Hoje em dia ser irmão mais velho não é grande coisa. Pra falar a verdade, é uma merda. Mas naquele tempo era bem melhor: Os outros irmãos deviam respeito ao mais velho, e ele ainda recebia porção dobrada da herança. Ah, quem me dera meus irmãos me respeitassem só um pouquinho, já que herança não vai rolar mesmo…
Pois então, a regra era essa, mas Jacó era um vigarista cara-de-pau, e resolveu dar um golpe pra cima de Esaú.
Jacó estava na tenda e tinha acabado de preparar um guisado. Esaú chegou do campo morto de fome e cansaço, viu o prato na mão do irmão e pediu, ou melhor, mandou, porque irmão mais velho naquele tempo tinha voz:
— Ô, moleque. Me dá esse negócio vermelho aí que cê tá comendo. Tô cansado, com uma fome da porra, e você tá na boa, passa o dia inteiro só aí nas prendas domésticas.
— Quer comer, é? Nem a pau! Te dou o guisado mas só se você me der em troca seu direito de irmão mais velho.
— Direito de irmão mais velho de cu é rôla! Me dá isso aí, seu boiola!
— Nem fodendo! O direito de primogenitura primeiro!
— Tá, tá, moleque, tô com fome, não tenho tempo pras suas babaquices. Cê pode brincar de irmão mais velho, tá bom? Agora me dá esse guisado aí.
— Só se você jurar!
— O moleque do caralho! Juro, juro, me dá aí esse negócio vermelho pra eu comer, que eu tenho que voltar pro meio do mato.
Satisfeito com o juramento, Jacó entregou ao irmão um pão e o guisado de lentilhas. Esaú comeu com pressa, levantou-se e voltou para o campo.
Bom, que eu saiba lentilha é verde, então Jacó deve ter caprichado no colorífico Hikari pra deixar o guisado vermelho. E por causa da cor desse prato, Esaú ganhou o apelido de Edom, que significa vermelho.