José interpreta sonhos na cadeia

Pois muito bem, José foi preso injustamente. Ora, todos já percebemos que ele não ia querer nada mesmo com a mulher de Potifar, ela que era é uma tarada. Mas paciência, o fato é que ele foi pro xadrez.
Tempos depois, o copeiro do Faraó deve ter servido um vinho ruim ao soberano, porque foi parar na cadeia juntamente com o padeiro, que deve ter mandado pão amanhecido para a mesa do rei do Egito. O carcereiro entregou os dois aos cuidados de José, como fazia com todos os presos.
— Fiquem sossegados, meus queridos, vou tratá-los muuuuuito bem.
Naquela mesma noite os presos recém-chegados tiveram cada um um sonho, e ficaram impressionados. Pela manhã, José veio visitá-los.
— U-hu! Meninos! Bom dia, flor do dia! Acordem, seus preguiçosos, trouxe café para vocês, não deixem esfriar. Nooooooossa, que caras são essas? Parece que viram assombração! Contem aqui pro José, estou aqui pra isso.
— Ah, Seu José — começou o copeiro — tive o sonho mais esquisito hoje.
— Sonho? Menino, que coincidência! Adoro interpretar sonhos! Vem, senta aqui do meu lado e me conta tudinho!
— Tá. Foi o seguinte. Tinha uma videira. Nessa videira, três ramos. Aí a videira dava uvas maduras. O copo do Faraó estava na minha mão, então eu espremia as uvas no copo e dava o vinho para o Faraó beber. O que significa isso, Seu José?
— Ah, bobinho, que sonho fácil de interpretar! Olha só: Os três ramos são três dias. Daqui a três dias você estará com o copo do Faraó na mão novamente, quer dizer, ele vai te readmitir como copeiro. Viu que simples?
— Puxa! Obrigado, Seu José.
— Não precisa agradecer. Só te peço uma coisinha de nada: Quando você estiver de novo trabalhando, fala com o Faraó sobre o meu caso. Conta pra ele que estou preso injustamente, para ele me tirar desse lugar hor-ro-ro-so.
— Pode deixar, Seu José! Se isso tudo for verdade mesmo, a primeira coisa que eu vou fazer vai ser falar do senhor.
Impressionado com a interpretação do sonho do colega, o padeiro animou-se a contar o seu também:
— Pois meu sonho tem a ver com trabalho também, Seu José, será que eu vou voltar pro palácio? Sonhei que eu carregava na cabeça três cestos de pão branco. No cesto mais alto estavam os melhores pães, mas vinham os corvos e comiam tudo.
— Ai, padeiro, é muito triste a interpretação do seu sonho! Pobre menino, pobre menino! Os três cestos também são três dias. Daqui a três dias o Faraó vai te mandar executar, e os corvos vão comer a sua carne.
— Porra, Seu José, que merda de interpretação!
— É verdade, padeiro, mas não posso fazer nada. Mas veja pelo lado bom!
— Que lado bom? O Faraó vai me mandar matar, qual o lado bom disso?
— Ué! Cê não vai precisar falar com ele sobre o meu caso, que eu fui preso injustamente e agora estou…
— Ah, vá se sentar num mastruço!
— Quem me dera, menino! Quem me dera…
O caso é que três dias depois era aniversário do Faraó. Ele resolveu fazer uma festa, mas não tinha um copeiro para servir o vinho, então mandou trazer de volta o copeiro que estava preso. Ele voltou todo feliz e serviu bastante vinho. Quando já estava bem manguaçado, o Faraó se lembrou do padeiro.
— Hum… O padeiro… Maldito padeiro! O que foi mesmo que ele me fez? Ah, foi coisa muito ruim. Guardas! Enforquem o padeiro!
— Mas seu Faraó…
— Mas é um cacete! Enforquem!
Assim as interpretações de José mostraram-se verdadeiras. E não precisamos dizer que o copeiro em momento nenhum se lembrou de falar com o Faraó sobre José, porque todos já conhecemos muito bem a magnitude da ingratidão humana.

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