(Juízes 3)

Oba, vamos começar com a sanguinolência!
Arram…
Vamos ao terceiro capítulo do livro dos Juízes, foi o que eu quis dizer.
Como vimos no capítulo anterior, alguns povos continuaram habitando Canaã ao lado dos israelitas. Eram os filisteus (Tava jogando sinuca / uma nega maluca / me apareceu / tinha um menino no colo / e dizia pro povo / que o filho era meu. / Toma que o filisteu, skindô / toma que o filisteu), mais os cananeus, sidônios e heveus que moravam nos montes Líbanos. O povo de Israel se deixou influenciar por esses caras, claro: esse negócio de ter um deus só perde totalmente a graça quando se convive com povos politeístas. Depois de algum tempo a maior parte dos israelitas nem se lembrava mais de quem era Javé. Ele, furibundo, tratou de refrescar a memória do povo permitindo que Cuchã-Risataim, rei da Mesopotâmia, conquistasse Israel. E quando eu falo em conquistar, é claro que não estou falando em mandar flores, levar para jantar, nada disso: Cuchã-Risataim veio com seu exército, matou um monte de israelitas e anexou Israel a seu território. E é claro que o povo se lembrou de Deus quando a água bateu na bunda: os israelitas começaram a implorar a Javé que os libertasse.
Javé atendeu o pedido do povo mandando que Otoniel, filho de Quenaz (que era irmão mais novo de Calebe, neguinho, Calebe!), assumisse a liderança daquela balbúrdia e guiasse o povo. Esse Otoniel já havia se destacado numa ocasião, quando Calebe foi expulsar os anaquins de suas terras. Ele já havia conquistado Hebrom, mas ainda faltava Debir (ainda chamada Quiriate-Sefer). Então teve a idéia de dar a mão de sua filha, Acsa, em casamento àquele que conquistasse Quiriate-Sefer. Otoniel juntou uns homens, foi até lá, derrotou os anaquins e desposou sua prima. Acsa era dessas mulheres mandonas, e exigiu que Otoniel fosse falar com Calebe para que este desse ao casal terras que tivessem fontes de água. Pode parecer bobagem, mas no meio do deserto água é o bem mais precioso. Calebe, gente boa como sempre, deu à filha e ao sobrinho/genro todas as fontes de suas terras.
Graças a sua intrepidez (uia!), Otoniel foi escolhido para ser o primeiro dos Juízes. Tratou logo de trabalhar: reuniu seu exército, declarou guerra à Mesopotâmia e venceu, libertando Israel. Depois disso ele ainda viveu mais quarenta anos, e houve paz durante todo esse tempo.
Depois da morte de Otoniel, porém, o povo voltou a assimilar a cultura dos povos da região, adorando seus deuses e emputecendo Javé. A conseqüência não tardou: Eglom, rei de Moabe, aliou-se aos amonitas e amalequitas, invadiu Israel e tomou Jericó, a Cidade das Palmeiras. Israel viveu sob o domínio dos moabitas por dezoito anos. Quando, no entanto, o povo resolveu voltar a pedir ajuda a Javé, este escolheu um tal de Eúde para ser líder do povo. Esse Eúde, benjamita, era canhoto e muito malandro, como veremos.
De tempos em tempos os israelitas tinham que enviar seus impostos a Eglom. Os impostos eram recolhidos, conferidos e levados por um mensageiro. Quando calhou de Eúde ser o escolhido para levar o dinheiro ao Rei de Moabe, ele resolveu que Israel já tinha sofrido demais. Preparou então um punhal de quase meio metro de comprimento e botou o pé na estrada junto com alguns carregadores. “Pô, mas um punhal de meio metro? Para que tanto?”. Pois acontece que Eglom era gordo. Muito gordo. Coisa de circo mesmo. Um punhal de tamanho normal apenas arranharia suas várias camadas de tecido adiposo.
Eúde escondeu o punhalzão sob as roupas, foi para Gilgal (cidade onde ficava o palácio de Eglom) entregou os tributos e mandou os carregadores de volta pra casa. Feito isso, foi falar com o rei, que estava jantando:
— Majestade, tenho uma informação ultra-secreta para dar ao senhor.
— O que é? — perguntou o rei, de boca cheia — Seu povo está tramando alguma? Olha que eu acabo com a raça de vocês!
— Não. É… É outra coisa.
— Fala, porra! Fala logo, senão cê tá fodido! — ameaçou Eglom, borrifando farofa por todo o recinto.
— Mas é que…
— É o quê? Ah, não quer falar na frente dos outros? Fresco… Tudo bem! Saiam todos daqui, que o israelita quer me contar alguma coisa.
Todo mundo saiu da sala.
— Muito bem. O que é que você quer dizer de tão importante? Vai, desembucha!
— É um recado de Javé para o senhor.
— De quem?
— Javé, o nosso Deus.
— Pff… E o que o deusinho de vocês tanto quer me dizer?
— Ele me mandou dizer o seguinte… Er… O senhor poderia chegar mais perto?
— Ô inferno! — Eglom levantou-se, com muita dificuldade, e se aproximou de Eúde — Pronto. Agora fala logo, caralho!
— Chega só mais um pouquinho…
— ASSIM TÁ BOM?
— É que eu prefiro cochichar, se o senhor não se importar, é claro. Sabe como é, as paredes têm ouvidos…
— Ó, MEU SACO! — a contragosto, o rei inclinou-se na direção de Eúde — Agora fala!
— Seguinte. Javé mandou dizer o seguinte: Gordo, baleia, saco de areia!
COMO É Q…
Mas Eglom não teve tempo de expressar sua indignação: Eúde já havia metido a mão esquerda por dentro da roupa e puxado o punhal, que enterrou com força na barriga do rei. O punhal atravessou a pele, tooooooooda a gordura, a carne, os órgãos internos e saiu entre as pernas. Capado e, pior ainda, morto, nunca mais Eglom ia fazer neném. Depois de matar o rei, Eúde agiu rápido: trancou todas as portas, saiu pela janela e foi embora assoviando. Os empregados do palácio chegaram e viram que as portas estavam trancadas, mas nem se preocuparam: o rei devia estar cagando, que era só o que ele fazia, além de comer. Anoiteceu, porém, e nada do rei abrir a porta. “Que cagança comprida é essa?”, perguntavam-se os empregados. Bateram à porta e nada de Eglom responder. Então pegaram a chave, abriram a porta, e deram com seu soberano caído morto no chão, a gordura saindo pela ferida aberta pelo punhal. Coisa bem nojenta de se ver.
Enquanto os empregados ainda não sabiam da morte de Eglom, Eúde já havia chegado às montanhas de Efraim. De lá, tocou uma corneta de chifre de carneiro para chamar os israelitas para a guerra.
— Vãobora, povo! Vamos acabar com a raça dos moabitas! Já matei o leão-marinho que eles chamam de rei; vamos pegá-los agora que estão de cabeça quente!
Os soldados desceram e tomaram a região do Rio Jordão por onde os moabitas costumavam passar. Mataram dez mil moabitas na batalha, reconquistando a soberania de Israel. Dessa vez houve um período de paz bem longo: 80 anos, até a morte de Eúde. Nesse meio tempo, só os filisteus chegaram a dar algum trabalho. Mas um tal Sangar, filho de Anate, cuidou bem da situação, matando seiscendos seiscentos filisteus com um ferrão de tocar bois.
É óbvio que depois que Eúde morreu o povo voltou a adorar outros deuses, aquele negócio de sempre. Foi quando surgiu Débora, a primeira liderança feminina da história de Israel. Mas falaremos bastante dela nos próximos capítulos.

Agora sim, eu tô todo dolorido! Que beleza! Minhas coxas [pausa para os suspiros femininos] parecem feitas de cordas de violoncelo prestes a arrebentar. Não reclamo: gosto de fazer esteira. O problema é que me sinto igual o Jamiroquai no clipe de Virtual Insanity. Odeio Jamiroquai. Vou requisitar à academia uma esteira mais larga, com manequins grudados. Assim pelo menos eu posso ir andando e esbarrando neles, para me sentir como o Richard Ashcroft no Bittersweet Symphony.
Os músculos do meu abdômen, que eu nem sabia que ainda existiam, já disseram que não vão à academia hoje, Marcurélio que vá sozinho. Abusei dos pobrezinhos, também: no primeiro dia o instrutor regulou o aparelho que não tem nada a ver com os robôs do Matrix Revolutions, botando aquele pininho no primeiro peso. Fiz 400 abdominais na boa. Então ontem, depois de 6 quilômetros andando na esteira, e ainda disposto a mais, resolvi que ia fazer pelo menos 500 abdominais. Me ajeitei lá no aparelho e fiz a primeira série de dez. Quase não consigo. “Ué, troço estranho…”. Mais dez. Quase morro. Mais dez. Desisti. Então olhei, por acaso, para os pesos. O pininho estava láaaaaaaaa no sétimo. Disfarcei, saí do aparelho, me espreguicei e botei o danado no terceiro peso, pra não ficar tão chato. Fiz mais cem abdominais e fui tomar banho. Oras.
E agora estou todo dolorido. Mas é uma dor boa. Um monte de gente me falou isso ontem e eu achei uma bobagem, mas é verdade. É como a ansiedade que venho sentindo nas últimas semanas: quase me mata, mas é boa.