Há uma cena em Cazuza – O Tempo Não Pára que resume bem o espírito do filme. Cazuza corre pelo meio da avenida Atlântica, com o empresário em seu encalço. O poeta chora, o empresário grita seu nome. Enfim, Cazuza cai na areia e diz:
— O médico disse que eu fui tocado pela Aids, Zeca! Eu vou voltar pra onde tudo começou!
E corre para o mar, enquanto a câmera o acompanha aos solavancos, fazendo a cena parecer uma mistura de Blair Witch Project com Menino do Rio. Muita gente há de adorar essa cena. Eu apenas pensei: o cara acaba de saber que é soropositivo, e ainda tem o sangue frio de soltar duas frases de efeito, uma seguida da outra?
Se fosse só essa cena, porém, eu nem ligaria. O negócio é que durante todo o filme, o personagem de Cazuza se comporta da mesma maneira. Quando conhece o Frejat e os outros componentes do Barão Vermelho, em casa com os pais, na delegacia preso com os amigos malucos, no bar, não importa: ele tem sempre uma frase preciosa na ponta da língua, como se esperasse há tempos o momento de usá-la.
Eu não creio que Cazuza tenha sido assim. Ele parecia ser um cara legal, e eu não consigo imaginar nada mais chato do que um poeta full-time.