Fui assistir ao filme do Casseta & Planeta. Se alguém aí confia no meu gosto, não vá. Não perca seu dinheiro. O filme é como o programa dos caras (ou como era no tempo em que eu assistia): uma ou duas piadas razoáveis enfiadas no meio de um monte de piadas que não prestam. Não faltou nem a velhíssima do “Che, que vara!” complementada pela “Hay que endurecer”. Há momentos de humor grosseiro ao extremo, coisa para retardados mesmo. Não sei qual deles descobriu que pleonasmo era engraçado, mas o filme ficou cheio de coisas do tipo “americanos ianques”, “repressão repressora” e coisa assim. Triste.
E o que dizer das atuações? De todos os integrantes do grupo, apenas Cláudio Manoel tem talento de ator. Marcelo Madureira e Reinaldo ainda conseguem acertar aqui e ali. Dos outros não digo nada. Ah, e tem a Maria Paula, que é gostosa mas não tanto a ponto de justificar tamanha falta de talento. Ô mulher irritante! Para passar incólume, tinha que ser no mínimo a Vanessa Schütz.
Bom, perdi dez reais. Não foi a primeira vez nem será a última. Valeu pela versão de Los Hermanos para “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”, do gênio esquecido Odair José, e pela cena lá no finalzinho.

(Josué 22)

Como já foi dito, estava concluída a parte mais importante da conquista de Canaã. Ainda havia um ou outro povo a ser expulso, mas isso podia ser deixado a cargo de cada tribo, não constituindo motivo de preocupação para todo o povo de Israel. Sendo assim, Josué reuniu o povo das tribos de Rúben, Gade e Manassés Oriental e fez um pequeno discurso de despedida pra eles:
— Muito bem, cambada, muito bem! Vocês cumpriram sua promessa direitinho: mesmo tendo suas terras garantidas lá do outro lado do Jordão, vieram até aqui e arriscaram seus rabos junto com seus irmãos israelitas para conquistarem Canaã. Agora estamos em paz, e vocês podem ir cuidar de suas terras. Vocês voltam ricos, cheios de despojos de guerra. Parabéns e muito obrigado. Agora ocupem a terra, sejam felizes e continuem servindo a Javé, senão ele fode com a vida de vocês. Adeus!
Os líderes das duas tribos e meia agradeceram, se despediram e partiram para suas terras. Ao chegarem em Gelilote, ainda na margem oeste do Jordão, resolveram parar e construir um altar de pedra. Não um altar qualquer: via-se o bichão de longe. Capricharam mesmo. Quando a notícia do altarzão chegou aos ouvidos dos outros israelitas eles ficaram putos. Começou o diz-que-diz:
— Que porra significa aquele altar?
— Os caras não sabem que o único altar pra se oferecer sacrifícios é aqui no Tabernáculo?
— Javé vai ficar puto com isso, e vai sobrar pra gente.
— Isso não pode ficar assim!
— Vamos foder com a vida desses feladaputas!
A indignação crescia conforme a notícia se espalhava, e logo todo o povo estava reunido em Siló, preparando-se para guerrear contra seus irmãos do leste. Antes, porém, resolveram mandar mensageiros até eles. Enviaram Finéias, filho do sumo-sacerdote Eleazar, acompanhado de dez líderes, um para cada tribo (tá, eram nove tribos e meia. Mas os caras não iam mandar meio líder, né?). A mensagem que mandaram era simples: se eles achavam que a terra a leste do Jordão era impura, que pedissem terras do lado de cá, e seriam atendidos. Mas que não cometessem a burrada de erguer outro altar, já que o próprio Javé deixara bem claro que os sacrifícios só deveriam ser oferecidos no altar do Tabernáculo.
Quando ouviram a mensagem trazida pelos onze emissários, os líderes das tribos orientais ficaram espantados:
— Ué, cês são burros ou o quê???
— …
— Viram a gente oferecer algum sacrifício naquele altar que construímos?
— …
— Vamos explicar direitinho o que aconteceu, e se vocês ainda acharem que estamos errados, podem nos matar. O negócio é que começamos a pensar: e se um dia os descendentes de vocês, do ocidente, começarem a botar em dúvida a ligação dos nossos descendentes com Javé, o Tabernáculo e toda a cultura israelita? Sabem como é, esse rio aí bota a maior banca de fronteira, é bem possível que venham a nos considerar um outro povo. Então construímos esse altar como um memorial. Se um dia as tribos do ocidente começarem a querer discriminar as do oriente, sempre teremos o altar como sinal de que somos um mesmo povo.
— Ê, mas que é isso? Que absurdo! Por que é que os da margem oeste discriminariam os da margem leste?
— Ué… Não é isso mesmo que vocês estão fazendo agora?
— …
— Pois então.
— Tá, tá, vocês estão certos. É que a gente precisava ter certeza.
— Nós entendemos.
— Sem rancores então?
— Claro!
Então os mensageiros voltaram a Siló e contaram tudo para os israelitas ali acampados. Eles ficaram contentes com a explicação dada pelas tribos do leste. Não foi dessa vez que Israel foi dividido. Mas vocês não perdem por esperar…

tomjobim.jpgHá nove anos eu trabalhava num colégio de padres e passava o dia todo na frente de um computador, às vezes trabalhando, na maior parte do tempo escrevendo ou jogando. Ao meu lado um rádio Toshiba que tenho até hoje, sempre sintonizado na Musical FM, que então tocava MPB. O problema é que os programadores da rádio tinham a irritante mania de revelarem novos talentos da MPB. Jabaculê das gravadoras, é claro. Era um inferno ouvir aquelas musiquinhas chatas, letras cheias de falsa grandeza e pretenso lirismo. Hoje posso dizer na maior felicidade que nenhuma daquelas revelações sobreviveu. Mas na época era um inferno: um monte de compositores que se achavam o Caetano Veloso, um monte de cantoras com a voz da Leila Pinheiro. Então foi com alegria que naquela tarde do dia 8 de dezembro de 1994 recebi a surpresa de ouvir quatro músicas de Tom Jobim em seguida. “O que estará acontecendo?”, pensei, “Resolveram ter bom gosto, os malditos?”.
Não, não era um surto de bom gosto: Antonio Carlos Jobim havia morrido naquela manhã, em Nova Iorque, quando se reestabelecia de uma cirurgia à qual se submetera para tirar um tumor da bexiga. A seqüência de músicas do maestro era um tributo, logo depois veio alguma coisa da “nova geração”.
Eu não ouvia mais, no entanto: saí andando pelos corredores do colégio — vazios nas férias escolares — chorando e assoviando “Chega de Saudade”. Eu não conseguia aceitar que Tom houvesse morrido.
Mesmo hoje, nove anos depois, ainda não acredito. É muito triste este mundo sem o Tom Jobim. Muito triste.