Quando se é bonito, tudo contribui para a beleza. O sujeito compra uma roupa qualquer, e lhe cai bem. Engorda, e a mulherada começa a chamar de fofinho, de gostoso. Conheci um bonitão que ganhou o apelido de Bruce Willys quando começou a ficar careca. Bruce Willys!
Eu nunca tive como apelido nome de algum astro de Hollywood (Oompa Loompa não conta). Sim, porque quando você é feio parece que o universo conspira — diria Paulo Coelho — para sublinhar a feiúra. Comprei uma camisa antes de ir a Salvador. Queria uma roupa legal para proferir minha palestra, então comprei uma calça preta de corte reto e uma camisa com listras verticais — aprendi no Queer Eye For The Straight Guy que listras verticais me fariam parecer mais magro e valorizariam meu torso. Qual o quê! No hotel, vesti a camisa, me olhei no espelho e constatei horrorizado que a maldita era transparente e só valorizava mesmo meus mamilos.
Os problemas não se resumem à vestimenta, é claro. Com ser feio, tive que me adaptar a ser gordo e careca. Tudo bem, não é nada. Meu maior problema eram os dentes: ainda na infância, meu último dente de leite a cair foi o canino superior direito. Caiu, e o outro não compareceu para substituí-lo: tímido, ficou enfiado na gengiva. O tempo foi passando, e na adolescência minha dentadura já parecia o teclado de um piano caído do oitavo andar. Um desastre, um desastre. No início deste ano, finalmente criei coragem e resolvi fazer um tratamento ortodôntico.
O destino quis, porém, que meu ortodontista fosse o Sr. Dr. Japonês Maluco. Logo que eu fui lá, ele me disse que seria fácil tracionar o canino para botá-lo em seu devido lugar. Empolguei-me. Bobagem! Hoje meus dentes estão razoavelmente alinhados, e onde deveria existir um canino há um vão livre maior que o do MASP. O arco do aparelho vai passando bracket por bracket nos dentes, e quando chega a esse imenso espaço vazio, atravessa-o como a ponte Rio-Niterói. É uma coisa triste de se ver.
Mas eu dizia que quando você é feio, tudo conspira para piorar as coisas: banguelo do lado direito, eu me esforçava para ser sempre visto pelo lado menos mau. Fazia malabarismos parar rir voltando sempre a face esquerda para as pessoas. Pois até essa pequena vantagem acabou-se: voltei ao Japonês Maluco dia desses, e ele me sapecou um elástico na boca. O desgraçado sai do canino superior esquerdo e engancha sua outra ponta num pré-molar inferior. Para quem olha de repente, parece um fiapão de carne que ficou emaranhado no aparelho. Detalhe: tenho que usar o elástico o tempo todo. Ou teria. Quinta-feira eu fui a uma entrevista. Depois de pensar um pouco, achei melhor deixar o elástico em casa. O troço é feio demais!
Sei não, mas acho que o Japonês Maluco tá de sacanagem comigo. Ou ele ou Deus.