Sempre que se fala nessa praga, imediatamente me lembro do seu Dino (não o seu Dino, ok? Senhor Dino. Bah, você entendeu). Seu Dino era contador (não sei se está vivo ainda) de uma empresa em que trabalhei. Devia ter uns setenta anos, italiano, carrancudo e avesso a todo tipo de modismo e às novas tecnologias. Lembram daquele velho do comercial de lançamento do Corsa (“Pra que tanta cor?!”, “Pra onde esse mundo vai?!”)? Pois então, era igualzinho, e nós tirávamos sarro dele com isso. E ele gostava, porque apesar de querer parecer ranzinza era um velho muito bem humorado e cheio de tiradas ótimas.
E isso com o politicamente correto? Pois uma segunda-feira Seu Dino chegou ao escritório fulo:
— Vocês viram a luta de ontem?
— Não, Seu Dino.
— Porra, aqueles locutores da Globo têm mais é que ir trabalhar na lavoura, porque pra narrar luta eles não servem não. Imaginem que o tempo todo ficavam falando: “Fulano, de calção branco e sapatilhas pretas, e beltrano, de calção vermelho e sapatilhas brancas”. O tempo todo! Esses caras acham que a gente é burro.
— Pô, seu Dino, pega leve. Eles fazem isso porque sempre tem o cara que liga a TV no meio da luta e não sabe quem são os lutadores. E nem todo mundo conhece os boxeadores como o senhor conhece…
— Não é disso que estou falando, ó cavalgadura! O negócio é que um lutador era branco e o outro era preto. Custava falar, “Fulano, branco, e Beltrano, preto?”. Que frescura é essa? PRA ONDE ESSE MUNDO VAI?!

Lembrei de uma frase ótima do Stuart Murdoch, vocalista do Belle & Sebastian, na contracapa do último CD. Ele estava na loja querendo comprar uma câmera nova, mas o vendedor não o atendia direito. Sequer tirou a câmera da caixa para mostrar, talvez percebendo que o rapaz esquálido e meio abichalhado não levava o mínimo jeito para fotógrafo. Stuart diz: “And all the time I’m standing there sweating like a paedophile in a creche!”(“E o tempo todo eu lá parado, suando feito um pedófilo na creche!”).
Excelente frase. Preciso usá-la URGENTEMENTE.

grandegaroto_mjEstava assistindo ao filme “Um Grande Garoto” (About a Boy), aquele baseado no livro do Nick Hornby e protagonizado pelo Hugh Grant (que homem, meu Deus!). Vendo o filme, comecei a pensar duas coisas:
1. Eu preciso de companhia para ver filmes. Tá ficando meio triste isso de estar sozinho o tempo todo. Bom.
2. Seria possível nos EUA um filme em que um garoto de doze anos passa a freqüentar a casa de um homem solteiro de 38, passando um tempão sozinho com ele? Será que a síndrome do politicamente correto não acabaria por pesar mais? Sei não, sei não… (esse “Sei não, sei não…” bem que podia virar minha marca registrada, né? Tipo um bordão que as pessoas repetiriam na rua e… Ok, parei).
Eis onde quero chegar: há provas contra Michael Jackson? Há evidências de que um dia ele tenha praticado pedofilia? E se (e se!) aquela história de levar meninos para a casa dele para servir leite com biscoitos e contar histórias for verdade? Oras, não riam! Larguem o cinismo um pouco, tentem entender que há pessoas inocentes no mundo, e vocês poderiam muito bem aceitar Michael Jackson como uma delas, não fosse ele uma figura, digamos, diferente. É a mesma perseguição das hordas contra o monstro do Dr. Frankenstein ou o Edward Mãos-de-Tesoura. Eu vejo a imprensa mundial como homens encapuzados correndo com tochas, foices e ancinhos atrás de um monstro assustado.
E digo isso porque EU gosto de crianças. Muito. Passo horas brincando com as crianças, e prefiro mil vezes sua companhia à dos adultos. Às vezes penso “Ei, e se uma dessas mães malucas começar a ter idéias? Se começar a pensar que eu ando ‘tocando’ o filho dela?”. E fico aterrorizado ante tal pensamento: “ARGH! Ninguém seria tão doente!”
Mas eu estou errado, claro. A maioria é bem doente mesmo.
(um post inspirado na Fer, uma menina que acredita na inocência)

(Josué 10)
Acredito que vocês já ouviram falar de Jerusalém, não? Pois é. A cidade, que hoje é sagrada para as três grandes religiões monoteístas, sempre foi disputadíssima, e isso pelo menos desde os tempos de Josué. Logo no começo desse capítulo, por exemplo, ficamos sabendo que Jerusalém então era habitada pelos jebuseus — um dos grupos descendentes de Amom, os amorreus — e governada por um tal Adoni-Zedeque. Chegaram aos ouvidos desse rei as notícias sobre o que acontecera às cidades de Jericó e Ai. O que mais o impressionou, porém, foi saber do acordo de paz selado entre israelitas e gibeonitas. Ora, Gibeão era uma das cidades mais importantes da região, maior ainda que a desaparecida Ai. Os gibeonitas tinham a fama de serem guerreiros muito corajosos, portanto era de se estranhar que houvessem se entregado assim a Israel, como cãezinhos dóceis lambendo a mão do dono. Adoni-Zedeque resolveu que era melhor juntar forças e se precaver, então enviou a Hoão, Pirã, Jafia e Debir (reis de Hebrom, Jarmute, Laquis e Eglom, respectivamente) a seguinte mensagem:

Aê, colega,
Cê já deve estar sabendo do que os homens de Gibeão fizeram. Foram correndo com o rabinho entre as pernas beijarem o rabo dos invasores israelitas. Receberam em troca a proteção do tal Josué, que anda dizendo por aí que vai destruir tudo daqui até o Mediterrâneo, poupando apenas os gibeonitas. Sendo assim, gostaria que você convocasse seus exércitos e se juntasse a mim, para acabarmos com Gibeão. O que você acha? Responda logo, que o tempo é curto.
Abraços,
Adoni-Zedeque
Rei de Jerusalém
PS: Enviei esta mesma mensagem a outros três reis amorreus. Seremos cinco cidades contra Gibeão. Não tem como dar errado.

Os quatro reis acreditaram mesmo que não tinha como dar errado, e atenderam à convocação de seu colega de Jerusalém. Os cinco juntaram seus exércitos e atacaram Gibeão.
Os gibeonitas, desesperados, mandaram uma mensagem a Josué, que havia voltado a Gilgal com todo o povo para traçarem novas estratégias de guerra. A mensagem era mais ou menos assim:

JOSUÉ
NÃO NOS ABANDONE[PT]REIS AMORREUS INVADIRAM GIBEÃO[PT]VENHA DEPRESSA NOS SALVAR[PT]CAGAMOS DE MEDO[PT]SOCORRO[PT]

Josué leu o telegrama, ficou amuado e foi falar com Deus:
— Pô, Javé, que que eu faço? Ó, puta que pariu! Eu sabia que ia dar merda aquele acordo com os gibeonitas. Agora, além da preocupação toda que tenho, vou ter que ficar de babá de marmanjo…
— Relaxa, Josué, relaxa… Foi uma bela burrada cair no conto do vigário dos gibeonitas, mas não dá mais pra voltar atrás. Agora o jeito é proteger os caras, como você mesmo jurou. E jurou ENHONÔME, então não tem como inventar desculpa para não ajudar Gibeão. Vai lá, vai dar tudo certo. Além do mais, são cinco exércitos pra você combater de uma vez, vai ter bastante sangue. É disso que você gosta, não?
— Hehehehe…
— Meu garoto… Sabe, começo a gostar de você.
— Pô. Valeu, Javé.
— Queisso. Agora reúne seus homens e vai lá pra Gibeão.
Confiante depois do apoio dado por Deus, Josué saiu de Gilgal com seus soldados, marchou acelerado a noite toda e atacou os amorreus de surpresa. Os israelitas chegaram de repente, fazendo muito barulho, e os amorreus se assustaram. Saíram correndo em desordem e foram perseguidos. Se tudo corresse normalmente, depois de um tempo eles se tocariam, “Epa, que que a gente tá correndo desses songomongos”, dariam meia-volta e massacrariam os soldados de Israel. Só que Javé — assim, ó! com Josué agora — resolveu dar uma mãozinha mandando uma chuva de granizo gigante que matou mais amorreus do que os israelitas conseguiriam matar.
Havia muitos inimigos a liqüidar ainda, no entanto, e já era meio-dia. Lembrem-se de que na época não havia fuzis com mira laser e visão noturna nem binóculos com infravermelho. Josué, sedento de sangue, mostrava-se frustrado ante a perspectiva de ter que interromper a batalha com a chegada da noite, e retomá-la apenas na manhã seguinte. Impaciente, gritou:
— PORRA, SOL! FICA PARADO AÍ EM CIMA! VOCÊ TAMBÉM, LUA! PARADINHA AÍ!
E o inacreditável aconteceu: o sol ficou parado no meio do céu, e a lua sobre o vale de Aijalom. A tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje diz no versículo 14 deste capítulo:

Nunca tinha havido e nunca mais houve um dia como esse, um dia em que o Deus Eterno obedeceu à voz de um homem.

Pois é! Javé estava tão amigo de Josué que resolveu atender a uma demanda totalmente sem sentido: apenas para agradá-lo, parou a rotação da Terra. Valia a pena ser sanguinário para agradar a Deus, que o diga Moisés, que nunca teve muita vocação para assassino, e se matava não era por gosto.
Mas então: a batalha já estava quase no fim quando os israelitas perceberam que os cinco reis amorreus haviam sumido. Porém o serviço secreto de Israel já devia ser bom naquela época, porque logo os descobriram escondidos numa caverna em Maquedá. Josué, o bondoso, deu a ordem:
— Rolem umas pedras grandes para a entrada da caverna e continuem perseguindo os soldados amorreus. Depois a gente vê o que fazer com esses cinco aí.
A ordem foi cumprida, e os israelitas mataram quase todos os amorreus. Os que conseguiram escapar se refugiaram dentro dos muros de suas cidades, tremendo de medo e bendizendo a sorte. Então os soldados de Israel voltaram a Maquedá, onde Josué mandou que tirassem as pedras da boca da caverna. Assim o fizeram, e levaram os cinco reis à presença do líder. Conhecedores da crueldade deste, nem tentaram se defender. Josué, exultante, ordenou que seus oficiais botassem os pés no pescoço dos reis e em seguida os degolou. Os cadáveres foram pendurados em postes de madeira e ali ficaram até a noite, quando Josué instruiu seus homens para que pusessem os corpos dentro da mesma caverna, e cobrissem a entrada com pedras.

Com sangue nos zóio, e privilegiado pela parada na rotação da Terra, Josué saiu detonando ainda naquele dia: matou todos os moradores e o rei de Maquedá, depois foi até Libna e fez o mesmo, deu uma passadinha em Laquis e detonou por lá também. Horã, rei de Gezer, veio ajudar Laquis. Antes tivesse ficado em casa: tomou no cu direitinho, juntamente com todo seu povo. Acham que com isso Josué matou sua sede de sangue com isso? Pois sim! Ele e seu exército ainda destruíram e mataram toda a população de Eglom, Hebrom e Debir. Com isso concluiu boa parte da conquista de Canaã num só dia: toda a região que vai de Cades-Barnéia até Gaza e de Gosém até Gibeão era agora território israelita.

Assistiram ao filme Todo-Poderoso, com Jim Carrey, Morgan Freeman e (ah…) Jennifer Aniston? Nele, o personagem de Jim Carrey recebe de Deus (Freeman) todos os seus poderes por uma semana. Hoje eu acordei pensando no que eu faria no lugar dele. Hum…
Eu acho que mandaria um passarinho de penas azuis ir cantar de manhã na janela da minha amiga e ficar olhando pra ela com a cabeça meio de lado, curioso, daquele jeito de passarinho. Faria talvez brotar daquela folhagem da sala uma flor linda e inexplicável. Daria a ela um prêmio da loteria, o suficiente para quitar o carro e comprar um apartamento. Faria aparecer na vida dela um rapaz à sua altura, um homem íntegro, bom, engraçado, bonito, rico e de pau grande. Faria aparecer de repente um monte de amigos novos, todos muito compreensivos e cheios de assuntos inteligentes e despretensiosos. Um emprego à altura de seu talento e inteligência, um espelho que finalmente mostrasse a ela o quanto é linda. Viagens que ela guardaria para sempre em fotos espetaculares, que mostraria com orgulho aos amigos. Tudo, tudo para vê-la sorrir.
Porque não há tristeza que combine com o belo rosto de minha amiga. Ela nasceu para a alegria.

(Para Daniela, claro)

Será possível que só eu fique impressionado com a seriedade das moças que dançam axé? Não falo das que são pagas para isso e se enfiam em shortinhos mínimos para rebolarem suas carnes a um palmo das lentes das câmeras de TV. Não: estas sorriem até terem cãibras, e dão cotoveladas umas nas outras na eterna disputa por uma capa de Playboy ou um programa infantil. Falo daquelas que, numa festa ou casa noturna, mostram sua desenvoltura bailante na pista de dança. Como são sérias, essas moças! Sábado mesmo estava numa festa de casamento e reparava (com interesse puramente sociológico, vejam bem) nas garotas que dançavam. Que compenetradas, algumas até sisudas! A letra da música dizia “Mexe a bundinha / bem devagarinho”. Elas, obedientes ao vocalista fanho, mexiam a bundinha (bem devagarinho, é claro). Mas sérias. Concentradas. Algumas, mesmo fora da pista por timidez ou fastio, reproduziam uma versão minimalista da coreografia, rebolando de leve na cadeira e levantando as mãozinhas a meia altura.
Sei não, sei não… Deve haver aí algum segredo oculto aos homens e às mulheres mais velhas. Há de existir nos ritmos baianos algo de mantra, de Om. Reparem nas meninas que dançam: com suas faces sérias (tão sérias!) e seus movimentos perfeitamente sincronizados parecem praticantes de algum tipo de Tai Chi Chuan requebrante.
Nem todas são assim, é claro. Há mulheres que riem enquanto dançam. São as que erram o passo. Reparem.

Movida sei lá por que anseios, há um ano Fernanda resolveu começar a escrever um blog. O primeiro post:

Pois Zé, então! Já quero avisar que sou apenas uma iniciante nessa coisa de blog, portanto, volte outras vezes pra poder rir do meu desengonço internético enquanto apanho tentando aprender a “blogar”… Have fun! 😀

Quando Deus acordou e, notando que estava escuro, disse “Haja luz” (e houve luz!), ele não imaginava que esse simples ato fosse um dia culminar no Mega Trufa ou na Luana Piovani. A Fer também nem imaginava que aquele blog fosse assumir tamanha importância, e demonstra sua surpresa no post escrito hoje:

Antes de começar com esse lance de blog, de compartilhar minhas viagens na maionese com quem pudesse passar por aqui, eu pensava que era sozinha no mundo com minhas idéias e opiniões, até ver e me surpreender com o fato de que tem muita gente parecida comigo, muito mais parecida do que eu podia achar possível. Quando é que eu ia imaginar que algumas dessas pessoas que eu lia e admirava viram a ser meus amigos e, em alguns casos separados, gêmeos de alma?

Quando li isso, não pude deixar de pensar na abelhinha daquele clipe do Blind Melon, No Rain. Sacanagem. O negócio é que essa menina de cabelos vermelhos e olhos azuis mais lindos do mundo encontrou no blog uma forma de resolver uma coisinha aqui, outra ali. Fez amigos, influenciou pessoas, tudo isso sem fazer força, vejam vocês.
Quando a conheci, em maio deste ano, ainda não conhecia o eu diria que… E é claro que no dia seguinte eu corri para o primeiro cybercafé que encontrei para ler o blog da garota que havia me encantado de maneira tão espantosa na noite anterior. Deliciei-me com o que li por lá: uma menina agradável, bondosa, de caráter firme e com tal intimidade com as palavras que se dava ao luxo de virá-las todas do avesso, de cabeça pra baixo, just for fun. Tornou-se imediatamente leitura obrigatória, e desde então eu o visito algumas vezes por dia, leio com avidez cada novo post, me divirto com alguns comentários, com outros fico puto, com outros fico constrangido, e com muitos (MUITOS!) sinto um ciúme danado.
Eu me sinto no direito de comemorar mais que todo mundo esse um ano de eu diria que… Porque ele botou um tanto de alegria na vida da menina que é o que eu tenho de mais bonito aqui dentro deste coração velho, guardado com o maior dos cuidados.
Parabéns, #FF3333!

O que há em mim é sobretudo cansaço –
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, êle mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amôres intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas tôdas –
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Êste cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum dêles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para êles a vida vivida ou sonhada,
Para êles o sonho sonhado ou vivido,
Para êles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço…
(Álvaro de Campos)

Achei que só acontecesse comigo, mas li esse post da Sarcástica em que ela diz que passa pelo mesmo problema. Seguinte: sou assinante do “provedor” Terra e tenho lá uma conta de e-mail que não uso para nada. Recebo e-mails no endereço aqui do JMC, ou num outro do iG, ou então no e-mail da empresa. Endereços demais, não faz sentido divulgar mais um. Pois então, não é que desde o primeiro dia eu só recebo Spam no tal endereço do Terra? Impressionante! Eu não gosto de parecer conspiratório, mas a impressão que eu tenho é que o “provedor” vende os endereços de e-mail de seus assinantes para empresas spammers e depois tenta vender aos assinantes seu magnífico sistema de e-mail protegido (R$ 8,90 adicionais por mês).
Hein? Ética? Não trabalhamos.