— Aê, seus vagabundos. Tô pagando vocês pra quê?
— Hum… Ja-Javé, cê n-não t-tá pa-pagando a ge-gente n-não…
— Foi só uma força de expressão, Moisés. Vamos trabalhar.
— Ô, Javé, dá um tempo. Já não tem lei demais não?
— Relaxa, Arão. Vamos falar de coisas legais agora.
— EBA!
— Anotem aí: Castigos para vários pecados…
— Ca-castigos? I-isso é b-bom?
— Se é bom eu não sei, mas eu me amarro. Agora cala a boca e toma nota aí. Se um israelita ou estrangeiro que morar no meio do povo oferecer um filho para Moloque, será morto a pedradas pelo povo.
— Pô, Javé. E o povo lá vai querer matar um semelhante?
— Ah, Arão, você nasceu há pouco mais de 80 anos, não sabe de nada. Vai por mim, eu conheço o ser humano direitinho. É o bicho mais cruel que existe. Cê vai ver, os apedrejamentos em praça pública em breve serão diversão para toda a família.
— Tem razão. É uma vergonha.
— VERGONHA??? Que nada! É nessas horas que eu fico orgulhoso por ter criado vocês. Mas onde é que eu estava? Ah, se vocês se recusarem a apedrejar o cara, eu mesmo me encarrego dele. Mas sei que isso não vai acontecer. Conto sempre com a sede de sangue de vocês, e nunca me decepcionei. E vamos em frente. Se alguém aí for atrás de médiuns, videntes, astrólogos, ciganas, babalorixás, e coisas assim será expulso do meio do povo.
— E l-ler ho-horóscopo, po-pode?
— NADA! Vê lá, hein? Bom, deixa eu ver aqui. Quem amaldiçoar o pai ou a mãe será apedrejado. Se um cara comer uma mulher casada, ambos serão mortos. E o mesmo serve para todo tipo de putaria que eu já mencionei: Tudo punido com a morte. Irmãos que tiverem relações sexuais serão banidos. E o mesmo castigo vale para o casal que trepar quando a mulher estiver menstruada.
— Pô, Ja-Javé, mas i-isso n-nem é t-tão g-grave a-assim…
— Claro que é! Eu já cansei de dizer que vocês não podem comer carne com sangue, oras. Olha, cês têm que prestar atenção nessas leis. Senão cês vão ficar iguais aquele povo lá de Canaã. E eu não suporto aqueles caras. Não respeitam nada, riem da minha cara, um inferno. Obedeçam minhas leis. Obedeçam. Direito. Senão cês tão na roça. Entenderam?
— Fazer o quê…
— Bah, Arão. Cê reclama muito.

Calma, crianças. Não estou ignorando ninguém no ICQ. O fato é que esta merda de programa está todo errado já há alguns dias, como já salientaram o moskito e o Pedro. Então eu consigo enviar mensagens para algumas pessoas, mas não recebo as mensagens delas. Ou recebo as delas, mas elas não recebem minhas respostas.
Então pensem bem antes de colocarem meu nome na boca do sapo, ok? O pobre batráquio asqueroso e verruguento não merece isso.
Ah, e o sapo também não.

Não tem isso de coração. O coração é um músculo idiota, que só pode se gabar de ter força bruta suficiente para bombear sangue para todo o corpo. Nada de coração: Minhas personalidades todas convivem num só lugar. Ao contrário do que muitos pensam, há um pequeno cérebro perdido no vácuo de minha imensa caixa craniana. Esta pequena porção de massa cinzenta viveu feliz e despreocupada por muito tempo. Tudo era harmonia. Os neurônios viviam saltitantes, os dois hemisférios eram grandes amigos, o cerebelo viva lá sua vidinha de inválido.
E aí surgiu você e soou um alarme lá dentro. Um rebuliço danado, todo mundo querendo saber o que acontecia. O hemisfério esquerdo ainda tentou acalmar os ânimos, mas era tarde demais: O caos estava formado.
Talvez esteja aí a razão dessa dor de cabeça o dia inteiro. É uma briga danada aqui dentro. Há golpes de estado contínuos dentro do cérebro; a cada minuto uma das facções toma o poder e há paz por alguns instantes. Mas logo os conspiradores começam a cochichar, e lá vem outra convulsão revolucionária.
Não há cérebro que agüente tanta agitação. Se eu tiver um piripaque, um troço, um negócio, um ai-meu-deus, a senhorita vai se ver com meus advogados.