Nada na vida de solteiro me irrita mais do que os amigos que querem te arrumar alguém. Assim que você fica solteiro é pior: a cada dois dias querem te empurrar uma pessoa diferente. Com o tempo eles vão sossegando. Mas não muito tempo, claro. Se você começa a se acomodar na vida de solteiro, eles voltam com força total:
— Vou te apresentar uma amiga minha. Você vai gostar.
— Como você sabe que eu vou gostar?
— Ah, ela é a tua cara!
— Então é feia pra diabo, não vou gostar.
— Não, não. Você entendeu. Ela é assim que nem você.
— Assim como?
— Assim, sabe? Meio maluca.
E assim segue a conversa. Eu não sou meio maluco. Aliás, eu não sou nada maluco. E não tenho paciência com gente maluca. Mas como é que eu vou dizer isso? As pessoas ficam ofendidas se você não quer conhecer quem elas querem lhe apresentar. É como se você recusasse um presente, sabe? Então você aceita — muito a contragosto — ser apresentado à tal pessoa. Você chega ao bar (ou outro lugar qualquer) e lá está o amigo (todo orgulhoso de seu talento de cupido, provavelmente já antecipando o batizado do primeiro filho do casal que irá se formar esta noite, ele sendo o padrinho), talvez outras pessoas mais ou menos conhecidas. Sempre casais, que é para forçar bastante a situação. Seu olhar é atraído pela pessoa que você não conhece. Há uma cadeira vazia ao lado dela, é claro, e é ali que você vai passar essa noite de suplícios e constrangimento. Eu odeio essa situação. ODEIO.
Há variações, é claro, mas são sempre ruins. Lembro-me, por exemplo, de uma vez em que eu estava com uma amiga num bar e uma conhecida nossa ligou:
— Marco, onde você está? — falei onde estava — Ah, que bom! Estou indo aí.
— Ah, que legal.
— E estou levando uma pessoa.
A luz vermelha se acendeu na minha cabeça:
— Uma… Pessoa?
— É.
— Que tipo de pessoa?
— A mulher da sua vida.
Medo.
Minutos depois, ela chegou com a tal mulher da minha vida. E eis que era uma velha leitora do blog. Uma mulher que se dizia minha grande fã, e por isso se achava no direito de ditar os rumos disto aqui, e se irritava quando eu escrevia textos mais pessoais. Maluca, totalmente maluca. Mas as pessoas acham que mulheres malucas são “a minha cara”, então lá estava ela, a mulher da minha vida segundo alguém que mal me conhecia.
Foram horas torturantes. Eu, possuído de vez pelo mau humor, ignorava a mulher de forma ostensiva, e me esforçava para manter uma conversa com minha amiga. A tal mulher percebia o meu mal estar, mas não se decidia a ir embora. A garota que a trouxera também percebia, e estava visivelmente sem graça. Ah, meus amigos, aquela noite foi um inferno! Ao final, me despedi com um “tchau” seco e fui embora aliviado.
Eu entendo os cupidos. Sei que há pessoas que precisam dessa forcinha, que se não for assim nunca conhecem ninguém e coisa e tal. Pois bem: não é o meu caso! Eu me viro muito bem nesse departamento. Meu problema não é em arrumar mulheres, é em convencê-las a permanecer. Portanto, sabe aquela sua amiga? Aquela maluquinha? Então: eu não quero conhecê-la. Não quero! Não se sinta ofendido com isso, não ache que é algo pessoal. É uma questão de estatística: de todas as mulheres com que fiquei, só uma foi numa situação assim. E foi um tal desastre, e a mulher era tão maluca, que até hoje eu sou motivo de piada entre meus amigos por algo que aconteceu há dez anos. Eu não quero conhecer sua amiga, ok?
A não ser que ela seja muito gostosa, é claro.