— Você está MENTINDO.
— Mentindo? Desde quando eu minto, Bárbara???
— Desde um pouco antes de aprender a falar, ao que consta.
— QUE CALÚNIA!!! Sou um rapaz evangélico!
— Tá vendo, é por coisas assim que vc fica desacreditado.

Ex-namorada é uma raça muito intolerante…

E por falar nisso, como se fala besteira a respeito de João Gilberto! Poderíamos brincar aqui de sair caçando bobagens publicadas sobre ele nos órgãos de imprensa nos últimos anos, mas há uma matéria só que resume tudo: Esta aqui, de autoria de um certo Mauro Dias.
Primeiro o cara diz que João não fala em shows, e surpreendeu a todos falando. Oras, faça-me o favor! Foi meu sexto show de João Gilberto, e em todos ele falou com a platéia na maior simpatia. Depois o tal jornalista fala da “deslumbrante” versão de “Saudosa Maloca”, como se fosse a maior das novidades, como se João não tivesse cantado o samba de Adoniran Barbosa nos últimos três shows que fez em São Paulo.
Mas o melhor fica para o final: A desconhecida letra alternativa de “Ligia”, do maestro Tom Jobim. Oh, ninguém conhece essa letra! Oh, João garimpou uma pepita! Oh, que surpresa. Tudo muito lindo, não fosse o fato de João sempre cantar “a outra letra” de “Ligia”. Que não é tão desconhecida assim: Qualquer sujeito cujos conhecimentos de música brasileira vá um pouco além de “Garota de Ipanema” sabe que Tom fez duas letras para “Ligia”. Mas esse tal Mauro Dias aí não me surpreenderia se dissesse que não conhece nem “Garota de Ipanema”.
Bom, fora a falta de informação visível do jornalista, o texto está muito mal escrito. Qualquer primeiranista de Jornalismo riria da estrutura do artigo. Ruim demais.
Queria eu assistir a um show de João Gilberto de graça e ainda ser pago para isso…

Show de João Gilberto é sempre aquela coisa: assustadas com tudo o que já leram nos jornais, as pessoas na platéia fazem um silêncio absurdo. E se alguém se manifesta, é logo alvejado por “psius” vindo de todos os lados. Porque o homem pode ficar bravo e ir embora, ou dar bronca, ou tirar a roupa e balançar o pau pra platéia.
Pois então. Ontem, logo no começo do show fez-se ouvir uma tonitruante voz de forte sotaque italiano vindo da frisa superior:
— Giovanni Gilberto!
(PSIU! PSIU! PSIU!)
— Giovanni, estou vindo agora de Roma e trago para você uma bênção do Santo Padre.
(PSIU! PSIU, PORRA!)
— O Papa disse o seguinte para mim: “Há deus no céu e Giovanni Gilberto na terra”.
Psius mesclados com aplausos. João, de cabeça baixa coçando o joelho direito, como sempre faz antes de dizer alguma coisa, responde:
— Que deus nos abençoe a todos. Daniel, meu amigo Daniel… Nos encontramos em Roma… Entra e sai do Vaticano como se fosse brincadeira. Está conversando, de repente diz “Vou ali”. Aí entra no Vaticano e volta trazendo uma bênção. Grande Daniel!
Aplausos. É sempre assim: João fala um “a” e o povo aplaude. E essa fala foi quase um discurso. Impressionante.
Mais tarde, uma moça pediu “Corcovado”, pedido logo seguido de psius. Mas João coçou o joelho, abaixou a cabeça e:
— Daniel, seu filho está aí?
— Tô aqui, João!
— Francesco… Lembro de você pequenininho lá na Itália, gostava tanto de “Corcovado”…
E emendou: “Um cantinho um violão/Este amor, uma canção/Pra fazer feliz a quem se ama”.
Quanto ao show, não há o que dizer. A perfeição de sempre, repertório impecável, som perfeito (não entendo nada de som, mas se o João não reclamou só podia estar perfeito). E uma surpresa: A participação de Caçulinha, que passou quase o tempo todo atrás da cortina. Fez alguma intervenções com seus teclados, coisa discreta, como pede a música de João. E em Farolito fez um solo de acordeom belíssimo.
No final, outra surpresa: João e Caçulinha cantando “Quem disse que não dá? / Na Fininvest dá”. Lindo demais.

Então Fulana não quis.
Aí Sicrana quis, mas depois desistiu.
E daí? Há um mundo de Beltranas lá fora. As Beltranas fazem meu tipo.
Aprendi com um grande amigo que o movimento dos peões é ininterrupto, mesmo que não o percebamos logo de cara. Somos uma seta em pleno vôo, e nem o capeta sabe onde é que vamos acertar.
Não entenderam? Muito bem!

Aê, povo curitibano do meu coração: Dia 1º de maio estarei em sua linda cidade. Não, não vou ao tal festival. Casamento de um amigo (meu chefe, inclusive). E então eu queria saber se há aí pessoas dispostas a tomar ao menos uma cerveja comigo. O Walter e o Polzonoff já confirmaram presença, mas eu desconfio que os dois são a mesma pessoa, então quero mais gente. Quem vai, quem vai?