Lá vai aquela multidão. Seiscentos mil homens adultos, no total talvez sejam três milhões de pessoas. E mais animais, carroças, uma multidão a se perder de vista. O caminho para Canaã é curto, basta passar pela Filistia, olha ali no mapa, a seta cinza. Mas a Filistia estava em guerra, e deus achou melhor levar o povo por outro caminho. Vai que os caras vêem a guerra, ficam com medo e resolvem voltar pro Egito? Pois é. Então vão por outro caminho.
— M-Mas J-Ja-Javé, no ma-mapa n-não t-tem o-outra ro-rota!
— Eu traço outra rota, aqui ó, em vermelho, tá vendo? Além do mais, eu vou na frente, mostrando o caminho. Eu vou andando, fumando meu baseado, e vocês vão seguindo a coluna de fumaça.
— T-tá bom e-então.
E lá se foi o povo, por um caminho desconhecido no meio do deserto, guiado pela fumaça do baseado de deus durante o dia, e pela brasa à noite.

* * *

— ÔOOOOOOOOO, Moiséeeeeeeeeeeeeeeeeeeees! WHASSSUUUUUUUUUUUUP?
— Bo-bota a li-língua pra d-dentro, J-Ja-Javé. Co-coisa f-feia…
— Hihihi. WHASSSSUUUUUUUUUUUP??????
— Po-porra, me d-deixa d-d-d-dormir.
— Tá, tá. Hehehe. Seguinte, Moisés. Prestenção. Tá me ouvindo? Tá’scutando? Então prestenção. Ó. Hehehe. Seguinte: O Faraó se arrependeu de deixar vocês irem.
— CO-CO-CA-CO-C-COMO???
— Peraê, peraê. Calma lá, prestenção: Ele tá planejando vir atrás de vocês. Mas cês vão fazer assim, ó. Se liga. Ó como cês vão fazer: Cês vão acampar perto de Pi-Hairote, entre a cidade de Migdol e o Mar Vermelho. Aí, olha só. O Faraó. O Faraó, aquele, tá ligado? Então. Ele vai pensar que cês tão perdidos. E aí… E aí… E aí…
— E a-a-aí…?
— Hum. Esqueci. Mas tá tudo lá no computador. Amanhã a gente vê isso, que agora eu num tô bãaaaaaaaao Num tô meeeeeeeeeeesmo. UUUUUUUUUUUH!!!! Tchau.
* * *

E não é que deus, apesar de bem louco, estava certo? O Faraó acordou muito puto no meio da noite.
— PORRA! Que foi que eu fiz??? Deixar esse povo todo ir embora, caralho??? ONDE É QUE EU ESTAVA COM A CABEÇA.
Começou a ligar para seus oficiais, que vieram correndo para o palácio. Traçaram um plano de batalha madrugada adentro, e começaram a convocar soldados e preparar carros e cavalos para a perseguição aos hebreus.
— Faraó, uma boa notícia! Eles estão acampados em Pi-Hairote. Se viermos por trás… Hehehe… “Se viermos por trás”. HAHAHAHA. Ha. Hum. Arram. Então, o fato é que eles ficarão encurralados contra o Mar Vermelho. Não têm a mínima chance.
— Ah, mas que beleza… Então preparem tudo, que no fim da tarde nós começamos a marcha para o deserto. Hebreu que não quiser voltar para trabalhar, será morto sem dó. Entendido?
— Quem, eu? Eu não, Faraó, tá me estranhando? Tenho mulher, até amante eu tenho, sou macho…
— Ai meu saco. Perguntei se você entendeu, comandante.
— Ah, sim. Claro. Entendi tudo. Perfeitamente.
— Ótimo.
Estavam os israelitas acampados, já anoitecia e todos se preparavam para dormir quando ouviram um rumor vindo do oeste. Alguns foram ver do que se tratava e voltaram com as piores notícias possíveis.
— Fodeu! É o exército do Faraó! O filho da puta tá vindo atrás da gente!
Desesperado, o povo reclamava com Moisés:
— MOISÉS! Ô, Moisés! Os cemitérios do Egito estavam lotados, por isso você trouxe a gente pra cá, pra morrer no deserto? PORRA! A gente cansou de dizer que não queria sair do Egito. Lá nós tínhamos nossa vidinha sossegada. Mas não! Você e seu irmão vieram com esse papo de Javé, de Terra Prometida, o caralho a quatro! E agora, Moisés? E AGORA???
— Ca-calma, p-p-pe-pessoal! Ja-Javé v-v-vai d-dar um j-j-jeito!
— Que jeito??? Todo o exército egípcio está vindo de um lado, e do outro lado temos o mar. O que é que Javé vai fazer?
— O-oras! Ja-Javé v-vai… Va-vai… Ele v-v-v-vai… Pe-peraí um i-in-instantinho. — Pegou o celular e ligou pra Javé — Ô. Q-que cê va-vai fa-fazer m-m-mesmo?
— Ué, porque cê pergunta pra mim? Manda o povo andar na direção do mar.
— T-TÁ M-M-MA-MALUCO???
— Confia em mim, Moisés. Eu sou é deus! Levanta a sua vara em direção ao mar, e dê ordens ao povo para marchar naquela direção.
— M-Mas e a-aí??? Os e-e-egípcios t-tão ch-chegando!
— Ah, dá-se um jeito. Prestenção.
Deus então puxou uma tragada que queimou o baseado até o dedo, prendeu por um tempo e depois soltou a fumaça na direção de onde estavam os soldados egípcios. Ficou tudo escuro por lá e eles ficaram desnorteados.
— É agora, Moisés. Manda o povo marchar, que eles vão ver a melhor mágica de todos.
Moisés deu a ordem. O povo não queria, mas iam fazer o quê? O tal de Javé era maluco, capaz de aprontar mais uma.
E aprontou mesmo: De repente as águas começaram a se agitar sem razão aparente. Alguma coisa estava acontecendo, aquele movimento da água do mar não era normal. Alguma coisa começou a surgir. Uma estrutura. O que era aquilo?
Uma… Uma ponte?
— U-Uma po-ponte, J-Ja-Javé?
— “Uma ponte” não! Essa aí é a Ponte Rio-Niterói. Nessa época de seca esse trecho do Mar Vermelho tem só dez quilômetros de largura, dá e sobra pra vocês passarem por cima da ponte.
— Pu-puxa… Eu e-e-esperava que v-você f-f-fosse di-dividir o m-mar no me-meio?
— Acho que cê assistiu muito filme do Cecil B. DeMille. Não reclama, eu trouxe essa ponte de muito longe, no tempo e no espaço. Agora bota esse povo pra correr, que o fumacê não vai durar muito.
Dessa maneira o povo de Israel atravessou o mar. O exército egípcio veio atrás, mas quando estavam no meio da ponte, os hebreus já estavam a salvo do outro lado. Então deus levou a ponte de volta para o Rio de Janeiro e os soldados morreram afogados no Mar Vermelho.
* * *

— Governadora! Governadora! Acorda, governadora!
— Ô, mas que diabo! Não se pode dormir em paz. Que foi, metralharam a prefeitura de novo?
— Não senhora. Muito pior.
— Pior? O que foi? Desembucha!
— A ponte Rio-Niterói sumiu.
— A pon… Ah, vai à merda! Que brincadeira é essa? É coisa do Gugu, vieram me acordar? Cadê o Rodolfo e o ET?
— É serio, governadora. Vamos lá, a senhora vai poder conferir.
Pegaram o carro e em alguns minutos chegaram. A ponte estava lá, como sempre.
— Ah, pelamordedeus. Nem sei porque me dei ao trabalho de vir até aqui.
— Mas… Mas… A ponte tinha sumido, juro!
— Rapaz, você é muito bom assessor e tudo mais. Mas precisa parar com o que quer que esteja tomando. Tá afetando seriamente a sua cabeça.
— Mas… Mas…
— Mas nada. Me leva de volta pra casa, que eu quero ver se volto a dormir e continuo a sonhar com a queda do palanque do Garotinho. Ô, cena linda…

É ficção, ok? Eu e a Loira somos solteiros até demais. Esse negócio de casal bloguista tá começando a queimar meu filme com a mulherada. Eu tento ser galanteador e elas logo sacam um “Ué, mas você não namora aquela moça, seu sacripanta?”. Calma lá, calma lá!