Tudo pronto para a viagem, roupas na mala, tudo bonitinho. Na última hora (hoje, às sete da noite) me vem um detalhezinho à mente: e os cartões de visita? Sim, porque quem é que vai a um evento dessas proporções e não leva pelo menos uns cem cartões de visita? Marco Aurélio, claro.
Constatada minha imbecilidade — mais uma vez — vesti uma calça, enfiei uns tênis e corri para o Tatuapé, para ver se no shopping center eu teria como fazer os tais cartões. Andei um pouco e logo descobri uma gráfica expressa. Fim dos meus problemas, que maravilha. Entrei, expliquei o que queria ao balconista e ele me pediu para escolher a cor e a textura do cartão. Feito isso ele sentou-se em frente ao monitor e começou a elaborar o bicho.
Maomé do céu! O moço era enrolado que só ele. Fiquei do lado de cá do balcão sugerindo fontes (“Bota o nome em Arial, e embaixo em Times New Roman, itálico”), porque por ele ficaria tudo de um jeito só. Lá pelas tantas ele me pediu para entrar lá e mostrar para ele o que eu queria. Resultado: eu mesmo fiz meu cartão, que foi impresso numa daquelas folhas com cartões destacáveis numa impressora igualzinha à minha. No final, tinha nas mãos cem exemplares de um cartão que eu poderia ter feito em casa. Custaram-me vinte reais.
Mas eu mereço. Claro que mereço.
E com mais essa presepada, despeço-me de vocês. Sexta-feira à noite estou de volta. Comportem-se.

A situação foi ficando difícil, nada de aparecer emprego, então fui trabalhar num pesque-e-pague aqui perto de casa. Mas nada de trabalho ao ar livre: era um pesque-e-pague indoor, ficava nos fundos de um boteco, meio clandestino. Eu acordava ainda de madrugada e ia para lá. Meu trabalho era pescar peixes ensinados com iscas preparadas, de modo e estimular os outros a continuarem gastando seu dinheiro. Resumindo: o negócio era feito um cassino, mas com minhocas em vez de fichas.
Depois de um dia particularmente cansativo, cheguei em casa e estavam todos tristes: meu irmão havia sido preso. Foi comprar folhas de maconha (tão bonitinhas…) com cheque. O cheque voltou, aí fodeu tudo: prenderam o moleque. Aquela choradeira em casa, saí para dar uma volta. Passando em frente ao pesque-e-pague, encontrei Daniel Lima, que fazia uma matéria para TV. Era um programa desses jornalísticos/policiais e ele dizia:
— A mídia é complacente com Danielle Iwoa. Essa menina tem que ir pra cadeia!
Danielle Iowa era a filha do japonês, e estava envolvida no esquema de compra de folhas de maconha com cheques sem fundo. Tá, eu sei que Iowa não é exatamente um nome japonês, mas foi o que se pode arranjar pro sonho. Fui falar com ele:
— Ô, Menezes. Pegou pesado com a menina.
— Eu sei, mano. Mas é meu trabalho, não posso fazer nada. Ó o texto aqui, ó.
Desencantado com um Daniel vendido ao sistema, voltei para casa. Lá me esperava um neguinho que me olhou de cima abaixo e disparou:
— Cadê teu irmão?
Parecia a cena de Cidade de Deus, quando o Dad… Digo, o Zé Pequeno vai até a casa do Mané Galinha e é atendido pelo irmão.
— Meu irmão vacilou. Que nem você.
— Eu? Quando foi que eu…
Mas nem teve tempo: apliquei-lhe uma chave de braço e o bicho caiu duro na calçada. Foi como uma senha: foi ele cair para surgirem chineses de todos os lados. Comecei a lutar com eles. Para minha sorte, o japonês meu patrão ouviu o barulho e veio me ajudar. Depois de distribuir muita cacetada, derrotamos os chineses. Antes de entrar em casa, comentei com o japa:
— Odeio lutar com chineses. Você bate neles, e quando pensa que acabou eles surgem aos magotes vindos sabe-se lá de onde.
Nessa hora eu acordei, espantado por ter usado aos magotes num sonho. Bah, queria saber o que acontece depois.
Antes de encontrar o Daniel, eu tinha passado por uma rua aqui perto e vi uma garota linda vindo na minha direção. Como era sonho mesmo, fui conversar com ela. A menina foi muito simpática, mas se despediu dizendo:
— Se você voltar com o Emotionrélio, eu fico com você.
MAS QUE PORRA!

Não, não me refiro às mulheres do post abaixo. Essas estão na terra, graças ao bom Deus. Falo das baratas. Não, NÃO! Das idéias.
Estava agora lendo o último post do Sr. Paulo Vivan (tive que copiar e colar no bloco de notas, porque o Chickendog é um blog que odeia o Mozilla) e levei um susto que me fez saltar da cadeira até a prateleira mais alta, e descer de volta dançando como um cossaco acometido de hemorróidas. Pois, vejam vocês, há tempos venho tentando desenvolver a Seita das Duas Baratas.
A idéia me surgiu numa noite de insônia e angústia. Eu pensava: cada um diz que a vida após a morte é de um jeito, e muitos são exclusivistas: só seguindo determinada religião sua vida no além vai ser bacana, seguindo qualquer outra (ou nenhuma), você é condenado a algo bem desagradável. Passar a eternidade sendo um cossaco com hemorróidas, por exemplo. Juntei a essa questão a minha absoluta ojeriza às baratas, e voilá!, surgiu a Seita das Duas Baratas.
Funciona assim: quando alguém morre, reencarna não como uma, mas como duas baratas. Sabem como é, baratas estão sujeitas à morte por envenenamento, ou pisoteadas por batalhões de cossacos com hemorróidas. Então você morre e reencarna em duas baratas: uma delas vive a vida de barata, cheia de aventuras e coisas nojentas; a outra fica quietinha lá no ninho, como backup. Essa barata de contingência só convive com as de sua estirpe: seria muito arriscado ter contato com as baratas normais hoje em dia, com todo mundo usando Matox. Pois então, o papel das reencarnações salteadas (uma como ser humano, outra como duas baratas) é de queimar carma rapidinho: um dia Deus percebeu que certas pessoas eram tão ruins, mas tão ruins, que levaria tempo demais para pagarem pelo que fizeram. Sendo assim, encomendou uma pesquisa para saber que tipo de vida faria esse carma ruim ser gasto mais rápido, e conclui-se que as baratas dariam conta. Então O Todo-Poderoso, em sua infinita sabedoria, dotou as baratas de grande resistência às condições mais desfavoráveis, e as incumbiu da missão de levar toda a humanidade mais rapidamente aos pés de Seu Trono, que fica entre os querubins, com Seu Amado Filho assentado à direita e toda uma comitiva de cossacos para recepcionar os recém-chegados.

Tão olhando o quê? Tanta religião absurda por aí. Isso aí é um rascunho ainda, só resolvi postar agora porque fiquei besta (mais) com o post do Vivan. Mas se eu trabalhar bem essa idéia, capaz de ainda ganhar uma grana…

Ou então! Ou então!
Na verdade as baratas foram feitas à imagem e semelhança de Deus, e nós somos apenas os dispositivos de pagamento de carma para os simpáticos ortópteros.

(E eu juro que pensei nisso há meses, e tenho testemunhas. Que Paulo Vivan não queira me processar, Deus nos livre.)