mas é uma velhice serena, apolínea. Roberto é triste, mas tranqüilo. Erasmo parece possuído pela tristeza, parece um escravo da tristeza. Roberto pode cantar louvores a Jesus Cristo e a Nossa Senhora, ou celebrar a eternidade do amor. Só Erasmo pode dizer “Minha sombra me acompanha e vê que eu estou morrendo lentamente”. É como se ambos fossem uma só pessoa. Cabe à metade que é Erasmo Carlos carregar o fardo, sofrer, ter insônia, para purgar a gigantesca fama de seu Outro. Erasmo é a tristeza dos olhos do Rei.
Roberto Carlos é Dorian Gray; Erasmo é o retrato que envelhece na solidão.