Em uma crônica intitulada O conselheiro come, diz João Ubaldo Ribeiro:

Todo mundo que trabalha em televisão, aqui neste país onde ela é das coisas mais importantes que existem, se acha o máximo porque trabalha na televisão. A síndrome de Bozó, do Chico Anysio, assume várias formas. Os seguranças tratam a gente como lixo, devendo dar-se por felicíssima por ter a chance de aparecer na tevê.

Justamente por concordar com tudo isso que Ubaldo escreveu foi que eu me senti surpreso quando vi Dona Nilda na TV pela primeira vez. Escrevi até um post a respeito: quem era aquela mulher que visivelmente não dava a mínima bola para o fato de trabalhar na Globo? Quem era aquela anti-Bozó? Escrevi o tal post, achei um jeito de mandar e-mail para ela, começamos a conversar e logo nos tornamos amigos.
Hoje somos grandes amigos, trocamos confidências, então foi com estranheza que voltei a vê-la na TV quinta-feira à noite, enquanto esperava que o Ulyman me ligasse para a gente ir tomar umas nalgum boteco soteropolitano. Estava de bobeira, botei no Multishow e lá estava Dona Nilda conversando com os caras do CPM22 (nem tudo são flores). Minha primeira reação foi a de todo caipira ao ver um amigo na TV: preciso avisar o pessoal! (Lembro-me de quando fui ao Meninas Veneno da MTV. Assim que entrou o primeiro intervalo, várias pessoas da família começaram a ligar para me dar os parabéns. Não entendi até hoje). Demorou um pouco para eu me dar conta que aquele era o trabalho dela, e que, para começar, seria improvável que nos conhecêssemos não fosse eu vê-la na televisão.
Achei legal isso. Significa (acho) que a amizade que temos já é tão natural que é como se nos conhecêssemos há anos. Eu sei que sou chato, e que sempre digo isso a respeito de várias pessoas. Mas vou fazer o quê? Sou um sortudo que coleciona amigos de infância temporães.