Andando pelo centro da cidade, lembrei-me de comprar refil para o repelente elétrico de insetos. Com esse calor é um acessório indispensável, malditos pernilongos. Então entrei numa drogaria da Barão de Itapetininga, peguei o refil na prateleira fui para o caixa. Ainda na fila reparei no cartaz colado à parede logo atrás da moça que atendia:
VIAGRA COM 25% DE DESCONTO
“Oba”, pensei, “piada!”. É da minha natureza, não consigo evitar. Mas aí tive um ataque de autocrítica: quantos outros, após lerem o cartaz, já não haviam feito piadinhas? Sete da noite, a moça do caixa já devia estar exasperada.
Então lembrei d’O Cabotino, que eu li no domingo à tarde. Acho que as idéias do Polzonoff podem ser resumidas assim: se não vai fazer diferença, pra que começar? Pra que fazer uma piada que todo mundo já fez? Pra que escrever um livro previsível, compor uma canção óbvia, pintar um quadro igual a tantos outros? Eu pretendo ser escritor, sim, mas só se for para daqui a cem anos compararem o Brasil de Marco Aurélio à Rússia de Dostoiévski, ou algo no mesmo gênero. Não faço por menos. Se antes de produzir qualquer tipo de arte o pretenso artista fizesse o tipo de autocrítica que fiz na fila do caixa, teríamos obras de muitíssimo melhor qualidade.
Enredado nesses pensamentos, e feliz comigo mesmo por ter resistido à piada fácil, cheguei ao caixa. A moça, um tanto carrancuda, me apontou dois frascos de Cepacol.
— Quer aproveitar a promoção?
— Que promoção? Do Viagra? Opa!
— …
Droga.