Alguém aí pode me explicar um negócio? Seguinte:

Incomodada ficava sua a avó. Ficava úmida, insegura, menstruação era um desconforto.
Aí veio a nossa geração, que ficava incomodada do mesmo jeitinho. Mas pra sorte nossa, agora a gente tem Tampax.
Tampax é o absorvente interno que vem com aplicador, que deixa o absorvente no lugar certinho.
Tampax, o absorvente da mulher ativa.

Muito bem. Eu acho que o slogan nem era esse, mas estou mais ou menos certo quanto ao resto. A pergunta é: POR QUE DIABOS EU SEI ISSO DE COR DESDE O COMEÇO DA DÉCADA DE 90, E VIVO DECLAMANDO O TEXTO DO COMERCIAL NAS SITUAÇÕES MAIS ESTAPAFÚRDIAS?
Obrigado.

(I Samuel 21)
Davi sabia muito bem que não estava seguro em lugar nenhum dentro do território israelita. Precisava fugir para longe, mas antes passou em Nobe para falar com o sacerdote Aimeleque (ao que parece, o Tabernáculo fora movido de Siló para Nobe. A mudança não é mencionada em parte alguma). Vendo quem se aproximava, Aimeleque ficou com medo. Sabia que Davi era persona non grata no reino. Foi falar com ele todo trêmulo:
— O que você está fazendo aqui?
— Ô, Aimeleque. Queria falar com você.
— Queria falar o quê? O rei está te perseguindo, que eu sei.
— O rei? Me perseguindo? Que é isso, rapaz! Isso foi antes. Ele teve um daqueles surtos, sabe como é.
— Sei, sei…
— Mas agora já está tudo bem. Tanto que ele me enviou para cumprir uma missão. Estou viajando já há algum tempo. Saí às pressas e não tive tempo de fazer provisões. Por isso vim até aqui, para ver se você tem uns pães ou alguma outra comida para me dar. Eu e meus homens estamos com uma fome desgraçada.
Aimeleque olhou em volta e não viu mais ninguém.
— Que homens, Davi?
— Que homens? Ah! Não estão comigo agora. Nos separamos e combinamos um encontro noutro lugar mais adiante. É uma missão altamente secreta. Eu nem deveria estar falando sobre isso agora. Mas confio em você, Aimeleque.
— Puxa. Obrigado.
— Oras, mas não tem de quê! Você é um homem de confiança, eu sempre soube. Mas e aí, tem alguma comida para nós?
— Pois é, Davi. Eu só tenho os Pães da Propiciação.
— Ué, acho que Dona Propiciação não vai ligar de dar uns pãezinhos pra gente…
— Ai, ai… Estou falando dos pães sagrados, Davi.
— Ah, esses. Hum. E aí, tem jeito?
— Depende. Você e seus homens estão puros?
— Como assim?
— Er… Estiveram com mulheres ultimamente?
— Bom, ontem nós conversamos com umas meninas perto do poço que fica em…
— VOCÊS ANDARAM TREPANDO?
— Ah, isso. Não, não. Claro que não, Aimeleque! Se já ficamos em abstinência quando cumprimos missões corriqueiras, tanto mais numa missão assim importante. Estamos na seca.
— Ah, então está tudo certo. Já está mesmo na hora de trocar os pães, te dou os que estão diante do altar agora. Tudo bem?
— Peraí. Não são esses os pães que são colocados todo sábado numa mesa, com incenso queimando em cima?
— Exatamente.
— Pô, Aimeleque! Vai me dar pão velho de uma semana, e ainda impregnado de incenso? Não fode!
— Bom, é só o que eu tenho. Quer ou não quer?
— Bah. Tá bom, dá aí.
Aimeleque entrou na Tenda Sagrada e voltou trazendo os doze pães, cada um pesando dois quilos. Entregou tudo a Davi, que os arrumou num saco.
— Pronto, Davi. Agora, se você me dá licença…
— Peraí, Aimeleque, só mais uma coisa. Você não tem aí alguma espada ou lança para me emprestar?
— Ué. Como é que você sai para uma missão tão importante desarmado?
— Para você ver como o negócio é urgente! Saí correndo de casa e nem tive tempo de pegar nada.
— Hum. Bom, tem uma espada aí que eu acho que você conhece.
— Que eu conheço?
— Sim. A espada de Golias. Está enrolada num pano lá dentro, atrás da estola sacerdotal.
— Que maravilha! Espada melhor que aquela não existe! Pode me emprestar a danada?
— Leva, ué. Sou sacerdote, pra que vou querer espada? Ainda mais daquele tamanho…
Aimeleque voltou a entrar no Tabernáculo para pegar a espada. Entregou a arma a Davi, que agradeceu e saiu apressado. Tinha que sumir de Israel o mais rápido possível. Por enquanto, estava tranqüilo: Saul ainda não sabia de seu paradeiro, e não teria como saber. O que Davi não sabia é que um tal Doegue, edomita e chefe dos pastores de Saul, estava presente em frente ao Tabernáculo justamente na hora em que ele e Aimeleque conversavam. Muito azar.
Davi pegou a estrada saindo de Nobe e foi para Gate, uma das cinco grandes cidades da Filistia. Chegou e foi logo falar com Áquis, governador da cidade, para lhe pedir asilo político. Contava com seu anonimato, afinal estava bem longe tanto de Belém quanto do palácio real. Porém, bastou que os servos de Áquis o vissem para que advertissem o governador:
— Excelência, acho que esse é o Davi.
— Davi? Que Davi?
— Aquele rei israelita.
— Até onde eu sei, o rei de Israel é Saul.
— É, ainda é ele. Mas dizem que esse Davi aí está de olho no trono, e não demora muito a usurpá-lo. Era para ele aquela musiquinha que as mulheres israelitas cantavam depois da última guerra.
— Que música?
— Aquela! Umas cantavam: Lá no campo de batalha / Lutando em nome de Deus / Escorraçamos a gentalha: / Saul matou mil filisteus, e as outras respondiam: Isso é muito notável / Nosso rei é mui viril / Sua coragem é inabalável / Mas Davi matou dez mil.
— Ah, estou lembrado. Será que é ele mesmo?
— Tenho quase certeza, excelência.
Davi, sentado num canto enquanto esperava ser atendido, ouviu que um dos servos cantava a música que ele bem conhecia, e percebeu que era alvo de desconfianças. Estava em território inimigo, e os filisteus ainda se lembravam muito bem da morte de Golias, seu maior herói. O que fazer? Não tendo muito tempo para pensar, improvisou: começou a babar, balbuciar coisas sem sentido e rabiscar a madeira das portas. Áquis caiu direitinho em sua encenação:
— Mas que porra é essa? Esse cara é maluco, maluco! Por acaso estão faltando doidos na Filistia, para vocês me importarem esse de Israel? Não, já me bastam os birutas que tenho ao meu redor. Tirem esse louco daqui, por Dagom!
Os guardas pegaram Davi e o carregaram para fora da cidade, enquanto ele babava e esperneava. Já fora de Gate, soltou um suspiro de alívio. Tivera muita sorte. Poderia continuar contando com a sorte? Logo saberia.

Anteontem ligaram aqui em casa. Uma voz suave, linda. Melissa, o nome da moça. Perguntou se eu tinha inglês fluente e me chamou para uma entrevista. Então marcamos para ontem às 16h30min.
Ontem desenterrei meu terno mais apresentável. Fazia tempo que eu não usava roupa de palhaço, então me assustei ao constatar que as calças estavam muito frouxas. Era de se esperar, eu pesava mais dez quilos quando comprei o terno. “Tudo bem”, pensei, “aperto a danada com o cinto”. Só que o meu único cinto decente está precisando de mais uns dois ou três furos. Pensei que ao menos sentiria um alívio ao me enforcar com a gravata. Qual o quê! Meu pescoço continua da mesma espessura, e eu quase sufocava dentro do colarinho. Eu nunca me lembro de comprar camisa nº4 com colarinho nº5, aí dá nisso: com a camisa e o colarinho na mesma numeração, eu corria o risco de interromper o fluxo sangüíneo para o cérebro e me dar mal na entrevista. Fora que, do jeito como o organismo masculino funciona (irrigando o cérebro OU o pênis, nunca os dois), era capaz de eu passar por certos embaraços na frente da moça. Não havia tempo para arrumar nada, porém, então saí de casa assim mesmo. De terno e gravata eu parecia até um homem respeitável.
Talvez por causa do terno, talvez pela empolgação de finalmente ser chamado para uma entrevista, consegui um feito inédito em meus 29 anos de vida: abordar uma garota no metrô. Eu sempre admirei (e invejei um pouco) a desenvoltura com que certos caras abriam um sorriso, diziam “Oi” e emendavam uma conversa animada com uma total desconhecida. E ontem chegou minha vez de agir como eles.
Uma morena lindíssima sentou-se ao meu lado. Puxou um livro de dentro da bolsa. Eu tenho mania de querer saber o que os outros estão lendo, nem que seja para dizer “Puta merda, só se lê livro espírita neste país”. Me retorci todo pra ver a capa do que a moça estava lendo. Talvez percebendo, ela facilitou minha vida botando o livro sobre o banco enquanto procurava algo na bolsa. Era Macunaíma de Mario de Andrade. “Com essa eu tenho assunto”, pensei, mas cadê coragem de falar com ela.
Enquanto isso, ela terminou de vasculhar a bolsa. Estava procurando o crachá, um daqueles que parecem uma pastilha retangular, sabem? No crachá, como era de se esperar, seu nome: Gabriela. Ela espetou a pastilha no peito e olhou para mim. Epa. Acho que ela queria mesmo que eu puxasse assunto. Então eu abri a boca para falar. Esperava que minha voz saísse esganiçada, ou abafada, mas fui surpreendido por um tom firme e casual:
— Primeira vez este ano que eu vejo alguém lendo no metrô algo que não seja um livro espírita. Parabéns.
— Puxa, obrigado. Eu também não suporto.
Ela não me rejeitou! Não virou a cara! Até sorriu, meu Deus! Ficou bem mais fácil:
— Mario de Andrade é muito bom, né?
— É sim. Este é o primeiro dele que estou lendo. E estou gostando muito.
— Leia Amar, Verbo Intransitivo. É excelente.
— É mesmo? Vou seguir seu conselho. É o próximo da minha lista.
— Não vai se arrepender.
— Claro que não. Epa, chegou minha estação. Tchau!
E foi isso. Tá, eu sei que se eu fosse um cara normal teria pelo menos conseguido o número do telefone da garota. Mas e daí? EU CONSEGUI ABORDAR UMA MULHER NO METRÔ! Os tímidos que me lêem devem saber o quanto foi difícil.
Cheguei ao endereço indicado, um prédio na Av. Moema. Subi até o 15º andar num elevador panorâmico que tremia e vibrava. Medo. Fui recebido pela Melissa, que estava encerrando a entrevista com um outro candidato. Um japonês de terno verde-claro amarrotado. Deixou o japonês fazendo um teste e me levou até uma outra sala. Era uma loura alta, muito bonita, e a voz era mais sexy ainda ao vivo.
— Marco, espera só um minutinho. Vou ali pegar água pra gente. Sabe como é, a gente começa a falar, dá sede.
— Sei como é. Tudo bem.
Ela saiu da sala e imediatamente eu ouvi uma voz me imitando:
— Sei como é. Tudo bem. Grandona. Uhu.
Olhei em volta. Que negócio era aquele? Achei que entrevistas assim só aconteciam nas esquetes do Monty Python, mas ali estava eu, vítima de um trote. Não conseguia identificar de onde viera a voz, porém. Até que ele falou com a voz normal, que eu imediatamente reconheci:
— Ô, mané. Aqui. Na janela.
Lá estava meu velho amigo urubu, pousado do lado de fora e me olhando através do vidro. Tinha o bico retorcido numa tentativa de sorriso sarcástico.
Como é que você me achou aqui???
— Ah, eu sempre dou um jeito.
Tá, tá. Agora vai embora. Estou no meio de uma entrevista.
— Eu sei, eu sei. E aquela história de mudar de área, hein? Não foi você que disse dia desses que nunca mais trabalharia com essa coisa de computadores e não sei mais o quê? Que estava cansado de ser refém de um estilo de vida?
Eu estou muito velho para mudar de área.
— Sei. Você fala isso desde os dezenove anos. Até quando?
VAI EMBORA!
— Arrá! Te peguei, né?
Pegou nada. É só um serviço temporário.
— Sua vida também é temporária, mané. Vê lá o que vai fazer com ela.
E saiu voando sem me deixar responder. Menos mal, porque Melissa voltou cinco segundos depois.
A entrevista em si não teve nada de mais. Falei sobre minha experiência profissional, sobre os dois anos na faculdade de Jornalismo, sobre a paixão pela escrita, sobre o Balde de Gelo. Metade da conversa foi em português, a outra metade em inglês. Depois ela me levou até outra sala para fazer um teste que consistia em duas traduções de texto. Coisa simples. Acho que tenho boas chances. E é só um trabalho temporário, não vou ficar refém desta vez.
Vou?

Estava com medo de assistir a esse filme. Mas li um comentário sobre ele no Omelete (este aqui), e me animei. O contrário do que aconteceu com My Life Without Me, ao qual, se dependesse da resenha, eu jamais assistiria. Fui, pois.
Deus Todo-Poderoso! Jesus, Maria, José! Todos os santos! Gabriel, Miguel e a anjaiada toda! COMO É RUIM!
Eu vou falar sobre o filme, e provavelmente contarei detalhes, inclusive o final. Se você pretende ir ver, pare de ler neste parágrafo, pois. Mas lembre-se que eu avisei. Se você for assistir a esse lixo, eu estarei esperando você na saída do cinema. Vou rir muito na sua cara e ficar falando “Mas eu te disse! Mas eu te disse!”. Cê que sabe.
Pois então. No trailer há uma cena que mostra um acidente, e a subseqüente trajetória da calota do carro até cravar-se no tronco de uma árvore. Efeitos especiais impressionantes para um filme nacional. E parece que o filme todo foi feito porque o diretor fez essa cena e não sabia onde enfiá-la. Então inventou uma história qualquer quando estava bêbado (os créditos informam que a história é de autoria dele, não sei como é isso. O filme não consta do IMDB ainda), chamou um tal Marcio Alemão para escrever o roteiro e filmou. É fácil quando se é sócio do Fernando Meireles. Imagino que ele tenha dito “Pô, Fernando, cê já fez Domésticas e Cidade de Deus, deixa eu fazer o meu agora”. Só algo assim explica o fato de algo tão ruim ter saído do papel.
A história é besta mas bem poderia render algo de bom: depois de conseguir dois milhões de reais de algum jeito (não fica bem explicado, algo sobre “o caixa 2 de uma vida inteira”), um empresário, vivido por aquele sósia do Tom Hanks de nome esdrúxulo, resolve mudar de vida. Isso porque ele se sente culpado pela morte do irmão: estava dirigindo o carro da tal cena da calota, e seu irmão (Supla) morreu no acidente. Agora, com esses 2 milhões, quer se redimir. De alguma forma, acredita que cortar relações com a amante o ajudará a reconciliar-se com o irmão morto. Então vai almoçar com ela para terminar tudo. Antes, porém, enquanto os dois se pegam dentro do escritório, o peito da moça pressiona um botão do celular que está no bolso da camisa dele, rediscando o último número. Que é o da esposa dele, é claro. A esposa atende a ligação e começa a acompanhar tudo o que acontece, quase sempre de dentro do carro acompanhada por uma amiga, com o telefone ligado no viva voz.
Enquanto a situação se desenrola, o sócio dele fica no escritório tentando descobrir a senha de sua conta para desviar o dinheiro. E aí temos o maior furo do filme, maior porque sem ele simplesmente não há filme: já no restaurante, o Tom Hanks se levanta para ir ao banheiro e a amante aproveita para ligar para o sócio ladrão, dando um palpite sobre a senha (a data da morte do Supla). Ficamos sabendo que a amante é uma traidora. A esposa e a amiga ouvem tudo de dentro do carro. Ok. Mas como, se ele está o tempo todo com o celular no bolso da camisa, e acaba de ir ao banheiro?
A partir daí eu nem prestei mais atenção. Odeio quando pago para ver um filme e vejo que ele é estragado logo no começo (por isso nem vou assistir à adaptação cinematográfica de O Código Da Vinci). Mas ainda deu para perceber várias burradas: os policiais vêem dois caras mantendo reféns, um sujeito confessar um roubo e uma mulher confirmar que tentou matar alguém. Ainda assim, não prendem ninguém! Enfiaram esses dois policiais no filme para travarem diálogos casuais e supostamente engraçados (“É melhor ser surdo do que ser cego”, “É pior não ter um braço do que não ter uma perna”, coisas assim), e depois sumirem da mesma forma que apareceram. Parece que nisso há uma tentativa de imitar Quentin Tarantino. Tentativa infeliz, óbvio. Há os ladrões que conseguem hackear um caixa eletrônico e com isso aumentar o limite do cheque especial de uma pessoa. Tem o cara que recebe um telefonema no escritório. Poucas horas depois todo mundo vai parar no tal escritório e já está tudo vazio. Eu quero o telefone dessa companhia de mudanças! E por que ele roubou o dinheiro? Ah, ao que parece ele era muito amigo do Supla. Mas só dizem isso no final do filme, antes sequer se sabe que eles se conheciam. E como ele conseguiu botar a mão no dinheiro? Sabe Deus! Talvez tenham explicado, confesso que não estava prestando atenção.
As tentativas de humor são patéticas, o enredo é frouxíssimo, as atuações são de dar vergonha. Enfim, perdi meu tempo e meu dinheiro mais uma vez. Eu me odeio. Tomara que uma calota voadora decepe a minha cabeçorra.

Trecho de um texto escrito por Raul Seixas aos 13 anos de idade:

Cirilo conta coisas engraçadas: hoje entrou contando que seu colega de sala morreu com massa de modelar no nariz. Falta de ar (sabe como são essas coisas…).
Dei-lhe uns trocados e ele me cuspiu. Mamãe rosnou na cozinha. Fingi que chorei para ela morder Cirilo.
Ninguém ligou.

Tomei o ônibus na esquina. Estava cheio de gente, gente com cara de viajar de ônibus. Caras sérias, porque em ônibus só se viaja sério; é o normal, é o certo

Agora um trecho supostamente ditado pelo mesmo Raul Seixas a um tal Nelson Moraes, médium, em março de 2002:

Muitas vezes, embalados pelo sonho e pelo lirismo dos poetas e pelo modismo estimulado pela sociedade de consumo, deixamos de enxergar a realidade à nossa volta e buscamos distrair a nossa consciência das responsabilidades inerentes a verdadeira finalidade da vida, conseqüentemente, alteramos o valor das coisas e os conceitos sobre juventude, lar, família e objetivos, deixando cair vertiginosamente o nosso amor próprio e o amor por aqueles que nos são caros. Nesse conceito equivocado, tudo se torna lícito, até mesmo o que não convém. Os que viveram esse tipo de liberdade na Terra, hoje superlotam os vales das sombras à semelhança de larvas, arrastando-se entre o limo e as escarpas dos abismos espirituais, situação em que, alguns casos, podem se prolongar durante séculos.
Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!

Eu quero ver quem é que me convence que alguém que aos treze anos escrevia tão bem, com idéias originais e uma percepção irônica do mundo, tornou-se um cuspidor de clichês semianalfabeto depois de morto. E o caso do Raul Seixas é só um exemplo. Pelo que percebo dessas tão populares obras psicografadas, ou das tais pinturas feitas por espíritos, a morte é mesmo um treco horrível: além de nos tirar a vida, arranca-nos totalmente o talento. Coisa triste.