Hoje era pra ter sido um dia muito triste. Mas há momentos em que parece que existe mesmo alguém cuidando da gente: Justamente hoje — eu achando que ia mergulhar no poço de novo — moskito e Thiagão resolveram ressuscitar seus blogs.
Meus amigos, vocês não têm idéia da alegria que deram a este alquebrado coração. Muito obrigado.
(E ao Pedro, muito obrigado por ser portador de boas notícias. E vê se segue o exemplo dos caras, porra)

— Pois então, meus filhos, é isso aí.
— A-acabou, Ja-Javé?
— Quase. Só falta uma coisinha… Esse negócio todo que eu falei pra vocês precisa de infraestrutura. E pra termos infraestrutura, precisamos de dinheiro. Então pra encerrar de vez, vamos ver aqui um jeito desse negócio de Tabernáculo, sacrifícios, leis e o diabo a quatro dar dinheiro. Hum… Por exemplo, as pessoas podem se dedicar ao serviço do Tabernáculo. E quem fizer esse tipo de compromisso, além de trabalhar de graça, vai ter que pagar pra se libertar.
— Bah, Javé! Quem é que vai entrar numa fria dessa?
— Vai por mim, Arão. É só dizer que é um negócio sagrado, que á para o serviço de deus; insinuar que isso trará recompensas na outra vida, e pronto: Vai fazer fila de neguinho aí na porta do Tabernáculo, todo mundo doido pra se dedicar a deus.
— Hum… Mas e aí, suponha que o cara resolva que não quer mais? Vai ter que pagar quanto?
— Boa pergunta. Bora fazer uma tabela, peraí. Hum… Hum… Pronto, taí:

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— O q-que s-são e-esses n-números?
— Moedas de prata. Por exemplo, se um cara de 25 anos se dedicar ao trabalho do Tabernáculo e depois perceber que é roubada, só poderá sair pagando 50 moedas de prata.
— Mas Javé… Isso aí dá mais de meio quilo de prata. É uma boa grana.
— A idéia é essa, Arão. Precisamos de dinheiro. Se o cara não tiver essa prata toda, podemos até quebrar um galho: Ele vai, bate um papo com o sacerdote, e aí os dois acertam um preço que o cara possa pagar. Mas de graça é que não vai sair.
— Saquei. Então vai ser essa nossa fonte de receita?
— Sim, mas não a única! Tô bolando outras coisas aqui. Olha só: Se alguém prometer um animal que pode ser oferecido em sacrifício, o bicho passa a ser considerado sagrado. A partir do oferecimento, não poderá ser trocado por outro melhor ou pior. Se o cara quiser dar uma de espertinho e trocar, os dois animais passam a ser dedicados a mim.
— B-boa e-essa…
— Eu sou foda, Moisés. Mas continuando: Se o animal que o cara for oferecer for impuro, então levará o bicho ao sacerdote, que avaliará o preço de acordo com sua condição. Se o dono quiser comprar o bicho de volta, deverá pagar esse preço mais vinte por cento.
— Pô, mas pra que a gente vai querer um animal impuro, que não se pode oferecer em sacrifício nem comer?
— Oras, o quê! Vender para os estrangeiros! Ganhar dinheiro!
— Espertinho você…
— Espertinho é porra nenhuma, eu sou é deus! E vamos em frente: Se um fulano aí resolver que quer dedicar sua casa a mim, o sacerdote fará a avaliação da casa e pagará o preço. Se o cara quiser a casa de volta, pagará este preço acrescido de vinte por cento.
— T-taxa p-pesada, hein?
— Claro, Moisés! Senão fica fácil! E olha que ainda tem mais: Se alguém quiser oferecer um terreno que recebeu de herança, o sacerdote avaliará a terra de acordo com a quantidade de sementes necessárias para semeá-la. O valor será de 570 gramas de prata para cada cem quilos de cevada.
— Pô, então vai dar pra ganhar uma grana com isso aí.
— Nem sempre, porque esse será o preço máximo possível. Porque preço final será calculado de acordo com o tempo que falta para o próximo Jubileu, percebe?
— Ah, faz sentido.
— Pois é. E aí se o cara quiser o terreno de volta, a mesma pataquada de sempre: o preço mais vinte por cento.
— M-mas aí no p-próximo Ju-Jubileu o t-terreno v-volta pro do-dono, n-né?
— Claro que não! Só me faltava essa… No Jubileu o terreno passa a ser definitivamente dos sacerdotes. Precisamos de patrimônio, Moisés! O cara só vai ter direito ao terreno no Jubileu no seguinte caso: Ele oferece a terra ao sacerdote, e paga o preço estipulado.
— Peraí! O cara vai pagar para dar o terreno pra gente???
— Não, oras! Vai pagar pelo direito de ter o terreno de volta no próximo Jubileu.
— Que sacanagem…
— Ixe, cê ainda não viu nada… Vamos continuar. Bom, a primeira cria dos animais não poderá ser oferecida a mim porque, como vocês sabem, já é minha segundo a lei. A não ser, é claro, no caso da primeira cria de animais impuros. Com essas a gente até faz negócio.
— Zóio de lula, hein, Javé?
— Porra, Arão, tô ajudando vocês! Sacerdote vai ter a vida mansa com essas leis aí. Ainda mais que a gente vai cercar essas coisas dedicadas a mim de uma aura sagrada e coisa e tal. Nego vai respeitar muito isso aí, e vocês vão ficar numa boa. E ainda tem o dízimo…
— T-tava de-demorando…
— Ô, Moisés, não tem coisa mais eficiente pra se ganhar dinheiro do que o dízimo! É proporcional, todo mundo pode dar, uma beleza! Dez por cento de todas as colheitas e de todos os rebanhos serão dedicados a mim. Ou seja, vai pros cofres do Tabernáculo. Putz, essa religião nova aí vai ser um sucesso, cês vão ver!
— Se-será m-mesmo?
— Pode acreditar, Moisés! E se alguma coisa der errado, eu mando meu fi…
— M-manda q-quem?
— Er… Meu fi… Meu fisioterapeuta, já falei dele. Oras. Bom, acho que podemos parar por aqui. Muito obrigado a vocês, viu? Me ajudaram bastante.
— Bom, então quer dizer que acabou?
— Acabou nada! Cês podem tirar umas férias, descansar um pouco. Mas ainda tenho muito o que falar com vocês.
— Quando?
— Pode deixar que eu telefono.