Estava agora mesmo na varanda deste quarto de hotel, olhando o mar discutir com as pedras lá embaixo. Uma briga antiquíssima, anterior à existência de vida na Terra.
Eu poderia agora dizer algo pernóstico como: o mar vence sempre, é o masculino que seduz e aos poucos penetra a terra, fêmea que ao mesmo tempo resiste e cede às investidas do macho impetuoso. Mas como nunca maltrato meus leitores com metáforas burras e pretensiosas (é sempre uma coisa ou outra), digo apenas: enquanto olhava a briga lá embaixo, lembrei da morte. Da minha morte, para ser exato. Eu vou morrer — hoje mesmo, semana que vem, daqui a cinqüenta anos — e nunca mais poderei assistir ao mar quebrando na praia (é bonito, é bonito). Minha morte afetará a meia dúzia de pessoas, talvez nem isso. E as ondas continuarão a chocar-se contra o continente, indiferentes ao fim de mais uma breve existência, e sem saber o quanto eu gostava de ficar de longe, só olhando seu movimento sinuoso.
Poucas vezes me senti tão só.
Dia: 23 de outubro de 2004
Jabaculê sem-vergonha
Skype
Na quarta-feira de manhã, a abertura do evento ficou a cargo de John Patrick, antigo vice-presidente da IBM e fundador do W3C. A palestra era sobre o futuro da internet. Aí foi o mesmo de sempre: um guru fazendo futurologia, tentando prever o que vai acontecer, e correndo do óbvio para o intangível sem que a platéia sequer percebesse. De qualquer forma, foi uma preleção bem legal, e ele acabou falando sobre uma coisinha bastante interessante: o Skype, software que proporciona tráfego de voz através da internet (funciona também como provedor de Voice over IP para ligar para telefones convencionais, mas aqui no Brasil ainda não vale a pena). Quando ele falou nisso, achei bobagem. Ué, MSN Messenger, Yahoo Messenger, ICQ, todos esses programinhas de comunicação oferecem alguma opção de voz. Para que ter mais um ícone comendo memória ali na minha taskbar?
Ontem eu entendi o porquê: enquanto lia a página do Skype e tentava decidir se valia ou não a pena tentar, me vem a Lila no MSN: “Ei, cê tem Skype?”. Coincidência incrível. Baixei, pois, o danado, e comecei a falar com Lila. Pô, o negócio é melhor que telefone. Eu aqui, Lila no Rio, e nos falávamos de graça com qualidade de voz impressionante e sem qualquer delay.
Experimentem, vocês vão gostar. E quem quiser ouvir essa minha bela voz, é só me adicionar: usuário jesusmechicoteia.
O retorno
Depois de um tempão de angústia, eis que podemos ler novamente o Não vá se perder por aí. Thiago Capanema, que aos dezesseis anos influenciou um bando de blogueiros (inclusive eu, onze anos mais velho que ele), volta agora, aos dezoito, com uma prosa mais madura de estilo já quase definido. Bom menino, o meu sobrinho.
(Saudade, mano.)
Salvador
Acho que escreverei alguns posts sobre esses dias que passei em Salvador. Não sobre a cidade — que não conheci — mas sobre coisinhas que me aconteceram, idéias que surgiram, meditações que se desenvolveram. Mas depois. Por enquanto, contemplem a vista que eu tinha do quarto do hotel: