Alguém me dê uma razão para sair de casa hoje! Não quero ficar em casa, mas não consigo me animar para sair, que porra! Este blog está virando uma coisa chata e lamentosa! Vou acabar sendo processado por falsidade ideológica se continuar assim! Ó, RAIOS!

Falei um negócio para a Loira durante a viagem. Naquela mesmo noite, na pousada, botei no papel. Não sei se alguém vai entender, mas aqui vai:

Toda essa coisa de ver mera futilidade em tudo que as pessoas normais fazem não passa de medo. Medo de admitir que preciso aprender muito, medo de encarar as coisas práticas da vida, dizendo que são mesquinhas e me garantindo nessa falsa busca do que é (ou seria) maior, sabendo muito bem que é inalcançãvel. Mesquinho sou eu ao não me permitir uma vida normal, socialmente aceitável.
Ou então é falta de boceta mesmo.

Todos já devem ter percebido que não sei mais escrever, né? Então vou apelar. Verissimo, por favor.

As razões do clube
Parece mentira, né? Lula presidente. Para quem, como eu, votou nele desde a primeira tentativa, é um pouco como dar adeus a um velho hábito. Já estávamos acostumados à decepção, a perder de quatro em quatro anos só para concluir de novo que o Brasil não tinha jeito mesmo, que alguém como ele jamais seria eleito, que a maioria oprimida jamais teria vez, porque as elites, porque o capital internacional, porque os americanos… E não é que o homem me ganha? Mas o ceticismo entranhado custa a morrer. Depois dos festejos vem a desconfiança. O que deu errado desta vez? Ou, mais intrigante: o que deu certo?
A primeira tentação é a de invocar o filósofo Marx, Groucho Marx, e alertar o Lula sobre o risco de entrar num clube que aceita sócios como ele assim tão facilmente. O segundo pensamento é mais especulativo, e otimista: e se o clube mudou? E se o Lula ganhou o apoio de gente que antes assustava não apenas porque a barba preta ficou grisalha e o discurso abrandou, mas porque há um sentimento generalizado de que algo está desmoronando, algo está chegando ao fim, e que é preciso colocar outra coisa pelo menos organizada no seu lugar, antes que a pura raiva antitudo tome conta? O anti-Lula desta vez não se criou porque o sistema desanimou cedo. O Serra foi um produto do desânimo do sistema.
Fala-se muito que o governo Lula terá pouco espaço de manobra para fazer o que pretende, com os compromissos que herdará. Mas o sistema internacional também está em crise, também há luta dentro do clube deles sobre o que é conveniente e o que é negociável para que o sistema sobreviva à sua própria irracionalidade, e talvez também haja interesse em facilitar a vida do novo sócio. Que, afinal, já declarou que não vai limpar os sapatos com o guardanapo, só quer mais consideração e justiça.

Estou há um mês usando Speedy sem provedor. Para quem não sabe, Speedy é o nome do serviço de conexão ADSL à Internet fornecido pela Telefonica aqui em São Paulo. Sou ou não sou um malandrão, um marginal, um homem misterioso e cheio de charme?
Não sou?
Hum.

(Êxodo 33)
Muito bem, muito bem, este blog era sobre o que mesmo? Ah, aquele papo todo da Bíblia e tal. Então vamos lá.
Moisés não gostou nada da idéia de fazer toda aquela viagem só com o anjão segurança. O cara era truculento, folgado, entrava nas tendas sem bater, almoçava cada dia com uma família sem ser convidado, um inferno. Então lá foi Moisés falar com deus:
— Ô Ja-Javé, que p-puta sa-sacanagem! Q-quer que e-eu g-guie esse po-povaréu t-todo so-sozinho?
— Sozinho não, Moisés. Esqueceu do anjo?
— E-esqueci n-não, e-esse é o p-problema, o t-tal a-anjo s-só a-atrapalha. P-porra, Ja-Javé, q-quebra essa! Cê n-não di-disse que t-tá go-gostando do meu t-trabalho, que m-meus re-resultaqdos são b-bons e s-sei lá o q-quê?
— É, falei.
— E-então! Eu po-poderia até pe-edir a-aumento, co-cobrar aqueles b-bônus a-atrasados ou e-exigir pa-participação nos lu-lucros. Mas s-só pe-peço a vo-você que v-vá c-com a ge-gente.
— Ah, Moisés, não sei não… Eu já falei que não ia, se mudar de idéia pode pegar mal.
— Se-seguinte: Se vo-você n-não f-for, a ge-gente nem s-sai daqui. C-com que ca-cara a g-gente vai ch-chegar em Ca-Canaã sem d-deus ne-nenhum? Os ca-caras v-vão tirar sa-sarro da n-nossa ca-cara. Ah, n-não! Ou vo-você p-promete ir ou fi-ficamos por a-aqui m-mesmo.
— Cacete! Era o que me faltava! Eu sabia, eu sabia: Foi só o Lula ganhar a eleição que já começou essa baderna de greve, piquete, o caralho a quatro. Puta que pariu!ARGH! Tá bom, vai. Eu vou com vocês. Tá satisfeito agora, seu subversivo?
— T-tá me-melhorando. M-mas tem m-mais uma co-coisinha…
— Ai meu saco…
— S-seu sa-saco não: Sua ca-cara. Faz t-tempo que a ge-gente se co-conhece e eu n-nunca vi a s-sua ca-cara.
— Ai caralho… Moisés, você não pode ver minha cara. Ninguém pode. Quem vê minha cara, morre.
— Po-porra, cê é t-tão f-feio a-assim, Ja-Javé?
— Feio é meu pau de óculos em Londres! Aquele que contemplar meu rosto morrerá ofuscado pelo esplendor da glória emanada da face divina, irradiando uma luz tamanha que até…
— De-devagar com a vi-viadagem, Ja-Javé.
— Epa, foi mal. Então, o caso é que você não pode ver a minha cara. Mas vou dar um jeito. Tem um lugar aqui perto onde você poderá ficar em cima de uma rocha. Quando eu for passar, colocarei você numa rachadura da rocha e o cobrirei com a mão. Depois que eu passar, tiro a mão e você pode me ver pelas costas.
— Pe-peraí, d-deixa eu v-ver se e-entendi: E-então o-olhar pra s-sua ca-cara não po-pode, mas a b-bundinha vo-você m-mostra pra quem qui-quiser?
— É isso aí… NÃO, PORRA! NUM FODE!
— Hehehe… Mas j-já que vo-você e-está a-aberto a ne-negociações hoje, bem q-que po-podíamos co-conversar so-sobre a-aquela p-participação nos l-lucros, né?
— Já disse, num fode…
— T-tá b-bom, t-tá b-bom…