Viva! Deu um trampo da porra mas eu consegui montar um quarteto cujos componentes sou eu mesmo. Ficou uma merda. Apesar dos meus esforços, uma das vozes ficou com volume mais alto que o das outras. E como não tenho idéia de como é que se dividem as vozes de um quarteto, cantei (ou tentei cantar) cada faixa no tom de cada uma das quatro notas que formavam o primeiro acorde. Mas quem liga pra isso? São maravilhas da tecnologia! Quatro Marcurélios incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais. Ouçam (botão direito – salvar como):

Quarteto Marco Aurélio – É Preciso Perdoar

Ontem Bárbara, Camila e eu fomos assistir ao documentário Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje, de Izabel Jaguaribe. É claro que eu achei o filme perfeito. Paulinho da Viola está entre os meus maiores ídolos. Suas maneiras suaves, suas relações familiares (há um trecho comovente do documentário em que Paulinho, seu pai César Faria e seu filho João tocam juntos), seu talento de artesão e seu perfeccionismo, tudo isso se reflete em sua música. E o documentário também sofre essa influência: é suave, despretensioso, bem humorado de um modo sutil.
Há problemas no filme, é claro. Aliás, há UM problema chamado Marina Lima. Não sei se vocês sabem mas Para Um Amor No Recife ocupa um lugar bem perto de Chega de Saudade no topo da lista das minhas músicas prediletas (se não sabiam, leiam aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Pois bem, anos atrás Marina Lima gravou uma versão lamentável e completamente equivocada de Para Um Amor No Recife. Até aí tudo bem, azar dela e de quem quiser ouvir aquele lixo. O problema é que algum cabeça de bagre resolveu chamar a Marina para participar do documentário e a desgraçada fez um dueto com o Paulinho cantando daquele jeito nojento dela. E mesmo quando o Paulinho cantava ela atravessava o ritmo. Eu só queria saber quem foi que falou pra Marina que declamar soluçando é a mesma coisa que cantar…
Bom, mas esqueçamos Marina. O filme conta com Marisa Monte em dois belos momentos, Elton Medeiros, Velha Guarda da Portela, Zeca Pagodinho, Nelson Sargento. E tem Paulinho da Viola cantando Coisas do Mundo, Minha Nêga, que fez a Bárbara quase pular da cadeira e se jogar dentro da tela. Uma pena ele não ter cantado a última estrofe, que é a parte mais bonita. Mas tudo bem, vai a letra inteira aí pra vocês:

Coisas do mundo, minha nega

Hoje eu vim, minha nega como veio quando posso
Na boca as mesmas palavras, no peito o mesmo remorso
Nas mãos a mesma viola onde gravei o teu nome

Venho do samba há tempo, nega, vim parando por aí
Primeiro achei Zé Fuleiro que me falou de doença
Que a sorte nunca lhe chega, está sem amor e sem dinheiro
Perguntou se eu não dispunha de algum que pudesse dar
Puxei então da viola, cantei um samba pra ele
Foi um samba sincopado que zombou do seu azar

Hoje eu vim, minha nega, andar contigo no espaço
Tentar fazer em seus braços um samba puro de amor
Sem melodia ou palavra pra não perder o valor

Depois encontrei seu Bento, nega, que bebeu a noite inteira
Estirou-se na calçada sem ter vontade qualquer
Esqueceu do compromisso que assumiu com a mulher
Não chegar de madrugada, e não beber mais cachaça
Ela fez até promessa, pagou e se arrependeu
Cantei um samba pra ele, que sorriu e adormeceu

Hoje eu vim, minha nega, querendo aquele sorriso
Que tu entregas pro céu quando te aperto em meus braços
Guarda bem minha viola, meu amor e meu cansaço

Por fim eu achei um corpo, nega, iluminado ao redor
Disseram que foi bobagem, um queria ser melhor
Não foi amor nem dinheiro a causa da discussão
Foi apenas um pandeiro que depois ficou no chão
Não tirei minha viola, parei, olhei e vim-me embora
Ninguém compreenderia um samba naquela hora

Hoje eu vim, minha nega, sem saber nada da vida
Querendo aprender contigo a forma de se viver
As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender

(Paulinho da Viola)

Ah, e depois do filme comemos pizza e bebemos cerveja na preciosa companhia da Kátia. Ah, como é bom o convívio com pessoas que cultivam e apreciam a ironia e a inteligência…

Atenção, leitores queridos do meu coração: muito cuidado com e-mails supostamente enviados por bancos solicitando a entrada num determinado site para recadastramento ou informações sobre empréstimo ou outra bobagem qualquer. Hoje mesmo eu recebi uma mensagem que seria do Banco Itaú falando sobre um empréstimo que eu deveria aceitar ou não entrando no site www.ltaunet.com.br. “Oras, e daí?”, vocês hão de perguntar. Afinal de contas, se você entrar no Registro.br e procurar www.itaunet.com.br, verá que o domínio está devidamente registrado para o Banco Itaú. Pois é aí que o bicho pega: Notem que o endereço que veio no e-mail era www.ltaunet.com.br. Ali no começo é um L e não um I. As informações fornecidas nesse clone do site do banco são enviadas para o e-mail kralinhoo@mail.com, cujo feliz proprietário passará a contar com vários números de conta e respectivas senhas do Itaú.
Muito cuidado, portanto. Mais informações aqui.

Citei três exemplos de filmes que o Pedro Bó chamaria de americanizados e me esqueci do mais americano de todos: o japonês O Chamado. Não fossem os olhos puxados dos personagens, a uma primeira olhada qualquer um diria tratar-se de produção hollywoodiana. Mas há aqui um fator que permite a comparação: O Chamado tem uma versão americana, que é em tudo fiel ao original. Daniel Limafalou nisso, com muito mais propriedade do que eu (é claro), mas me arrisco a dar meu pitaco: apesar de ser em tudo e por tudo um filme no mais puro estilo hollywoodiano, há algo de profundamente oriental que faz da versão japonesa um filme assustador e algo de indiscutivelmente ocidental que torna a versão americana apenas medíocre. Não me peçam para explicar, eu não conseguiria. Assistam aos dois filmes e vejam.
E pensando em O Chamado fui levado a divagações sobre como o Japão lida com a influência estrangeira. Devo estar errado, como sempre, mas eis o que concluí: enquanto nós vivemos com esse sentimento de culpa em relação à cultura estrangeira que consumimos, os japoneses não têm o mínimo pudor de absorver essas influências e devolverem-nas ao mundo nas mais diversas formas de releitura (ô palavra horrível da porra!), desde a cópia pura e simples até a mera paródia. Apesar disso, a cultura japonesa permanece intacta. Talvez isso tenha a ver com a fé no próprio taco: “Ah, então é essa a cultura deles? É legal, mas a nossa também é”. O futebol, por exemplo, tornou-se uma paixão por lá, graças em grande parte ao Zico. Jogadores de futebol são heróis nacionais. Assim como os lutadores de sumô, que não perderam seu espaço para os futebolistas (que sairiam no lucro: no espaço ocupado por um lutador de sumô cabe uma dúzia de jogadores de futebol).
Será essa a resposta? Será que os modernistas de 22 e os tropicalistas da década de 60 é que estavam certos? Que o negócio é a gente consumir cultura estrangeira sem culpa, confiando na força da nossa própria cultura? É claro que para isso seria necessário que conhecêssemos nossa cultura (todo mundo fala da música brasileira, mas só alguns a conhecem de verdade); mas será esse o vislumbre de um caminho?
Respondam, porra.

Post hoc, ergo propter hoc. Não se assustem: trata-se de uma expressão latina que significa “aconteceu após um fato, logo foi por ele causado”.
(Sim, sim, meus amigos. Eu resolvi assumir de vez que não passo de um pretensioso sem-vergonha. E nada melhor que isso do que enfiar um pouquinho de latim aqui e acolá)
Um exemplo extraído de O Mundo Assombrado Pelos Demônios, de Carl Sagan, é a absurda frase “Antes de as mulheres terem o direito de votar não havia armas nucleares”.
Outro: recentemente um sujeito fez um blog de ódio contra mim. O fulano era tão certo de sua importância que exultou ao ver um aumento no número de visitas do JMC, dizendo que isso se devia à oposição feita por ele. À parte ser algo tristemente patético alguém dar esse tipo de importância a um reles blog, suas noções de causa e efeito estavam deturpadas: o aumento do número de visitas aqui devia-se exlusivamente a um surto que o Rafael teve na época que o fazia citar-me a toda hora. Felizmente o rapazinho foi curado e seu blog voltou à excelência de antes.
A crítica ao filme Extermínio, de Danny Boyle, que li hoje na Folha de S. Paulo cai na mesma falácia. O autor, Pedro Butcher (quase o nome do afilhado do Pantaleão, Pedro Bó), diz que o filme é “americanizado” e relaciona isso (de uma forma que ele deve achar sutil) ao estreitamento constante das ligações entre Bush e Blair que, de fato, daqui a pouco estarão dormindo juntos.
Eu não vejo tal relação. Mesmo porque a tal americanização não é recente nem se restringe ao cinema inglês. Assista ao espanhol Fale Com Ela, ao brasileiro O Homem Que Copiava ou ao mexicano Aos Olhos de Uma Mulher e você verá a repetição do fenômeno. Será que José Maria Aznar, Lula e Vicente Fox têm alguma coisa a ver com isso, na mesma medida em que Blair influencia na transformação do cinema britânico? Ou seria rebuscado demais?
O fato é que os culturetes freqüentadores do Espaço Unibanco de Cinema podem espernear e berrar à vontade que não conseguirão negar o óbvio: a importância e qualidade do cinema norte-americano e, mais do que isso, a sua grande (ai!) penetração (ui!) em todas as brechas (gozei). Sendo assim, é natural que ocorra uma evolução na forma de se fazer cinema em todo o mundo, que se aproxima cada vez mais do padrão americano. É o Darwinismo aplicado à indústria cinematográfica. É ruim? É bom? Sei lá! Meu único medo é começarem a surgir filmes adolescentes iranianos. A substituição de belas americanas burras, peitudas e peladas por iranianas com olhar penetrante que deixam entrever uma nesga de tornozelo seria muito frustrante.

Estávamos eu e Camila falando sobre esse lance de membro fantasma de que falei no antepenúltimo post. Sim, ando obcecado por neurologia, mesmo porque tenho notado alguns problemas neurológicos bastante estranhos em mim. Mas falávamos de membros fantasmas e contei pra ela o caso de um cara que teve o pênis amputado mas ainda acordava com ereções. Então pensei: Bem que o médico podia se compadecer do cara e cortar uma das mãos dele, né? Pelo menos ele batia uma punhetinha de vez em quando…