Ela me tirou para dançar. Eu estava no meu canto, falando bobagens para um monte de desconhecidos e curtindo minha bebedeira. Nem pensava em dançar. Não sei dançar, e foi o que respondi a ela:
— Não sei dançar.
— Eu te ensino. Vamos?
— Hum. Bora.
E começamos a dançar. Não sei que tipo de música era, só sei que era bem fácil de se dançar. Ou então eu que estava muito bêbado, dá na mesma.
— Gostei muito de você. É divertido, fala com todo mundo. Qual o seu nome?
— Marco. E o seu?
Ela disse um nome que eu esqueci no instante seguinte. E continuou falando. Contou do relacionamento terminado recentemente, da loja mantida com muito esforço, da amizade com os donos da festa. E eu só me concentrando para não perder o ritmo. Dançar é um troço complexo.
Terminou a música.
— Vamos lá para fora? — propus.
Ela apenas sorriu. E fomos lá para fora. Mais um pouco de conversa. Beijos. Amassos. Mãos bobas. Êba. Ela me passou o número do telefone. Me fez prometer que ligaria no dia seguinte. Prometi. Nos despedimos com um beijo.
Cheguei ao hotel me sentindo O cara. Ela nem me conhecia! Eu nem precisei fazer nada! Ela que tomara a iniciativa! Era muito fzzzzzzzzzzzzzzzzzz…
Bom, acordei no dia seguinte com aquela ressaca. Minha cabeça parecia maior ainda. Minha boca parecia revestida por uma lixa. Cada movimento lançava dardos envenenados por dentro do meu crânio. Só à tarde me senti razoavelmente normal. E então resolvi ligar para a garota.
— Olá. É o Marco.
— Oi, Marco, tudo bem?
— Tudo beleza. E com você?
— Tudo ótimo. O que você vai fazer hoje?
— Hum… Então… O pessoal (que pessoal?) me intimou a fazer um passeio turístico pela cidade (hã???).
— Ah, que pena. Ia te chamar para vir aqui em casa…
— Puxa, que pena. Não vou poder (NÃO VAI PODER POR QUÊ, HOMEM DE DEUS??? TÁ MALUCO????).
— Então tá. A gente se fala. Beijo!
— Beijo.
Desliguei o telefone sem acreditar. Por que eu fizera aquilo? Não sou nenhum garanhão, não posso me dar ao luxo de sair por aí esnobando a mulherada.
Só entendi quando voltei pra casa e fui ver as fotos. Jesus! Que baranga!
Desde então passei a acreditar no anjo da guarda. O meu se manteve sóbrio enquanto eu fazia a bobagem, e depois evitou que eu fizesse uma bobagem maior ainda.
Agradeço pela graça alcançada.

— Ah, lembrei de um negócio aqui. A bênção.
— B-bênção de q-quê?
— A bênção que o sacerdote deverá dar ao povo. Aquele lance todo da importância dos rituais e blablablá. Tô com ela num papelzinho aqui. Arão, lê pra mim que é pra eu ver se soa bem.
— Tá. Arram… “Que Javé os abençoe e os guarde. Que Javé os trate com bondade e misericórdia. Que Javé olhe para vocês com amor e lhes dê a paz”. Pô, que bonito. Nem parece coisa sua, Javé.
— Ficou legal, né? Coisa do Duda Mendonça. Minha gestão pode não ser lá essas coisas, mas as peças publicitárias…
— M-muito b-bem, Ja-Javé. M-mas já ch-chega de ri-rituais e l-leis, n-não?
— Nunca é demais, Moisés.
— D-droga.

Bom, chega de pesquisa. A opção que obteve mais votos foi “Não gostei. Volta pro preto.”, com 56 votos (24%). Eu até voltaria pro preto, mas o preto não me quer mais, não atende meus telefonemas, manda dizer que não está quando lhe levo flores. Então vai continuar tudo do jeito que está mesmo.