Diálogo com o Risadinha, quando nos dirigíamos à casa da Daniela:
— Tô aqui pensando num jeito de ficar perto da Ana. Acho que vou me mudar pro Rio.
Eu, pensando que era sério:
— Legal. Já tá mandando currículo?
— Nah. Esse negócio de trabalhar em escritório não dá futuro. Vou trabalhar para o Tráfico.
— …
— É sério, porra! Arrumo uma boca na Favela do Jacaré e logo logo tô montado na grana. Já pensou? “Risadinha do Jacaré”!
— RISADINHA DO JACARÉ??? QUE RIDÍCULO!
— Pára, ô! Mor responsa!
— Calaboca, moleque! Imagina a notícia no Jornal Nacional: “Foi preso hoje no Rio de Janeiro o traficante Leandro José, vulgo Ris… Pffff… Vulgo Risadinha do… hhhhhnnnf… Risadinha do Jacar… HAHAHAHAHAHAHASDÇKHJADSÇLJDAÇ!”
— Bah, cê não manja nada do mundo do crime…

Não foi um dia muito legal, vários motivos para passar raiva. Estava aqui querendo quebrar tudo quando o Pedro veio puxar assunto no ICQ, reclamando que a minha musa foi chamá-lo de Pierre, e que isso era culpa minha, e que não ia ficar assim, e que ele ia inventar histórias ao meu respeito com ajuda do Risadinha, do Tonon e do Lelê e acabar com minha reputação e não sei mais o quê. Eu, que estava puto, me acalmei um pouco só de ver que tinha causado irritação involuntária em alguém. E tratei de esclarecer: Ninguém precisa inventar histórias escabrosas ao meu respeito, basta ler os arquivos do Contosim. Lá tem a história da orelha, da uva-passa, da mãe morta… Várias!
Dito isso, tratei de ir eu mesmo reler o Contosim. E foi a melhor terapia possível. A tensão se foi depois de tanta risada.
Sei que o Zezinho nem acessa mais internet agora que está curtindo suas merecidas férias de seis meses. Mas gostaria de agradecer a esse velho amigo pelos momentos de alegria que nos proporciona com suas histórias mirabolantes, seja ao vivo, seja no finado blog. Valeu, Zé.
E, porra, leiam a história da uva-passa. Esculhambem-me.

Pois então, fui até o Detran hoje novamente. Cheguei lá com minha calma habitual. Pouco antes da minha vez, a instrutora veio falar comigo:
— Marco Aurélio, você é o próximo.
— É, eu sei.
— Sabe? Não tá nervoso?
— Nervoso? Eu??? Pfffffff…
— Puta merda, cê veio ao mundo a passeio mesmo…
E mantive minha frieza e autocontrole por quase todo o tempo, só os perdendo na hora em que entrei no carro. Bobagem. As pernas tremiam, as mãos tremiam, eu suava. E aí foi um total descontrole, coordenação motora zero.
Mas respirei e comecei a palhaçada de sempre: ajusta banco, acerta retrovisores, bota o cinto de segurança, liga o carro, pisa na embreagem, engata a primeira marcha, acelera um pouquim, SOLTA O FREIO DE MÃO e sai com o carro. Perfeito. A não ser por um detalhe besta. Fiz tantas aulas naquele Gol e não sabia de uma particularidade dele: o danado tem PNEUS TALENTOSOS! Sim, os pneus saíram cantando! Mas o cara do Detran não percebeu a beleza e poesia implícitas nesse fato, e classificou o belo uníssono dos pneus de “perda de controle por parte do condutor”. Ridículo.
Tudo bem, tudo bem, o carro andou, não morreu nem nada. Logo de cara ele me falou pra parar na baliza azul. Fui lá e fiz A BALIZA MAIS PERFEITA DE TODA A HISTÓRIA!!! É sério, tenho até a impressão de ter ouvido alguns aplausos.
Saí da baliza tal qual Nelson Piquet saindo do box da Willians. Empolgadíssimo, dei seta para a direita, olhei para ver se não vinha nenhum carro e fiz a conversão mais perfeita do mundo desde Saulo no caminho de Damasco.
— Você ignorou a placa de parada obrigatória.
— Puta que pariu.
— Pois é.
Com isso estavam encerradas minhas chances. Consciente de minha derrota, não errei mais NADA durante todo o trajeto. Tá certo que não teve ladeira, não teria sentido fazer ladeira depois de já ter tomado bomba. Mas, porra, como evoluí!
E foi assim minha segunda tentativa. Ainda ridícula, mas bem melhor que a primeira (pior é que não podia ser). Desci do carro e me dirigi ao lugar onde estavam os instrutores e alunos da minha autoescola.
— Porra, cê saiu cantando pneu!
— Cês viram? Eu sou foda. A Sandra [instrutora] que me ensinou.
— EU??? Deixa de ser cara-de-pau!
— Ué, cê não lembra? “Sai cantando pneu que cê pega mulé bagaray”.
— Apaporra. Mentiroso feladaputa.
— Hehehehe. Se fodeu, vou marcar mais umas aulas com você.
— Eu não mereço…
Isso aí. Que venha a terceira.