Ĝangalo lança as Faces de Marco Aurélio. Sim, meus caros: O Emotionrélio morreu e dois dias depois renasceu em esperanto. Agora eu acredito em reencarnação.
E não, eu não falo esperanto. Não entendo nada do que está no site. Devem ser coisas do tipo: “Esse tal de Marco Aurélio é um imbecil ridículo que, não tendo mais o que fazer de sua vida estúpida e sem sentido, resolveu fazer macaquices a pedido de seus leitores.”
(Coisas do Rubens, claro)

Fui até o fumódromo (que minha amiga Tereza chama, muito apropriadamente, de depressório) e ele já estava lá, empoleirado no encosto da poltrona.
— Me dá um Marlboro aí, mané.
— Desde quando urubu fuma?
— Você faz perguntas demais. Me arruma um Marlboro.
— Tô fumando Lucky Strike.
— Serve.
Estendi o maço pra ele, que pegou um cigarro com o bico e ficou olhando pra minha cara.
— Que foi agora?
— Você está me vendo?
— Estou, oras.
— Eu por acaso tenho mãos?
— Ué, o que isso… Ah.
Acendi o cigarro pra ele, que ficou fumando em silêncio enquanto olhava pela janela.
— Deve ser uma merda, não?
— O quê?
— Ficar assim. Preso ao chão o tempo todo, tendo esse céu todo pra voar.
— Ah. A gente se acostuma.
— Mesmo porque não há alternativas, não é mesmo?
— Pois é.
— Mas e aí, pensando muito na vida, ou melhor, na morte?
— Como de hábito.
— Mentira. Depois da nossa conversa de ontem você começou a pensar mais.
— É, acho que sim. Como você sabe?
— Ah, nós sabemos muitas coisas. Olhar tudo lá da altura onde voamos nos dá uma visão geral privilegiada. E comer carniça nos dá noção exata do interior das pessoas.
— Vocês não comem pessoas. Comem animais mortos.
— E qual a diferença? Fígado, estômago, intestinos, até o coração que vocês tanto prezam, é tudo igual em homens e animais. Aliás, essa é uma distinção que só vocês fazem. Para nós, é tudo a mesma coisa. A única diferença é que vocês, muito delicados, não conseguem lidar com a idéia da morte como fim de tudo. Aterrorizados pela visão de semelhantes sendo devorados por urubus, abutres, chacais e hienas, inventaram de enterrar seus mortos. E quando descobriram que nem sob a terra eles estavam livres da voracidade dos que se alimentam de cadáveres, inventaram religiões e deuses que prometem uma vida depois da morte.
— Você fala como se tivesse presenciado tudo.
— Nossa tradição oral é bem mais eficiente que a de vocês. Além do mais, eu já vi o terror e o ódio nos olhos de vocês ao verem um urubu se alimentando de um homem.
— Você VIU isso???
— Oh, sim. É a lei natural, sabe? Vocês tentam esconder seus mortos, mas sempre sobram alguns para nós. E nesse dia havia um cadáver flutuando no rio. Eu pousei sobre seu ventre inchado e comecei a comer. Quase fui morto.
— Você não fez isso!!!
— Ah, claro que fiz. E se fosse uma capivara, seu terror seria menor? Quer saber como foi?
— Não!
— Sim, você quer saber.
— PÁRA!
— Eu comi o olho dele.
— PÁRA! PÁRA!
— Estourou no meu bico feito uva madura.
— PÁRA COM ISSO!!!
— Você não consegue lidar com a realidade, não é? Pois vá tomando providências. Garanta-se para não acabar morrendo afogado, ou nalgum lugar remoto. Porque estaremos lá.
— Acho melhor você ir embora agora.
— É, também acho.
— Só mais uma pergunta, já que você sabe tanta coisa: Quando é que eu vou largar essa obsessão pela morte?
— Nunca mais.
— Nunca mais?
— Nunca mais.
— Isso foi uma resposta ou uma citação?
— Tá ficando esperto, mané. Todo urubu tem seu dia de Corvo. Tchau.

— Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas eu acho que cês tão numa moleza da porra. Vamos trabalhar!
— Ja-Javé, cê n-não ca-cansa de i-inventar le-leis não?
— Até canso, Moisés. Mas se eu não fizer o negócio direitinho, já viu: Cada um vai fazer o que der na telha e isso aqui…
— Vai virar uma esculhambação, que nem Canaã. Cê já falou isso.
— Eu sei que eu já falei, Arão! Tá me tirando? Eu sei tudo! Só que tenho que ficar falando direto, que é pra vocês aprenderem. Bom, vamos em frente com esse negócio. Vamos falar sobre as ofertas. Negócio seguinte: As ofertas que são trazidas aqui, tanto de animais como de cereais e tal, são coisas sagradas, e devem ser tratadas com todo respeito. Então os sacerdotes têm que prestar muita atenção: Se um deles vier aqui me apresentar sacrifícios num dia em que estiver impuro, ele não vai mais poder ser sacerdote.
— U-ué… N-não vai ma-matar n-não?
— Nah. Melhor tirar o emprego do cara. Não tem castigo pior do que perder essa mamata que é trabalhar no Tabernáculo, comer da melhor comida, usar roupas caras, ter carro oficial, verba de gabinete…
— É. P-puta ca-castigo.
— Tô te falando, eu sei das coisas. Então, Arão, fica esperto e avisa pros outros sacerdotes: Nego que tiver com lepra ou corrimento, que tiver tocado num cadáver de pessoa ou animal, ou nalguma coisa impura, ou se tiver melado a cueca…
— Hein???
— Arram… Se tiver EJACULADO. Então. Em qualquer dessas hipóteses o sacerdote estará impuro, e não poderá comer das ofertas. E aí é toda aquela aporrinhação que vocês já conhecem: Fica impuro até o pôr-do-sol, depois toma um banho. E só aí ele vai poder comer. E presta muita atenção nisso, Arão! Se um sacerdote desobedecer minhas leis, morrerá.
— Ué! Cê não ia só demitir o cara???
— Bah, mudei de idéia. Matar é melhor, sabe? Dá mais impacto. Mas vamos em frente. Nesse lance das ofertas aí tem mais um negócio: Só a família do sacerdote e seus escravos poderão comer das ofertas. Se alguém de fora da família sacerdotal comer uma oferta por engano, pagará ao sacerdote o valor da oferta mais vinte por cento de comissão. Cês tão anotando aí?
— T-tamos. A-acabou?
— Mais um pouco, peraí. Deixa eu ver aqui, tinha mais um negócio… Ah, achei! É sobre os animais sacrificados. Não podem ter defeito e tal. Cego, aleijado, sarnento, nada disso eu aceito. Tem que ser um bicho perfeito. Bom, tem mais leis aqui para sacrifícios, mas eu passo por escrito depois.
— Que foi, Javé? Cansou?
— Pois é. Muito chato isso aqui, puta que pariu.
NARRADOR: Estão vendo? Nem deus agüenta mais o Levítico…

Mandei um email pra galera pedindo dicas sobre carros e tal. E a conversa, como sempre, descambou para a putaria:

Zezinho: Vai tomar no seu cu com todas as forças do mundo. Voce quer um carro para pagar de gatão ou andar? Voce quer ficar preocupado com roubo, seguro, IPVA, risco, etc ou pegar seu carro ir e vir e acabou? Então tira esta idéia de jerico da cabeça e compra um carro USADO E A VISTA! Detalhe importante, UM CARRO DE R$ 8MIL É CARRO DE BOY!!!!! E tenho dito!
Eu: Zezinho, você está irritado porque apertou as tetas do Risadinha mas ele preferiu o Tonon. Você está fora de si. Vou relevar.
Risadinha: Informo aos interessados que fiz uma mastectomia (é esse o nome?) e reduzi o tamanho de meus seios para P. Grato.
Loira: Droga! Agora vai pedir minhas blusinhas emprestadas.

E eu continuo sem saber que carro comprar…