(Êxodo 33)
Muito bem, muito bem, este blog era sobre o que mesmo? Ah, aquele papo todo da Bíblia e tal. Então vamos lá.
Moisés não gostou nada da idéia de fazer toda aquela viagem só com o anjão segurança. O cara era truculento, folgado, entrava nas tendas sem bater, almoçava cada dia com uma família sem ser convidado, um inferno. Então lá foi Moisés falar com deus:
— Ô Ja-Javé, que p-puta sa-sacanagem! Q-quer que e-eu g-guie esse po-povaréu t-todo so-sozinho?
— Sozinho não, Moisés. Esqueceu do anjo?
— E-esqueci n-não, e-esse é o p-problema, o t-tal a-anjo s-só a-atrapalha. P-porra, Ja-Javé, q-quebra essa! Cê n-não di-disse que t-tá go-gostando do meu t-trabalho, que m-meus re-resultaqdos são b-bons e s-sei lá o q-quê?
— É, falei.
— E-então! Eu po-poderia até pe-edir a-aumento, co-cobrar aqueles b-bônus a-atrasados ou e-exigir pa-participação nos lu-lucros. Mas s-só pe-peço a vo-você que v-vá c-com a ge-gente.
— Ah, Moisés, não sei não… Eu já falei que não ia, se mudar de idéia pode pegar mal.
— Se-seguinte: Se vo-você n-não f-for, a ge-gente nem s-sai daqui. C-com que ca-cara a g-gente vai ch-chegar em Ca-Canaã sem d-deus ne-nenhum? Os ca-caras v-vão tirar sa-sarro da n-nossa ca-cara. Ah, n-não! Ou vo-você p-promete ir ou fi-ficamos por a-aqui m-mesmo.
— Cacete! Era o que me faltava! Eu sabia, eu sabia: Foi só o Lula ganhar a eleição que já começou essa baderna de greve, piquete, o caralho a quatro. Puta que pariu!ARGH! Tá bom, vai. Eu vou com vocês. Tá satisfeito agora, seu subversivo?
— T-tá me-melhorando. M-mas tem m-mais uma co-coisinha…
— Ai meu saco…
— S-seu sa-saco não: Sua ca-cara. Faz t-tempo que a ge-gente se co-conhece e eu n-nunca vi a s-sua ca-cara.
— Ai caralho… Moisés, você não pode ver minha cara. Ninguém pode. Quem vê minha cara, morre.
— Po-porra, cê é t-tão f-feio a-assim, Ja-Javé?
— Feio é meu pau de óculos em Londres! Aquele que contemplar meu rosto morrerá ofuscado pelo esplendor da glória emanada da face divina, irradiando uma luz tamanha que até…
— De-devagar com a vi-viadagem, Ja-Javé.
— Epa, foi mal. Então, o caso é que você não pode ver a minha cara. Mas vou dar um jeito. Tem um lugar aqui perto onde você poderá ficar em cima de uma rocha. Quando eu for passar, colocarei você numa rachadura da rocha e o cobrirei com a mão. Depois que eu passar, tiro a mão e você pode me ver pelas costas.
— Pe-peraí, d-deixa eu v-ver se e-entendi: E-então o-olhar pra s-sua ca-cara não po-pode, mas a b-bundinha vo-você m-mostra pra quem qui-quiser?
— É isso aí… NÃO, PORRA! NUM FODE!
— Hehehe… Mas j-já que vo-você e-está a-aberto a ne-negociações hoje, bem q-que po-podíamos co-conversar so-sobre a-aquela p-participação nos l-lucros, né?
— Já disse, num fode…
— T-tá b-bom, t-tá b-bom…

Em 1989 eu tinha catorze anos de idade. Não podia votar, então apenas torcia pela vitória de Lula. E ele chegou muito, muito perto. Mas o povo brasileiro ficou com medo e preferiu eleger um maluco irresponsável que sequer conseguiu terminar o mandato. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso tornara-se imbatível graças ao Plano Real. Eleito, preocupou-se mais em fazer um toma-lá-dá-cá para garantir a reeleição do que em governar propriamente. Em 1998, era desaconselhável que Lula concorresse, e a derrota era esperada.
E eis que chegamos a 2002. Eu duvidei até o último instante da vitória petista. É bom demais para ser verdade. Quando vi o Alexandre Garcia no Fantástico dizendo que o TSE acabara de anunciar que Lula era o novo presidente com 85% das urnas abertas, chorei feito uma bicha. E teve um certo sabor de vingança ver a Globo, que em 89 moveu o mundo para eleger Aquele Cujo Nome Não Se Deve Pronunciar, babando o ovo para o novo presidente. E agora é a vez da mil vezes maldita revista Veja, que na edição anterior ao segundo turno ainda jogou uma última cartada para tentar desestabilizar a campanha de Lula, dando aos chamados “radicais” do PT importância inexistente.
O dia da posse vai ser foda. É capaz de eu ser internado, sei lá. Não alimento falsas esperanças. Como disse meu amigo André Barrocal, a posse vai ser nosso último momento de comemoração. Queríamos o Lula de 89, o Lula-Lá, não essa coisinha abicholada de Lulinha Paz e Amor. Seja como for, no entanto, será certamente bem melhor do que José Serra jamais seria. O PSDB cometeu um erro grave ao lançar aquele ser antipático como candidato à presidência. Enfim, melhor para nós. Agora é Lula.
Caralho, ainda não consigo acreditar.