O tal do Código Da Vinci

Bom, falemos desse maldito livro.
Para começar, vocês não imaginam a raiva que eu tenho desse tal Dan Brown. O cara escreve mal, não tem sequer UMA boa idéia, cria personagens que não convencem e se mete a escrever um thriller (ou sei-lá-o-quê) de quase 500 páginas. O resultado? Um lixo. Jesus, como é ruim! Vou tentar explicar a ruindade do romance em toda a sua extensão; duvido que consiga. Talvez eu acabe revelando aqui e ali partes do livro que possam interessar a quem ainda queira lê-lo. Aviso, portanto: este post pode estragar o livro para quem ainda não leu. Mas considero o aviso idiota: o livro já saiu estragado da cabeça do autor. Se você está pensando em ler algo apenas divertido, que não exija grande esforço mental, tente Sidney Sheldon. É sério. Li um livro do Sheldon. É ruim de doer, mas pelo menos a história é legal e o livro chega ao final sem traumas.
Eu tenho pensado há dias numa forma de explicar resumidamente o porquê de o livro ser tão ruim, e creio ter encontrado no Cálculo Integral a melhor metáfora. Sabem aquele negócio de tender ao infinito? Então, O Código Da Vinci parece um tratado sobre o cálculo do óbvio. Ele tende ao óbvio o tempo todo: dentre todas as cidades do mundo, passa-se em Paris. Dentre tantos lugares da capital francesa, o autor escolheu o Museu do Louvre. Precisava de um artista que tivesse obras expostas no Louvre, e pensou logo em quem? Leonardo Da Vinci. Precisava de obras de Da Vinci para emprestar um certo verniz cultural a sua rasa literatura, e escolheu quais? A Mona Lisa e a Santa Ceia, é claro. E assim vão as obviedades, empilhando-se umas sobre as outras até que o leitor, quase sufocado, joga o livro para o outro lado do quarto. Eu, pelo menos, fiz isso várias vezes. Principalmente ao ver que os dois protagonistas, que deveriam ser inteligentíssimos, demoram um tempão para identificar uma Seqüência Fibonacci, a seqüência matemática que só é menos óbvia do que o conjunto dos números naturais.
Fora as obviedades, que seriam perdoáveis, há os furos. O leitor de Agatha Christie e Conan Doyle sabe que um livro de mistério não pode se dar ao luxo de ter furos no enredo. Pois bem, o Código Da Vinci é uma peneira: o personagem que morre logo no começo tem 66 anos e uma neta de 32. O grande vilão escolhe como executor de seus crimes um enorme frade albino com um cilício na coxa. Não liga para discrição, pelo jeito. A tal neta de 32 anos, que vem a ser a mocinha, lembra-se de ter encontrado quando criança uma chave numa das gavetas do avô. Quando ela e o herói estão fugindo da polícia e encontram a chave, ele fica olhando para o objeto sem saber de que se trata. Claro: uma menina de nove anos sabia que era uma chave, um grande professor de Harvard é incapaz de tal proeza intelectual. O inspetor de polícia, tido por todos como inteligentíssimo, empresta o celular para que o principal suspeito do crime faça uma ligação. Apenas HORAS depois de o suspeito ter se empirulitado pelas ruas de Paris é que o genial inspetor se lembra de verificar para onde ele havia ligado.
E há os clichês. MUITOS clichês. Até o rastreador plantado no bolso do suspeito. Eu achava que ninguém mais usasse isso em livros ou filmes, mas me enganei. Pior: o inspetor não tem por que rastrear o professor. Ele sequer sabe que é suspeito. Mesmo assim, o rastreador é plantado e os agentes acompanham os movimentos do professor (até então restritos ao museu) numa tela de GPS. Quando vêem que o pontinho piscante saiu do museu, deduzem imediatamente que o professor pulou a janela. Detalhe: a janela fica a doze metros de altura. É claro que o espertíssimo inspetor não pensa na possibilidade de o suspeito ter jogado o rastreador pela janela. Claro que não! Acredita que ele pulou mesmo e caiu em cima de uma carreta. Ele e seus homens saem do museu em perseguição à carreta, deixando o museu desguarnecido. Claro, não é? Como teríamos história sem essas demonstrações de imensa idiotice por parte dos personagens? Bom, talvez com algum talento do autor. Mas acho que hoje em dia isso é exigência excessiva.
E tem muito mais, muito mais! O livro é ruim e óbvio do início ao fim. Por exemplo: o que causa todo o rebuliço é o fato de o inspetor desconfiar do professor de Harvard. Como a neta do falecido (uma criptógrafa da polícia francesa, também — preciso dizer? — muito inteligente) fica sabendo disso, providencia sua fuga. As suspeitas do policial não têm base alguma, então o leitor deduz que ele tem alguma ligação com os cara malvados. Quando o livro chega ao final e fica claro que tal ligação não existe, o leitor coça a cabeça e pensa “ué…”. Porque se o tal professor simplesmente se deixasse prender, logo ficaria provado que ele não tinha nada com o caso e não haveria maiores conseqüências. Quero dizer, estamos falando da polícia da França do século XXI, não da Inquisição Espanhola. Ele poderia investigar tudo com calma,achar o Santo Graal, os ossos de Maria Madalena e essa bobagem toda, e talvez comer sua criptógrafa sossegado. Mas não: ele se torna fugitivo da polícia, rouba um carro-forte, faz um refém, vai para a Inglaterra ilegalmente. O livro todo, portanto, se baseia numa premissa fraquíssima: a de que duas pessoas inteligentes resolveriam cometer vários crimes apenas para fugirem à mera suspeita de um.
Ah, é horrível. Cansei de falar nisso. Leiam a crítica do Pedro Doria, bem mais centrada e calma. E é o seguinte: o primeiro que comentar este post dizendo que quer o livro, ganha. Sério. Envio pra qualquer canto. Eu não consigo nem olhar para essa capa vermelha. Quero esquecer que um dia tive a paciência de ler 470 páginas do mais puro lixo.