(Êxodo 29)
— Podemos continuar, Moisés?
— C-claro, J-Jajá…
— Jajá é o caralho, porra! Não abusa, que se não eu acabo com a tua raça. Humpf. Presta atenção aí que essa parte da consagração dos sacerdotes é importante. Olha o que cê vai fazer: Cê vai pegar um novilho e dois carneiros sem defeito, mais um monte de pães, bolos e broas, tudo sem fermento. Aí cê vai botar todos esses pães num cesto e levar até o Tabernáculo junto com o novilho e os carneiros. Cê tá prestando atenção, Moisés? Tá anotando?
— T-tô, po-porra!
— Vê lá, hein? Não vá me fazer merda na hora. Onde é que eu estava? Ah! Cê vai levar essa bagulhada toda pra porta do Tabernáculo. Aí você vai falar pra Arão e os filhos dele se aproximarem, e vai dar banho neles.
— Ah, Ja-Javé! N-não fo-fode!
— Achou engraçado me chamar de Jajá, né? Pois agora vai dar banho em marmanjo, quero nem saber. Depois que eles estiverem limpinhos, cê vai passar talquinho nas dobrinhas do Arão.
— PO-PORRA!
— Hehehe, essa parte aí é sacanagem. Cê vai vestir Arão e os filhos dele com as roupas que vocês vão fazer conforme os desenhos do Clodovil. E não vá se esquecer das cuecas, hein? Se eu vir um bago que seja dentro daquela porra daquele Tabernáculo, eu mato todo mundo, tá entendendo?
— Po-pode d-deixar, não v-vou e-esquecer as cu-cuecas.
— E faz muito bem. Bom. Todo mundo limpinho, de roupinha nova. Aí cê vai pegar azeite e derramar na cabeça do Arão.
— A-azeite? E de-depois? Vi-vinagre? S-sal? Mo-molho Rosé? Um li-limãozinho?
— Porra, Moisés, quantas vezes eu vou ter que te explicar que estou tentando criar uma religião aqui? Uma religião não se faz sem rituais! Precisa de coisas desse tipo aí, ou não vai pra frente. Esse azeite aí é uma demonstração de que o cara foi consagrado para o meu serviço, entendeu?
— N-não.
— Bah, foda-se. Cê vai fazer assim como eu tô mandando e pronto. Não tô bom hoje. Pois bem, onde eu estava? Ah, agora que vem a parte legal! Sabe o que teremos agora, Moisés?
— S-sei. SA-SANGUEEEEEEEEEEE!
— Isso aê! Muito bem, tá aprendendo. Cês vão trazer o novilho pra perto do Tabernáculo e Arão e os filhos dele colocarão as mãos sobre a cabeça do bicho. Aí cê vai degolar o novilho, molhar o dedo no sangue dele, passar o dedo nos quatro cantos do altar e derramar todo o resto do sangue na base do altar. Ai ai, esse papo tá me dando água na boca… Hmmmmm… Aí cê vai pegar toda a gordura que cobre as entranhas do novilho, mais a melhor parte do fígado e os dois rins, e queimar tudo isso sobre o altar, que eu também gosto de comer miúdos.
— Q-que n-nem os pa-padres?
— Não esses miúdos, Moisés. Porra, não me compromete! Tô falando dos miúdos dos animais, o fígado, os rins, essas coisas.
— Ah…
— Prestenção, Moisés, prestenção… Bom, feito isso cê vai queimar a carne, o couro e a merda do novilho fora do acampamento, que isso será o sacrifício pelo pecado de vocês. Depois disso, cê vai pegar um carneiro, os caras vão botar a mão na cabeça dele e cê vai degolar o bicho. Aí cê vai espargir o sangue do carneiro no altar e depois queimar o carneiro inteiro sobre ele. Gosto do cheirinho de carneiro assado, sabe? Então esse aí vai ser meu prato principal. Depois cê vai pegar o outro carneiro e fazer toda presepada de novo, mão na cabeça e degola. Com esse vai ser diferente, pra inventar outro ritual: Cê vai pegar o sangue do carneiro e manchar com ele a ponta da orelha direita de Arão e de seus filhos. E vai fazer a mesma coisa com o polegar direito e o dedão do pé direito de cada um deles: Manchar com sangue desse segundo carneiro. O resto do sangue, cê vai aspergir sobre o altar. Aí cê vai fazer uma mistureba do azeite da unção com o sangue do altar e borrifar essa meleca nojenta sobre Arão e seus filhos.
— P-pra que i-i-isso, Ja-Javé?
— Ai ai ai… Fora o negócio todo do ritual, que parece que cê não vai entender nunca mesmo, serve como diversão pra mim. Imagina só, eu já vou estar de bucho cheio, nada como dar umas risadas pra fazer a digestão.
— T-tá. E o q-que eu fa-faço c-com e-esse se-segundo ca-carneiro?
— Ah, é. Cê vai separar a gordura dele, o fígado, os rins e a coxa direita. Esse aí é o carneiro da consagração, olha que nome bonito. Aí cê vai tirar do cesto um pão, um bolo e uma broa, e entregar para Arão. O mesmo para os filhos dele. Aí eles vão ficar balançando os pães feito retardados, pra eu rir bastante, e depois você vai queimar tudo no altar. Aí cê vai pegar o peito do carneiro pra você.
— P-pra m-mim?
— É, porra. Cê achou que eu ia deixar você fazer tudo isso sem comer nada? Não sou tão ruim assim, pombas.O peito do carneiro é seu, o resto é para Arão e os filhos dele. Cê vai cozinhar esse carneiro e Arão e os filhos vão comer a carne, junto com os pães, na porta do Tabernáculo, que é pra todo esse povo bunda ver e ficar lambendo os beiços. E o que sobrar dessa comilança será queimado, porque é santo e coisa e tal.
— Q-que de-desperdício… B-bom, é s-só i-isso?
— Tá quase no fim, güentaí. Me empolguei com essa parte da comida aí. Todo dia eu vou querer um novilho, que cês vão oferecer como oferta pra eu perdoar os pecados de vocês. Isso por sete dias, que é pra purificar o altar. Feito isso, o altar será considerado santo, por eu já ter comido tanto nele. Depois disso, todo dia cês vão me oferecer dois cordeiros de um ano de idade, um de manhã e outro à tardinha. O da manhã será oferecido com farinha de trigo, azeite e vinho. O da tarde, com cereais. Vê lá, hein? Todo dia, que é pra eu não ficar puto e sair matando todo mundo.
— Cê p-precisa co-comer me-menos, Ja-Javé. Cê tá g-gordo p-pra ca-caralho…
— Bah, e daí? Morrer é que eu não vou, então quero mais é me esbaldar. Agora cê me dá licença que eu vou ali fazer um lanchinho, essa conversa toda sobre comida abriu meu apetite. Quando eu voltar, falaremos do altar do incenso.
— Po-porra, a-ainda t-tem m-mais???
— Relaxa, Moisés. Se sobrar alguma coisa do meu lanchinho, eu trago aqui pra você. Volto já.