Os leitores novos não sabem o que eu quero dizer com o título deste post. Os mais antigos — pobres almas que insistem em ler minhas bobagens — hão de se lembrar de uma série de respostas que eu dei a fundamentalistas que, por obra e arte do Sr. Capeta, vieram parar por aqui. Quem quiser ler as respostas, é só clicar aqui, aqui, aqui… Bah, façam uma busca ali do lado por “mensagens edificantes”, tem um monte. O negócio é que ontem eu recebi uma mensagem que me pareceu digna de resposta naquele estilo. Então fi-lo.
Para começar, a mensagem:

De: Marcio Farias <petshopboybr@yahoo.com.br>
Para: marco@jesusmechicoteia.com.br
Assunto: AONDE TU QUER CHEGAR????
EI NAO PRECISA DIZER MUITA COISA PRA SABER QUE TU E UM SATANISTA, MAS ME FALA, QUAL FOI A DECEPÇAO?O QUE O DIABO BOTOU NA TUA CABEÇA?SE ME DER UMA RESPOSTA EU POSSO ATE TENTAR COMPREENDER MAS JAMAIS ENTENDER UM SITE PEJORATIVO COMO ESSE, FICA SABENDO QUE ESSE HOMEM QUE TU BLASFEMA MORREU NA CRUZ POR TI!!!!!DEUS ABENÇOE!

Que beleza, não? Maravilha. Resposta:

De: Marco Aurélio dos Santos <marco@jesusmechicoteia.com.br>
Para: Marcio Farias <petshopboybr@yahoo.com.br>
Assunto: Re: AONDE TU QUER CHEGAR????
Caríssimo Marcio,
As Organizações Jesus, me chicoteia! agradecem pelo contato. É motivo de imensa alegria para nós ver pessoas como você lutando tão tenazmente contra as próprias limitações. Imaginamos o quão difícil foi para você concatenar um ou dois arremedos de idéia e colocá-los num e-mail a nós endereçado. Sua mensagem não faz muito sentido, é verdade, mas compreendemos suas dificuldades e apreciamos seu hercúleo esforço. Por favor, lembre-se de nos enviar (ou pedir a alguém que o faça) os dados da instituição em que está, para que assim possamos enviar nosso donativo.
Mas o senhor pergunta o que foi que o Diabo pôs na cabeça de nosso CEO, o Sr. Marco Aurélio dos Santos. Infelizmente, nós também não sabemos. Parece que ele pediu ao Canho que lhe botasse um pouco de cabelo, mas o Sr. Belzebu fez ouvidos de mercador. Quanto à sua primeira dedução, pode ficar sossegado: nosso CEO acha a figura do Diabo muito mais ridícula que a de Deus, então não adora nem a um nem a outro (embora costume dizer que, na Bíblia, Satanás nunca fez nada contra os homens, ao contrário de Javé). Nosso CEO diz ainda que não pediu a ninguém que morresse por ele, então não se sente responsável pelos atos de outrem.
Esperamos que esta nossa resposta tenha sido simples o suficiente para que o senhor a pudesse compreender e também entender. Não hesite em contatar-nos caso ainda tenha alguma dúvida. Solicitamos, porém, que o senhor peça a algum monitor da instituição que redija a mensagem. Assim será mais fácil para nós atinarmos com suas intenções.
Atenciosamente,
Nicole Kidman
Assessora de Imprensa e Secretária do Sr. Marco Aurélio dos Santos, CEO das Organizações Jesus, me chicoteia!

(II Samuel 6)
A tomada de Jerusalém e a subseqüente vitória sobre os filisteus bastaram para dar a Davi toda a autoridade política de que precisava. No entanto, ser israelita não consistia apenas em nascer em Israel: o mais importante, na verdade, era seguir a lei mosaica, a religião que era o grande fator de união para o povo. Davi sabia disso, então teve a idéia de centralizar a religiosidade israelita em Jerusalém. Com isso em mente, convocou trinta mil de seus melhores soldados e partiu para a cidade de Baalim, em Judá.
Baalim era uma cidade também conhecida pelo nome de Quiriate-Jearim. Naquela cidade, no alto de um morro, ficava a casa de um tal Abinadabe. Naquela casa, desde antes do reinado de Saul, repousava o mais sagrado dos objetos da religião de Israel: a Arca do Acordo, dentro da qual estavam guardadas as tábuas dos Dez Mandamentos, a vara de Arão e uma porção do maná com o qual Javé alimentara o povo no deserto durante o Êxodo. O velho baú estava esquecido na casa de Abinadabe: desde que Saul massacrara quase todo o clã sacerdotal, a religião perdera sua força. A idéia de Davi era trazer um reavivamento espiritual, e com isso unir todo o povo em torno de sua liderança. Para isso, precisaria de toda a pompa que conseguisse, daí essa comitiva de trinta mil homens: era necessário impressionar o povo com a grandiosidade do evento.
Chegando a Baalim, Davi entrou na casa de Abinadabe e pediu para ver a Arca. Como a maior parte do povo, ele nunca havia visto o objeto sagrado, e ficou estupefato: o baú era todo revestido de ouro, e trazia na tampa dois querubins de ouro maciço, um de frente para o outro. Era uma bela obra de ourivesaria, não havia dúvida. Empolgado por perceber que aquilo causaria impressão maior ainda ao povo, ordenou que se preparasse um carro de bois para levar a Arca até Jerusalém. Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro. Em volta dele, iam Davi e todo o povo.
A parada seguia em direção a Jerusalém, e recebia novos participantes a todo momento. Logo surgiram os instrumentos musicais: harpas, liras, tambores, pandeiros, címbalos. Todos cantavam e dançavam, comemorando a ida de Deus para a capital. No meio do caminho, porém, um incidente desagradável ameaçou jogar areia sobre a alegria do povo: quando o cortejo passava pelas terras de um certo Nacom, um dos bois, cansado, tropeçou. O carro oscilou e a Arca ameaçou cair. Num gesto reflexo, Uzá estendeu a mão para ampará-la. Imediatamente, BZZZZZZZZZZZZ, PUF!, era uma vez Uzá, fulminado pela ira divina.
Davi ficou furioso: planejara a festa com todo o cuidado, preocupara-se com os mínimos detalhes, e agora Javé vinha estragar tudo. O rei fechou a cara, chamou o lugar de Perez-Uzá (castigo de Uzá), e decidiu que o cortejo seria interrompido. A princípio, era excelente a idéia de levar a Arca para Jerusalém e centralizar ali o culto a Javé. Por outro lado, não interessava muito ao rei ter por perto um objeto que podia causar morte ao simples toque. Então providenciou a remessa da Arca para o povoado mais próximo, onde foi entregue aos cuidados de um certo Obede-Edom.
Lá em cima, Javé bateu na testa e disse “Putz! Malditos anjos!”. Pegou o elevador e desceu até o Setor de Monitoramento de Segurança:
— QUE PORRA VOCÊS FIZERAM, SEUS SONGOMONGOS?
— Er… Bem… Veja bem, Senhor. O alarme da Arca tocou, então adotamos o procedimento padrão.
— PROCEDIMENTO PADRÃO? QUE PORRA DE PROCEDIMENTO PADRÃO?
— Ué. Tocou a Arca, morre.
— QUEM FOI O IMBECIL QUE DISSE ISSO?
— Er… O Senhor mesmo, Javé.
— EU???
— É…
— Hum. Mas, porra, cês têm que ter mais jogo de cintura. Não podem fazer tudo de acordo com o manual e pronto. Olhem lá embaixo: não temos Tabernáculo, não temos sumo-sacerdote, não temos porra nenhuma! Minha popularidade já era, e o Davi estava quebrando um galhão com esse negócio de levar a Arca lá pra cidade dele. E AÍ ME VÊM VOCÊS E FODEM TUDO!
— …
— Bah, agora já era. Como estão as coisas?
— O Davi entregou a Arca a um tal Obede-Edom.
— Sei, sei… Vamos ter que dar uma mãozinha para arrumar essa merda toda.
— Como, Senhor?
— NÃO INTERESSA! Deixem que eu cuido disso. Façam aí seu trabalho, e tomem cuidado para não cagar mais nada.
— S-sim Senhor…
— E NÃO ADIANTA IMITAR O MOISÉS PRA TENTAR ME AGRADAR!
— …
— HUMPF!
Javé abanou a cabeça: não devia ser assim, caramba. Mas precisava arrumar a bagunça causada pela morte de Uzá, então passou a ajudar Obede-Edom. Logo suas colheitas passaram a ser fartas, seus animais começaram a se reproduzir em ritmo nunca visto, suas oliveiras e videiras começaram a render o melhor azeite e o melhor vinho. Obede-Edom enriquecia, e o povo logo somou dois mais dois e concluiu que tamanha prosperidade só podia ser explicada pela presença do objeto sagrado em sua casa.
Não tardou para que os fofoqueiros levassem a novidade até Davi. O rei mandou que homens de sua confiança fossem averiguar a situação, e eles confirmaram: depois da chegada da Arca, a vida de Obede-Edom e sua família melhorara de uma tal forma que só mesmo alguma interferência sobrenatural poderia explicar. Pensando que, com isso, Javé mostrava que estava pronto a ceder um pouco, Davi retomou seu projeto: organizou uma comitiva maior e mais vistosa que a primeira, e foi até a casa de Obede-Edom para trazer a Arca.
Não estavam muito longe de Jerusalém, mas o cortejo demorou muito para chegar, porque a toda hora o rei parava tudo para matar animais e oferecê-los em sacrifício a Javé. Sabem como é: por via das dúvidas, convinha bajular um pouco para evitar novas manifestações de cólera. E então Davi protagonizou uma das cenas mais estapafúrdias da Bíblia: depois de tanto suar matando e queimando bois e carneiros, Davi não agüentava mais suas roupas, e improvisou uma tanga com a estola sacerdotal. Abiatar que não deve ter gostado nada de ver o paramento (que o rei insistia em chamar de cachecol das pedrinhas) usado como cueca. Não ia discutir, porém, e Davi seguiu seu caminho usando sua fralda de lã, linho puro, fios de ouro e pedras preciosas.
Quando finalmente entrou em Jerusalém, Davi ficou tão empolgado que tomou a frente do desfile e começou a dançar freneticamente: jogava as pernas para lá, jogava as pernas para cá, descia até o chão, botava a mão no joelho e dava uma abaixadinha, fazia carinha de quem tá gostando demais, enfim, a coisa mais linda dentro daquela tanga improvisada. De uma das janelas do palácio real, Mical assistia à cena. Vendo o papel desempenhado pelo marido, sentiu por ele um profundo desprezo.
Alheio à presença furtiva da esposa, Davi continuou dançando por todo o caminho até o Tabernáculo, que tinha mandado reformar e armar para abrigar a Arca. Lá chegando, ofereceu mais sacrifícios e deu a cada pessoa que acompanhava o desfile um pão, um pedaço de carne assada e um bolo de passas. Todo mundo voltou pra casa feliz e alimentado, e o rei deu por cumprida sua missão.
Ao chegar ao palácio, porém, percebeu que havia algo errado logo que viu Mical à porta. A mulher estava com os braços cruzados, o nariz empinado e o pé batendo nervosamente no chão. Os olhos faiscavam. O rei tentou desarmá-la:
— Oi, minha rainha linda…
— Não vem com papo furado, Davi.
— Hein?
— Pensa que eu não vi a presepada? Que feio, hein, seu Davi? Dançando na rua quase pelado, a mulherada toda vendo! Sem-vergonhice…
— Ah, Mical, não enche! Cê tá pensando o quê? Que por ser filha de Saul pode mandar em mim? Pois eu tô cagando pro seu sangue azul! Deus me escolheu antes mesmo que seu pai fosse rei, tá sabendo? Seu pai morreu, eu ocupei o trono, e agora sou o rei, você aceitando ou não. Então se eu quiser dançar para Javé, eu danço. E me humilho muito mais que isso, se for necessário. Você pode pensar que eu não sou nada e, quer saber? Eu não ligo! A mulherada a que você se referiu vai me dar muito valor, pode deixar.
— Ai, Davi, também não é pra tanto. Vem aqui com a Mical, vem…
— Sai daqui! Vai pro seu quarto, me deixa em paz.
A partir de então Mical foi desprezada por Davi, e nunca teve filhos. O rei não se preocupava com isso, porém: com a Arca em Jerusalém, pensava no próximo passo que daria para fortalecer novamente a religião israelita.

Allan Sieber ousou escrever um post falando que não suporta os Jogos Olímpicos. Pior, pior: ainda teve a coragem de desenhar um cartum tirando sarro dos nossos meninos do vôlei! Ora, ora, ora! Quem esse tal Sieber pensa que é? Tudo bem, Olimpíadas são um saco. Tá, ninguém agüenta mais ver Daiane dos Santos em todos os canais, em todos os jornais e revistas. Mas isso lá é motivo pro cartunista vir tirar sarro das Olimpíadas? Claro que não!
Ok, ok, tem também esse povo que fica contando quantas medalhas os brasileiros já ganharam é um pé no saco. Aliás, eles nem falam das medalhas que brasileiros ganharam: são as medalhas que o Brasil ganhou, eles dizem, e dão aquele sorriso sonso de Galvão Bueno. Percebe? Não foram só eles! Foi você, fui eu, fomos todos nós, FOI O BRASIL! Estufa o peito! Gustavo Borges é o Brasil de touquinha! Daiane dos Santos é o Brasil de collant! O time de vôlei masculino é o Brasil levando tapinhas na bunda! Edinanci Silva é o Brasil macho pra caralho! Ê, BRASILZÃO!
Ufanismo à parte, é aquela aporrinhação de sempre: é um que corre feito o capeta, é outro que joga um pedaço de pau longe que só a porra, é aquele que dá piruetas e cai na piscina, é aquele outro que reima feito um condenado às galés.
Ah, dêem um tempo! O Sieber tem razão: troço mais chato…

Quem trabalha ou já trabalhou com suporte técnico deve conhecer o truque. Quero crer, aliás, que funcione com qualquer atividade que envolva solução de problemas. Bom, é assim: frente a um problema que se mostra resistente a todas as tentativas de solução, em vez de ficar esquentando a cabeça você o deixa de lado e vai dormir. Na manhã seguinte, com sorte, a solução surgirá na sua cabeça, tão simples e clara que o fará sentir-se o pior dos imbecis. Então, cansado de brigar com meu micro que desligava sozinho, fui dormir (às sete da manhã, horário não muito ortodoxo) e tive um sonho.
O sonho começou como um documentário de TV. Era sobre um jazzista americano dos anos 40. Negro, pobre, tinha como maior sonho vir ao Brasil para pesquisar os ritmos daqui e transportá-los para o jazz. A trilha sonora do começo do documentário era um jazz bem tradicional. Depois da viagem do tal músico ao Brasil, a música muda: ele conseguira fundir os ritmos brasileiros com o jazz, inventando um estilo musical mais poderoso e cadenciado. Nesse ponto, o documentário passa a ser uma matéria de jornal. Não me perguntem como, sonho tem dessas coisas. Na matéria, ficamos sabendo sobre os recentes problemas do jazzista com sua mulher. Desconfiado de que ela o traía, escondeu uma câmera no quarto em que ela dormia. Ao assistir aos vídeos, porém, percebeu que havia trechos longos sem imagem nem som, só chuvisco e estática. Volta para o documentário: em todos os vídeos, depois da imagem danificada aparecia a cama da mulher com uma mancha de sangue. O músico aparece falando com a câmera. Diz que a princípio pensou que a mulher estivesse praticando abortos. Mas seria incapaz de imaginar o que realmente acontecia.
Outra mudança de narrativa: agora o sonho é um romance de José Saramago. Em seu estilo peculiar, Saramago conta como a polícia retirou as táboas do assoalho do quarto, cavou e fez a descoberta mais inusitada: Super Homem, Batman, Homem Aranha, Capitão América e vários outros super-heróis estavam sepultados sob o piso do quarto. Alguns ostentavam ferimentos no peito, sempre com o mesmo formato: dois talhos fundos de um dedo de espessura, na diagonal. E foi uma confusão danada a exumação dos corpos, com todo o público conhecendo as identidades secretas de todos eles.
Quando acordei, às três da tarde, sabia o que fazer: liguei meu micro, entrei no BIOS Setup e configurei um tal AGP Aperture Size para 64Mb. E voilá, o bicho permaneceu ligado um tempão, sem dar qualquer problema até agora.
É tão bom ter sonhos assim, esclarecedores…