(Números 27:12-23)

— Pô, Moisés, é cada problema besta que cê me traz. Essa das filhas do cara lá… Como era mesmo o nome dele?
— Z-Zelofeade
— Zelofeade… Nomezinho feio da porra! Mas então, essa foi demais.
— Hehehe… T-tem r-razão, Ja-Javé. A-acho que t-tô f-ficando v-velho.
— É, Moisés. Já tá com cento e vinte anos de idade, não é mais aquele jovem de oitenta aninhos que saiu todo serelepe do Egito.
— Q-quarenta anos… P-puxa v-vida. Dá p-pra e-escrever um l-livro com t-tantas hi-histórias que p-passamos, né, Ja-Javé?
— É verdade, é verdade. Eu, você e o velho Arão.
— A-Arão… C-coitado do A-Arão, m-morrendo sozinho no a-alto de uma m-montanha.
— Ué. E cê acha que vai morrer como?
— C-como?
— Você vai morrer no alto do monte Nebo, Moisés.
— HAHAHAHAHA. B-brincadeira besta, Ja-Javé. A-até p-parece que d-depois de q-quarenta a-anos de jo-jornada pelo d-deserto v-você ia me d-deixar mo-morrer justo a-aqui em Mo-Moabe, tão p-perto da T-Terra P-Prometida.
— Er… Não leve a mal não, Moisés. Mas lembra do episódio da água que saiu da rocha em Meribá? Naquela ocasião eu prometi que nem você nem Arão entrariam em Canaã.
— M-mas f-foi há t-tanto t-tempo!
— Tenho boa memória. Ah, e já que você falou em escrever um livro, é melhor se apressar. Vai organizando suas memórias aí da peregrinação pelo deserto, porque você não vai durar muito.
— P-PORRA, JA-JAVÉ!
— Sinto muito, Moisés. Se palavra de rei não volta atrás, imagine palavra de deus…
— Ah, é a-assim? E-então vou e-escrever lo-logo ci-cinco l-livros. D-desde a c-criação do m-mundo até a mi-minha morte.
— Como é que você vai escrever sobre a sua própria morte, Moisés?
— Hum… S-sei lá! Dou um j-jeito.
— Tá bom. Então apresse seu trabalho.
— Ô Ja-Javé! Isso é s-sério m-mesmo?
— Não, Moisés, é pegadinha. Olha a câmera ali. Lógico que é sério, caralho!
— M-mas… M-m-m-mas… Q-quem é que v-vai gui-guiar o p-povo?
— Pô, Moisés, cê já tá velho. Até aqui o negócio foi moleza, mas a tomada de Canaã vai ser uma guerra atrás da outra. Precisamos de um general jovem e inteligente para essa empreitada. Olhaí, acho que o Josué cumpriria bem esse papel.
— O JO-JOSUÉ??? Mas e-ele é só meu o-office b-boy!
— E você era só um gaguinho estressado, e veja no que se tornou. Tá decidido: Josué será o novo líder. Você vai reunir todo o povo e você e o sumo-sacerdote Eleazar anunciarão Josué como futuro líder.
— E d-depois?
— Depois eu vou só repassar meia dúzia de leis com você. Aí você vai escrever seus livros, fazer uns discursos, subir no Monte Nebo e peidar no fubá.
— P-PEIDAR NO F-FUBÁ?
— É. Bater as alpercatas. Gaguejar seu último suspiro. Vestir a túnica de madeira. Entregar a alma a mim. Comer maná pela raiz.
— M-maná não tem r-raiz.
— Bah, você entendeu.

(Números 27:1-11)

Zelofeade (caralho!) era um israelita da tribo de Manassés que morreu no deserto deixando cinco filhas: Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza (puta que pariu!). Como não havia filhos homens, as cinco irmãs foram solicitar a Moisés o direito à herança do pai. Vejam só que absurdo, até então ninguém havia pensado nisso. Mas Moisés falou com Javé, que decidiu que o que elas pediam era justo e que dali por diante as filhas teriam direito à herança dos pais, desde que (é claro) não houvesse filhos homens.
Bah, eu nem sei por que enfiaram essa história tão cheia de detalhes, com nomes e tudo, justamente neste capítulo. Deve ter sido para disfarçar o impacto da segunda metade do capítulo, a qual vou contar daqui a pouco.
Filhas de Zelofeade… Eu lá quero saber dessa família de nomes estranhos? A Bíblia tem umas coisas inexplicavelmente chatas mesmo!