Vocês não vão acreditar. Não, vocês não vão acreditar. Vão dizer que sou um mentiroso mequetrefe vil e rastejante. Não vão mais falar comigo. Eu sei. Eu sei. Mas eu preciso dizer mesmo assim.
Ah…
Não sei se eu digo… Vocês não vão acreditar mesmo… Eu digo?
— FALA LOGO, SEU MERDA!
Então.
A Bárbara atualizou o Modo de Usar.
— QUÊ??? MENTIROSO DA PORRA!
Tá vendo? Eu sabia! Eu sabia! Porra, vão lá e vejam. Um post em contraponto ao penúltimo post meu. Ela adora contrapor-se a mim. Aliás… Nah, deixa pra lá. Melhor não contar intimidades…

Esta é a época em que os sem-assunto se realizam. Você os conhece: São aquelas pessoas que falam interminavelmente sobre como está chovendo, que horror, e sobre como fez um calor insuportável a semana inteira, e sobre o ano passado, que não foi quente como este. Pois então. O Horário de Verão, todos sabemos, acabou no sábado. Olhe à sua volta. Note que há pessoas com um brilho diferente no olhar, um ânimo renovado, uma vontade de viver incomum. São os sem-assunto, embriagados e excitadíssimos pela chegada desse tema tão rico. E lá vão eles. Desfiam as vantagens do Horário de Verão. E fazem o contraponto, lembrando as suas desvantagens. Preste atenção nessas ricas conversas, porque hoje é o dia deles. No elevador, no ponto de ônibus, no metrô, no restaurante, o assunto é o mesmo. Eles contam quantos relógios tiveram que acertar. Dizem que acordaram mais cedo, por terem se esquecido de ajustar o rádio-relógio. Contam sobre o irmão que no ano passado chegou ao escritório uma hora mais cedo e teve que ficar esperando na recepção. Ah, são muitas histórias, todas empolgantes.
Mas sempre chega aquela hora em que os sem-assunto esgotam o horário de verão. Então eles olham para o sapato. Olham para o interlocutor e levantam as sobrancelhas. Olham para cima. E então seus olhos voltam a brilhar:
— É… Vai chover…
— Mas também, com o calor que fez essa semana…
— Insuportável.
— Insuportável! Dava pra fritar um ovo no asfalto. E agora, com o fim do horário de verão…
E lá vão eles.

Pra que servem as noites de domingo? A expectativa pela semana de labuta, associada à melancolia pelo fim-de-semana que ora finda, desperta nos corações uma sede de questionamento, uma ânsia de derrubar conceitos, de desafiar o estabelecido, transformando a todos, por um momento, em iconoclastas.
E foi esse emaranhado de sensações conflitantes — e no entanto harmoniosas — que nos levou a realizar esta que é, sem falsa modéstia, a obra experimental mais ousada dos últimos vinte anos. Com vocês,

TONON, RISADINHA & MARCURÉLIO – O OVO

Tonon – Violão, efeitos e risada abafada
Risadinha – Violão e efeitos
Marcurélio – Voz
Texto de Arnaldo Antunes.

Não preciso de câmeras. Tenho várias aqui, mas não preciso delas. Porque desde aquele dia meus olhos gravam sua imagem na película que fica lá no fundo da minha mente. E depois eles a projetam nas folhas em branco, nas paredes da sala, e até, titânica, nas fachadas dos edifícios ou no céu nublado. E é você falando, e gesticulando seus pequenos gestos, e sorrindo, e gargalhando, e vindo, e me abraçando, e pousando a cabeça no meu peito…
PAUSE
REWIND
STOP
PLAY
… e me abraçando, e pousando a cabeça no meu peito…
PAUSE
REWIND
STOP
PLAY
… e me abraçando, e pousando a cabeça no meu peito…
PAUSE
REWIND

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