É isso aí, galera, vamos acelerar isso aqui que eu quero ver se até o fim da semana termino o Gênesis.
Pois bem, um dia os filhos de Jacó foram apascentar os rebanhos do pai em Siquém. Cara-de-pau deles, já que eles haviam detonado a cidade, mas não vamos entrar nessa questão. O fato é que foram para lá. José, claro, não ia arriscar quebrar uma unha ou arranhar o joelho num negócio desses, então ficou em casa. Mas Jacó pediu que ele fosse até lá para trazer notícias dos irmãos, e lá foi a bichinha toda saltitante pela estrada que levava a Siquém.
Já em Siquém, uma bicha velha viu aquela gazela feliz que vinha pela estrada e foi falar com José.
— Que que cê tá procurando, bi?
— Ai, mona! Meus irmãozinhos! Disseram que estavam aqui em Siquém mas já procurei por todo lado e não acho os meninos. Cê não viu eles por aí não? São uns meninos lindos, estavam com umas ovelhas.
— Afe, e não vi? Cada bofe, minha filha, nossa! Acho que foram para Dotã, ouvi eles falando que iam para lá.
— Ah, brigadinha. Vou pra lá, então.
O viadinho pegou a estrada para Dotã. Os irmãos, que de fato estavam por lá, o viram de longe (claro, com aquela túnica toda colorida) e começaram a conspirar contra ele.
— Olha, cambada, lá vem a libélula sonhadora. Sabe o que a gente podia fazer? Matar ele e jogar numa cova dessas por aí. Depois a gente diz que algum bicho feroz comeu a bicha, e vamos ver se ele volta a sonhar.
Mas Rúben, o mais velho, ouviu a conversa e não gostou nada daquilo. O irmão viado o irritava também mas, porra, era irmão!
— Calma, meus irmãos, pra que isso? Pra que matar nosso irmão? Por que a gente não joga ele numa cova dessas vivo mesmo?
Não parece muita bondade, né? Mas o plano de Rúben era jogar o moleque numa cova e, quando os outros saíssem, tirá-lo de lá e levá-lo de volta à casa do pai. Os outros gostaram da idéia e logo que ele chegou trataram logo de arrancar a túnica dele.
— Ai! Ui! Não façam isso! Minha túnica não! Ai, tão linda! Cuidado com o strass! Olha as plumas!
Mas os outros não se comoveram: Jogaram a pobre bichinha numa cova e foram almoçar. Enquanto comiam, viram surgir um bando na estrada. Era uma caravana de ismaelitas que vinha de Gileade
— Gilliard?
— Porra, você de novo??? SAI DAQUI!

Ahan… Como eu dizia, a caravana vinha de GILEADE e levava especiarias para o Egito. Judá viu a caravana e teve uma idéia.

* * *

No fim do dia, Rúben voltou à cova para resgatar o irmão, esperando que com isso o moleque tivesse aprendido alguma coisa. Qual não foi sua surpresa ao constatar que José não estava mais lá. Ficou desesperado e rasgou as roupas. Não, seus hereges, não é viadagem: Era o costume da época e do lugar rasgar as vestes em sinal de luto. Rúben foi falar com os irmãos, desesperado:
— O moleque não está na cova! O que eu vou fazer?
Então eles mataram um cabrito, pegaram a túnica colorida de José e a tingiram com o sangue. Feito isso, mandaram a túnica para Jacó, com um recado dizendo que tinham encontrado a túnica e achavam que era de José. Jacó, claro, reconheceu a roupa que ele mesmo fizera.
— Meu filho! Meu filhinho foi despedaçado por algum animal!
Jacó rasgou suas vestes (em sinal de luto, lembrem-se) e lamentou a morte de José por muitos dias. Todo mundo tentava consolá-lo, mas ele não aceitava.
— Quero chorar até morrer, para encontrar meu filho no mundo dos mortos.
Que bicho foi esse que comeu José? Será que os dois se deram bem? Será que foram morar juntos? E existia união civil entre homossexuais naquela terra? Vocês saberão de tudo isso e muito mais no próximo capítulo.

Os Pikachus flutuantes já começaram com sua influência nefasta: Tive um pesadelo esta noite, um negócio meio Hotel California.
Uma senhora de meia-idade ia andando pela rua. Começou a chover muito forte e ela correu para dentro de uma escola para se proteger da chuva. Devia ser época de férias escolares no sonho, porque só havia três pessoas na escola: uma velha, que tinha cara de quem trabalhava na secretaria, um senhor que devia ser o bedel e uma servente. Receberam muito educadamente nossa amiga, a servente trouxe chocolate quente para ela, tudo uma beleza.
Enquanto esperava a chuva passar, ela foi dar uma volta pela escola. Aí é que o bicho começou a pegar, mas não lembro direito o que aconteceu. Ela começou a ouvir umas vozes, a sentir um vento frio. Tentava voltar para a secretaria mas não encontrava o caminho e sempre saía no mesmo corredor. Depois de muito lutar para achar o caminho, já assustada demais, acabou saindo por acaso na secretaria. Começou a contar o que acontecera. O bedel e a servente saíram em silêncio e a secretária ficou ouvindo. Terminada a história, a velha começou a rir, primeiro só um sorriso de canto de boca que foi crescendo até virar uma gargalhada meio maluca. Nessa hora a cara da velha mudou de alguma forma, mas não consigo lembrar direito. Acho que os olhos dela ficaram esbugalhados e meio amarelos. E as mãos dela eram como garras. Com um salto ela já estava com as garras no pescoço da mulher, sem parar de rir. As duas lutaram muito. A mulher perdeu um olho e estava muito machucada, mas conseguiu se desvencilhar da velha e correu para a saída. Quando já estava do lado de fora, ouviu a velha gritar “Você não pode sair, querida!”. Ela riu, afinal já tinha saído.
Aí aconteceu um negócio esquisito. Já na calçada, a chuva recomeçou e ela meio que perdeu o controle do próprio corpo. Voltou correndo para a escola, embora não quisesse fazê-lo de forma alguma. Entrou e lá estavam os três, que a cumprimentaram educadamente como da primeira vez. Ela sabia que não podia ficar ali, mas o corpo não obedecia. Ela queria gritar, mas só ouvia sua própria voz dizendo “Boa tarde, que chuva, não?”. E compreendeu que estava condenada a passar por tudo aquilo de novo, e de novo, e de novo…

Desde Lot que a gente não conta nenhuma história de bichinha, né? Então chegou a hora. Com um diferencial importante: Lot foi apenas coadjuvante das aventuras do titio Abraão (E ficava pensando: “Esse corno velho recebe todas as lantejoulas, sendo que eu sou muito mais cool que ele. Morra!”), enquanto José será nosso protagonista daqui até o final do Gênesis.
Pois bem, José era uma bichinha alegre de 17 anos de idade. Sendo ainda jovem, andava com os filhos de Bila (Dã e Naftali) e de Zilpa (Gade e Aser). Os irmãos tinham raiva dele, não por ser viadinho, mas por ser dedo-duro.
— Naftali, batendo punheta de novo? Vou contar pro pápi!
— Conta, viado. Conta, que eu falo pra ele que você vive suspirando pelo tio Esaú e chamando ele de “ursão”.
— Ui, Náfi, quanto veneno! Tava brincando, cruz-credo!
Pra aumentar ainda mais o ódio dos irmãos, José era o preferido de Israel [nota: a partir daqui o texto passa a tratar o cara ora como Jacó, ora como Israel]. Não por alguma qualidade que tivesse, mas por ser o primeiro filho de sua falecida esposa Raquel, a mulher que ele amara de verdade. Atendendo aos pedidos insistentes do filho, Israel fez para ele uma túnica toda colorida e José foi correndo mostrar para os outros.
— Olha só o que pápi fez pra mim! Vejam que tecido, que cores! Quanto brilho, reparem nos detalhes de strass [valeu, Dani!]. E essas plumas, que ar-ra-so!
Por essas e outras a raiva dos irmãos crescia a cada dia. Não conseguiam falar com o moleque numa boa. Batiam nele, mas nem isso valia a pena, porque ele corria pra contar pro “pápi”. E para foder tudo de vez, José resolveu dar para sonhador. Não, seus infames, não é nada disso que vocês estão pensando. Eu, hein? O que eu quero dizer é que José começou a ter uns sonhos cheios de significados. Podia muito bem guardar os sonhos para ele, mas a bichinha era meio burra e ia toda serelepe contar para os irmãos:
— Nosssssssssssssa, vocês não têm i-dé-ia do sonho que eu tive essa noite! Estávamos todos nós amarrando feixes no campo. Aí, olha que coisa mais esquisita, o meu feixe, que era muito mais lindo e vitaminado, todo cheio de paetês, ficava de pé, e os feixes de vocês rodeavam o meu e se inclinavam para ele, como se estivessem adorando ele! Olha que coisa doida! Que será que significa, gentem?
— Ô boiola… Cê tá querendo insinuar que nós vamos servir a você? Que você vai ser superior a nós?
— Ai, calma! Não sei de nada, tô só contando meu sonho! Afe…
Aí sonhou de novo na outra noite e veio contar, dessa vez para os irmãos e o pai.
— Ah, não. Vocês não vão a-cre-di-tar! Outro sonho esquisito, pode? Dessa vez estavam o sol, a lua e onze estrelinhas, todos se inclinando para mim. E eu estava lindo de morrer, com uma tiara deeeeeeeeeeste tamanho na testa, umas pulseiras enooooooooooooormes de ouro puro, uns…
— Queisso, Zezinho? — Repreendeu Jacó — Quer dizer que eu, sua mãe e seus irmãos vamos nos inclinar perante você? Não é muita pretensão sua não?
— Ai, pápi, tô só contando o sonho! Além do mais essa lambisgóia vesga não é minha mãe!
— Respeite Léia, que ela é vesga mas é a única que eu tenho.
Bom, acho que é desnecessário dizer que esses sonhos acabaram de vez com a relação de José com seus irmãos. A raiva que eles sentiam da bichinha era tanta que tramaram um jeito de se livrarem dele. Mas essa história fica pra outra ocasião.

Eu não falei? O capítulo 36 trata exclusivamente dos descendentes de Esaú, aquela coisa chata de Fulano gerou Sicrano que gerou Beltrano que habitou a Casa do Caralho. A única coisa que precisamos saber de todo o capítulo é que Esaú pegou tudo o que tinha e se mudou de Canaã, porque ele e Jacó possuiam bens e a terra ficou pequena demais para os dois. O lugar para onde ele se mudou veio a tornar-se o reino de Edom que, lembremo-nos, era o outro nome de Esaú.

A bíblia tem coisas estranhas. Há histórias que caberiam em dois parágrafos e ocupam capítulos inteiros. Por outro lado, temos trechos como essa segunda metade do capítulo 35 do Gênesis, em que várias acontecimentos da maior importância são contados em poucas linhas. Pela ordem:
1. Jacó e seu povo saíram de Betel em direção a Hebrom, onde Isaque morava. Faltando um pouco para chegarem a Efrata, Raquel entrou em trabalho de parto. O parto foi complicado, e Raquel morreu pouco depois do nascimento do menino. Antes de morrer ela ainda teve tempo de dizer que o nome do moleque seria Benoni, que significa Filho da minha dor. Mas Jacó era um filho da puta mesmo e não respeitou nem o último desejo da mulher que amava: rebatizou o filho como Benjamim, Filho de boa sorte. Boa sorte pra ele, porque a coitada da Raquel… Bom, Raquel foi enterrada no caminho de Efrata, e Jacó erigiu uma coluna ali. Acho que o túmulo de Raquel está lá até hoje. Ah, e mais tarde Efrata teve seu nome mudado para Belém (não, , não é sua terra. É a cidade onde Jesus nasceu.).
2. Ruben, o filho mais velho de Jacó, resolveu dar uns futucos em Bila, mãe de dois de seus irmãos. Jacó ficou sabendo, mas parece que não fez nada. Depois de Abraão e Isaque, alguém precisava manter a tradição chifruda da família.
3. Finalmente Jacó chegou a Hebrom para juntar-se aos pais e ao irmão Esaú. Isaque, nosso anti-herói autêntico (Jacó é só mais um pilantra) morreu aos 180 anos de idade e, assim como ele e Ismael passaram a vida toda separados e se juntaram para sepultar Abraão, foi sepultado por Esaú e Jacó.